O lucro líquido registrado pelo Bradesco nos nove primeiros meses deste ano, de R$ 4,051 bilhões, é o maior já registrado em toda a história do setor financeiro no país - independentemente do período considerado (nove meses ou resultado anual), mostra a consultoria Economática.
Até então, o lucro do Itaú em 2004 (de R$ 3,925 bilhões, ajustados pelo IPCA) era o recorde do setor. Ainda de acordo com a Economática, pelo quarto trimestre consecutivo o Bradesco apresentou um desempenho superior ao do Itaú, o que não acontecia desde 1995.
Pelo balanço divulgado nesta segunda-feira, o lucro do Bradesco de janeiro a setembro deste ano representou um aumento de 102,3% na comparação com o mesmo período de 2004. Só no terceiro trimestre deste ano, o ganho do maior banco privado do país chegou a R$ 1,430 bilhão, com aumento de 90% em relação ao terceiro trimestre de 2004. O lucro por ação é equivalente a R$ 8,26.
Com esse resultado, o valor de mercado do Bradesco mais que dobrou em relação a 2004. Passou de R$ 28,576 bilhões para R$ 51,6 bilhões, com alta de 143,3% de setembro de 2004 a setembro de 2005. No trimestre, o aumento foi de 30,5%.
Do total do lucro do Bradesco, 39% foram provenientes das operações de crédito da instituição, 26% na prestação de serviços, 30% nas atividades de seguro, previdência e capitalização e 5% em títulos e valores.
Nos últimos 12 meses, a carteira de crédito do Bradesco cresceu 25,5%, puxada pelo segmento de pessoas físicas (cuja participação no total passou de 31%, em setembro de 2004, para 41% neste ano). A instituição estima que essa variação de 25% será mantida até dezembro. Para 2006, a primeira meta divulgada é um aumento entre 20% e 25%.
Apesar dos sinais já registrados por economistas e consultores, o Bradesco não vê risco de quebra da atual tendência de alta do crédito.
- O cenário para o país continua positivo. Estimamos um crescimento de 4% para o PIB em 2006. Isso vai levar a uma queda dos índices de desemprego, aumentando a capacidade de as pessoas assumirem novos financiamentos - afirmou nesta segunda-feira o presidente do Bradesco, Marcio Cypriano, durante conferência para explicar os dados do balanço.
Da mesma forma, o executivo diz que o banco não vê neste momento sinais de aumento ou explosão dos índices de inadimplência. Ele aposta na maior eficiência na concessão do crédito, além dos efeitos da própria recuperação da atividade econômica. Dos R$ 75,2 bilhões da carteira de crédito (sem incluir avais e fianças), 93,1% estão classificados pelo "rating" AA a C (de menor risco de inadimplência), contra 89,6% da média do mercado.
- Se houver necessidade de ajustes no futuro, faremos isso. Mas por enquanto isso não é necessário - disse Cypriano.
A estratégia do Bradesco se baseia em parcerias com grandes grupos de varejo e a aquisição de carteiras ou mesmo de bancos de menor porte. O total de empréstimos através dessas parcerias, que somava pouco mais de R$ 89 milhões há um ano, chega agora a R$ 5,238 bilhões.
- Só no caso das Casas Bahia, saímos de zero em setembro de 2004 para R$ 750 milhões em junho deste ano e, agora, para R$ 1,5 bilhão. Ficou acima de todas nossas estimativas - afirmou o presidente do Bradesco.
Também segundo Cypriano, a aprovação de projetos como a nova Lei de Falência vai provocar uma queda dos "spreads "(diferença entre captação e empréstimo) bancários, que no caso das operações com pessoas físicas podem chegar hoje a mais de 50% ao ano.
Segundo ele, em algumas operações o Bradesco já teria reduzido seus "spreads" em função do menor risco de inadimplência. Em operações para o financiamento de casa própria até o valor de R$ 120 mil, os juros anuais são de 12% (além da correção da TR). No financiamento de veículos, algumas taxas chegam a 0,9% ao mês.- Na medida em que tenhamos maiores garantias, os "spreads" naturalmente irão cair - afirmou ele.