São 160 funcionários, distribuídos em 40 equipes e nenhum chefe. Sem qualquer estrutura hierárquica, o portal Vagas.com, em São Paulo, é uma das empresas brasileiras que aderiram ao modelo horizontal de gestão, onde todas as decisões são tomadas coletivamente. Mas, o sistema que a muitos pode parecer o paraíso está longe de ser simples. Conforme define Mario Kaphan, sócio-fundador da empresa, todo mundo ali faz o que quer, mas tem tudo a ver com isso.
A responsabilidade redobrada é um fator-chave para o colaborador que se propõe a trabalhar sob um sistema de autogestão. Mas, não é o único. Quem aceita o desafio precisa ser crítico o bastante para opinar até mesmo sobre aspectos que não concernem a sua área. Ao mesmo tempo, segundo Mário, deve estar aberto a críticas e mudanças. “O esquema horizontal pressupõe o prazer do desapego. Deixar uma ideia sua para reconhecer e aproveitar uma melhor ainda deve ser algo espontâneo”, explica.
Segundo o coordenador do curso de administração da Universidade Tuiuti do Paraná, Maurício Pazello Jaques, outras competências comuns a quem se adapta a estruturas sem chefe são o senso de urgência e a facilidade para se comunicar. O especialista ressalta que o profissional deve gerir bem o próprio tempo e estar em constante diálogo com sua equipe, já que, em casos como este, há uma densa pluralidade de interlocutores.
Instabilidade
Outro passo importante para se adaptar ao ambiente horizontal é se desprender da zona de conforto. De acordo com o coordenador do MBA em Gestão de Projetos da ESIC Business & Marketing School, Thiago Ayres, por ter como foco o cliente e a geração de valor para o mercado, que vivem em transformação, esse modelo é muito dinâmico e isso assusta muita gente, trazendo certo desconforto.
Satisfação conta no horizontal ou vertical
Será que vou ser feliz nesta empresa? É o que o profissional deve se perguntar antes de se candidatar a uma vaga, seja em um sistema horizontal ou vertical. Segundo o coordenador do curso de administração da PUCPR, Allan Esron Pereira Inácio, toda organização é um ecossistema independente, onde os profissionais precisam estar à vontade e unidos por objetivos afins. Por isso, conhecer a si mesmo e a forma de trabalho da empresa onde você atua ou quer atuar é um bom ponto de partida. ”Embora haja quem goste de inovação, há um perfil tradicional que prefere a estabilidade de um sistema vertical”, destaca.
Embora poucas empresas fujam ao que é tradicional, grande parte das características do indivíduo adaptável a uma gestão horizontal são bem vistas não apenas por instituições arrojadas, de acordo com Allan. Para o professor, pessoas de perfil proativo e altruísta, com boa comunicabilidade, visão estratégica, dinamismo e flexibilidade são as mais buscadas pelas grandes companhias. “É importante trabalharmos estas potencialidades em nós o quanto antes. Porque o mercado não espera”, ressalta.