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O neurocirurgião Luiz Henrique Garcia Lopes atende em hospitais, dá aulas em universidade e divide consultório com o pai: “Até construir um nome, não é fácil” | Gilberto Abelha/Gazeta do Povo
O neurocirurgião Luiz Henrique Garcia Lopes atende em hospitais, dá aulas em universidade e divide consultório com o pai: “Até construir um nome, não é fácil”| Foto: Gilberto Abelha/Gazeta do Povo

Sobe e desce

Confira as especialidades mais e menos procuradas atualmente:

Em baixa

Pediatria

Há dez anos, 13,5% dos médicos for­mados no Brasil eram pediatras. Na dé­­­cada de 80, cerca de 25% dos estu­dan­tes de Medicina optavam pela pe­diatria. Hoje, só 6% fazem essa esco­lha.

Obstetrícia

A procura pela especialidade é tão pequena que a Universidade de São Paulo (USP) cogitou o fechamento do curso no início deste ano.

Em alta

Dermatologia

A possibilidade de incluir diversos procedimentos no tratamento aumenta a remuneração do profissional.

Endocrinologia

Com o aumento nos problemas de obesidade, diabete, colesterol e hipertensão, aumenta a procura por tratamentos endocrinológicos.

Há espaço para profissionais atualizados

Entre 2000 e 2009, o número de médicos no Brasil cresceu 27%, mais que o dobro do aumento populacional no período. Hoje, há 350 mil médicos em atividade no Brasil, duas vezes o mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esses dados poderiam levar à conclusão de que o setor de saúde está saturado, mas, pelo contrário, demanda cada vez mais profissionais.

Na raiz desse fenômeno se encontra o aumento da expectativa média de vida dos brasileiros, que, em duas décadas, passou de 67 para 72,6 anos. Os melhores postos estão reservados àqueles que continuam estudando e fazendo cursos de atualização depois de se formar. Uma pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp) mostrou que 72% dos médicos renunciam aos estudos depois que se formam.

"Hoje a atualização precisa ser semanal. Participar só de congressos anuais não dá mais", garante o pediatra com 40 anos de profissão Milton Macedo de Jesus. Para ele, as exigências da profissão hoje são maiores e a rentabilidade, menor. "A remuneração não é proporcional ao serviço que prestamos. O que acaba acontecendo é que alguns profissionais reduzem a qualidade do atendimento", lamenta.

Demanda

O Ministério da Saúde fez uma pesquisa em 2008 com diretores de hospitais públicos para saber para qual especialidade é mais difícil encontrar profissionais. Deu pediatria.

Há dez anos, 13,5% dos médicos formados no Brasil eram pediatras. Hoje só 6% optam por essa especialidade. "O médico faz uma consulta, mas nas semanas seguintes a criança volta a apresentar sintomas. Ele acaba fazendo três ou quatro consultas e recebe por uma só", comenta o o vice-presidente do CRM-PR, Alexandre Gustavo Bley.

O que tem atraído os médicos são especialidades cirúrgicas ou que envolvam procedimentos pagos à parte, que agregam valor à consulta, como a dermatologia.

Para o coordenador de Medi­cina da PUCPR, Emilton Lima Junior, esse processo é uma reação natural do mercado e obedece à lei da oferta e da procura. "Hoje entra menos pediatra no mercado. Quando começar a faltar esse profissional, ele passará a ser mais valorizado e voltará a ser alvo das especializações", prevê. (JG)

No século 19, o diploma de Medicina era símbolo de distinção social. Hoje, os salários acima da média e a relativa facilidade para entrar no mercado de trabalho são parte da explicação para a alta procura pela profissão. Mas o mercado já não é o mesmo, garantem especialistas. Quem quer ocupar boas vagas tem de apresentar um nível de especialização muito maior que há algumas décadas.

De acordo com um estudo feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV), os médicos com mestrado ou doutorado estão no topo da lista de chance de ocupação, com 93% de probabilidade de estar empregado. A Medicina está no topo das carreiras mais bem pagas do país, à frente de Administração, Direito, Ciências Econômicas e Contábeis e Engenharia, com remuneração salarial média de R$ 8.977 para mestres e doutores e R$ 6.705 para graduados. Em compensação, os médicos também lideram a lista do número de horas trabalhadas por semana, com uma jornada média de 52 horas.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é o maior empregador e absorve boa parte dos profissionais devido à alta demanda. Apesar da média salarial apontada pelo estudo da FGV, há vagas no serviço público que pagam apenas R$ 1,5 mil para uma jornada de 40 horas semanais. "Além de não oferecer bons salários, os concursos públicos, muitas vezes, não dão condições adequadas de trabalho", diz o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina, Alexandre Gustavo Bley.

A Medicina é um dos cursos mais concorridos no vestibular. No último da Pontifícia Uni­versidade Católica do Paraná (PUCPR), um em cada três inscritos pretendia ser médico. "Todos os que entram saem formados. Não há desistência", garante o coordenador do curso de Medicina da PUCPR, Emilton Lima Junior. Quem decide cursar Medicina em universidade particular paga o valor de um apartamento – na PUCPR, a despesa é de aproximadamente R$ 250 mil. Para ter o retorno desejado, não adianta ficar só com a graduação. "Antes, o diploma de médico era suficiente. Hoje, se não tiver uma especialização, o profissional tem dificuldade para iniciar uma carreira", afirma Lima Junior.

Para começar

O Paraná tem hoje 18.919 médicos e, a cada ano, cerca de 900 novos profissionais se formam nas dez faculdades de Medicina do estado. Esses recém-formados investem, normalmente, em três segmentos iniciais: plantões, emprego público ou privado e consultório próprio.

Manter um consultório não costuma ser a opção de quem está começando. Para pagar todas as despesas de manutenção, é preciso fazer um número alto de consultas por mês e "ter um nome". Depois de 12 anos se preparando para exercer a profissão, o neurocirurgião Luiz Henrique Garcia Lopes está no mercado há três. Ele conta que, mesmo tendo feito especialização na França, o início na profissão não foi dos mais simples. "Eu atendo em hospitais, dou aula na UEL [Universidade Estadual de Londrina] e tenho consultório com meu pai. Mas, até construir um nome, não é fácil", conta.

Em breve, Lopes vai superar mais um obstáculo para se consolidar no mercado – a associação a um grande plano de saúde. "A maior parte dos pacientes são conveniados à Unimed e, para se associar a ela, leva três anos", diz Lopes, referindo-se ao tempo mínimo de experiência exigido pela Unimed Londrina para o ingresso na cooperativa.

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