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Trainees

Mais valores, menos currículo e experiência

Para o processo seletivo de trainees deste ano, a Natura adotou uma estratégia audaciosa: escondeu o próprio nome durante o período de inscrições, em busca de candidatos realmente alinhados aos valores da empresa. Com o mote "a gente quer se apaixonar por você", a fabricante de cosméticos criou um hotsite e divulgou vídeos no YouTube sobre o programa, mas foi reticente no tipo de informação repassada ao candidato. Disse apenas que era uma das principais empresas do setor, informou a remuneração oferecida e estabeleceu um limite de tempo de formado (entre julho de 2005 a dezembro de 2009). De resto, não quis saber de currículo ou experiência nem restringiu a seleção a qualquer área de estudo.

"Afinal, se acreditamos que liderança não se impõe, se conquista, queremos que nossos próximos líderes não sejam atraídos pelo nosso nome ou pelo tamanho da nossa empresa, mas sejam conquistados pelos nossos valores", justifica a empresa no site do concurso.

A ideia da Natura parte de uma necessidade do mercado em conquistar funcionários que compartilhem as causas e o objetivo da empresa. "Uma demissão futura custa caro, então a escolha dos trainees é uma responsabilidade enorme para selecionar aqueles que realmente possam liderar no futuro", afirma Renata Schmidt, gerente da Focus Talento, responsável por programas de trainees e estágio.

"O que se nota na última década, pelos índices de contratação e demissão, é que grande parte das demissões, com exceção do período de crise, ocorre por questão de atitude. A atitude conta muito no ambiente de trabalho, é ela que faz que você consiga ou não transitar dentro da empresa. O que essa empresa (Natura) quis dizer é o seguinte: não quero que tentem falar minha língua, quero que já falem a minha língua", diz Marcelo de Araújo Cansini, coordenador do Núcleo de Em­­pregabilidade e Empreen­dedo­rismo do FAE Centro Universitário, em Curitiba.

Entre os candidatos, a iniciativa parece ter feito bastante sucesso. A única restrição era o medo de que a empresa se revelasse uma companhia não comprometida com a sustentabilidade. "Muita gente comentava que podia ser uma empresa de bebida ou de cigarro, que fez esse processo seletivo apenas para dar a ‘mᒠnotícia depois", conta a estudante de publicidade e propaganda Isabela Martins Rosa do Vale, de 21 anos, que está concorrendo a uma vaga. Para Daniela Souza, de 24 anos, formada em Ciências Contábeis pela Universidade Federal da Bahia, o interesse no programa surgiu justamente pelo mistério criado pela Natura. "No início era apenas curiosidade para saber qual era a empresa, mas ao ver o vídeo e a proposta me apaixonei pelo que me foi passado. A ideia de conhecer o candidato como pessoa e não como um simples currículo foi sensacional."

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