| Foto: Bigstock/

No DeutscheBank, em São Paulo, uma sala colorida e aromatizada está sempre aberta para os funcionários. De terça a sexta-feira, a empresa promove sessões de meditação em dois horários para evitar que a correria cotidiana atropele a concentração e o bem-estar de seu pessoal.

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A técnica utilizada pelo banco é o mindfulness. Cada vez mais comum no meio corporativo, o método, que, em português, quer dizer ‘atenção plena’, tem por objetivo manter as pessoas no presente e longe de divagações - sobretudo, as negativas.

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A crescente busca pelo foco faz todo sentido. Um estudo da Universidade de Harvard, por exemplo, mostrou que, enquanto estão acordadas, as pessoas passam, em média, 46,9% do seu tempo perdidas em pensamentos soltos. Em outras palavras, vivem quase metade dos seus dias “no mundo da lua”. O mais grave é que, segundo a pesquisa, a maioria destas ideias tende a deixar os indivíduos infelizes. E esse é um dos principais pontos que justificam o mindfulness como receita para melhorar o cotidiano nas organizações.

Conforme explica Eduardo Farah, proprietário da Invok, que oferece sessões de mindfulness para grandes empresas, como as lojas Renner e a rede de hotéis Bristol, o método ajuda a driblar pensamentos ruins, a lidar melhor com os próprios sentimentos e a alcançar a maior racionalidade possível em cada ação.

Eduardo ilustra esse processo ao citar a raiva. Segundo ele, a maioria das pessoas, quando fica enraivecida, guarda essa sensação e tende a remoê-la vez e outra, o que causa sofrimento. Quem aprende a trabalhar a mente e a olhar para aspectos positivos da vida consegue alcançar um equilíbrio.

Nas empresas, estes benefícios estão muito ligados ao conceito de inteligência emocional,bastante discutido nas organizações, segundo Eduardo. Na visão do especialista, ter as emoções sob controle é tão importante quanto dominar a técnica do trabalho. E o foco é fundamental para alcançar esta harmonia.

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Meditação “fast-food”?

Aplicada em grandes companhias, como o Google e o Linkedin, o mindfulness nas empresas é uma tendência mundial. Mas, com esta popularização, também nasceram críticas. Muitos jornais chegaram a se referir à prática como McMindfulness, associando a técnica como uma alternativa de saúde rápida e superficial, um “fast-food” contra o estresse.

Para o coach e fundador do Instituto Gestão Consciente, João Cosenza, isso acontece porque muitas empresas aderem à técnica por puro modismo, sem se prepararem para isso. João alerta que, para começar a meditar, os profissionais devem entender que a prática será importante para sua vida e acreditar na ideia. Também é fundamental que a companhia busque profissionais qualificados e ofereça uma estrutura propícia para as atividades.

O profissional explica que, uma vez focadas e longe de ideias ruins, o funcionário tem muito mais chances de se tornar um líder inspirador e empático, um trabalhador engajado e um ser humano feliz.

Produtividade

Outro ganho da meditação se diz respeito à produtividade. Eduardo lembra que, em grande parte das empresas, as salas de reuniões estão sempre lotadas, e se perde muito tempo em conversas longas e improdutivas. “Muitos ficam presos ao smartphone, várias discussões surgem sem foco e as organizações são prejudicadas com isso”, explica. Quando se promove algo para reforçar a concentração das equipes, todo mundo ganha.

Resultados

O DeutscheBank utiliza a técnica há dois anos. Segundo a responsável pela área de Recursos Humanos da empresa para a América Latina, Cristina Aiach, mais de 50 pessoas meditam semanalmente e o feedback dos funcionários é sempre positivo. “Os benefícios surgem naturalmente, as pessoas se sentem melhor, o dia a dia fica mais leve”, conta.

O banco possui um cronograma de sessões, que é preenchido toda segunda-feira pelos colaboradores. No momento da atividade, os meditadores entram na sala reservada às práticas de mindfulness, se sentam nos pufes e se concentram durante 15 minutos na meditação guiada por aplicativos de celular. A empresa também oferece biscoitinhos e chás naturais.

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Para Cristina, em um mundo tão automatizado, as pessoas param cada vez menos para pensar nos próprios atos e a prática contínua do mindfulness ajuda a refletir sobre si mesmo e sobre a própria vida. “É sempre bom sair do ‘automático’”, brinca.

Meditação e ciência

Apesar de a meditação estar presente em várias religiões, como o hinduísmo e o budismo, o mindfulness é uma técnica de base científica, segundo Eduardo. O assunto vem sendo estudado pela ciência desde o final da década de 1970 e várias descobertas foram feitas desde então.

A pesquisa mais conhecida sobre o tema foi a médico Jon Kabatt-Zinn, que, na década de 1970, analisou a eficácia do método em pacientes com doenças crônicas. O especialista é pioneiro em estudos sobre o assunto

Em 1995, estudiosos da Universidade de Massachusetts mostraram que a meditação de atenção plena reduz o risco de depressão e ansiedade.Em 2013, um estudo da Universidade de Utah mostrou que o método pode melhorar a qualidade do sono

No mesmo ano, uma pesquisa da Universidade da Califórnia revelou que o mindfulness melhora a habilidade de leitura, trabalha a memória, o raciocínio e o foco.

Em 2014, um estudo da Universidade Carnegie Mellon, na Pensilvânia, mostrou que a técnica é realmente capaz de reduzir o estresse.