Empresas de gestão horizontal, como a Vagas.com, tendem a buscar profissionais dinâmicos e empreendedores| Foto: Divulgação

São 160 funcionários, distribuídos em 40 equipes e nenhum chefe. Sem qualquer estrutura hierárquica, o portal Vagas.com, em São Paulo, é uma das empresas brasileiras que aderiram ao modelo horizontal de gestão, onde todas as decisões são tomadas coletivamente. Mas, o sistema que a muitos pode parecer o paraíso está longe de ser simples. Conforme define Mario Kaphan, sócio-fundador da empresa, todo mundo ali faz o que quer, mas tem tudo a ver com isso.

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A responsabilidade redobrada é um fator-chave para o colaborador que se propõe a trabalhar sob um sistema de autogestão. Mas, não é o único. Quem aceita o desafio precisa ser crítico o bastante para opinar até mesmo sobre aspectos que não concernem a sua área. Ao mesmo tempo, segundo Mário, deve estar aberto a críticas e mudanças. “O esquema horizontal pressupõe o prazer do desapego. Deixar uma ideia sua para reconhecer e aproveitar uma melhor ainda deve ser algo espontâneo”, explica.

Quer entrar para uma empresa horizontal? É preciso preparo.

1) Avalie a instituição onde pretende atuar. Pesquise aspectos como a história e os valores.

2) Busque se conhecer: seu perfil é mais altruísta ou egocêntrico? Você lida bem em equipe? Qual o seu nível de proatividade?

3) Fortaleça suas principais competências. Trabalhe o que te falta. Se você não gosta que interfiram em suas ideias, por exemplo, o orgulho excessivo é um ponto a ser abandonado daqui para frente.

4) Entenda como as pessoas o enxergam. No sistema horizontal, você lida com muitos interlocutores e a opinião deles importa muito.

5) Enxergue a empresa de maneira ampla e esteja apto a sugerir melhorias.

6) Nunca se acomode.

7) Seja criativo, mas não muito apegado às próprias ideias. Tudo o que você faz é para um bem maior que seu ego.

8) Esteja certo de que você estará feliz gerindo seu próprio trabalho.

9) Aja com transparência.

10) Trabalhe com paixão.

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Segundo o coordenador do curso de administração da Universidade Tuiuti do Paraná, Maurício Pazello Jaques, outras competências comuns a quem se adapta a estruturas sem chefe são o senso de urgência e a facilidade para se comunicar. O especialista ressalta que o profissional deve gerir bem o próprio tempo e estar em constante diálogo com sua equipe, já que, em casos como este, há uma densa pluralidade de interlocutores.

Instabilidade

Outro passo importante para se adaptar ao ambiente horizontal é se desprender da zona de conforto. De acordo com o coordenador do MBA em Gestão de Projetos da ESIC Business & Marketing School, Thiago Ayres, por ter como foco o cliente e a geração de valor para o mercado, que vivem em transformação, esse modelo é muito dinâmico e isso assusta muita gente, trazendo certo desconforto.

Satisfação conta no horizontal ou vertical

Será que vou ser feliz nesta empresa? É o que o profissional deve se perguntar antes de se candidatar a uma vaga, seja em um sistema horizontal ou vertical. Segundo o coordenador do curso de administração da PUCPR, Allan Esron Pereira Inácio, toda organização é um ecossistema independente, onde os profissionais precisam estar à vontade e unidos por objetivos afins. Por isso, conhecer a si mesmo e a forma de trabalho da empresa onde você atua ou quer atuar é um bom ponto de partida. ”Embora haja quem goste de inovação, há um perfil tradicional que prefere a estabilidade de um sistema vertical”, destaca.

Embora poucas empresas fujam ao que é tradicional, grande parte das características do indivíduo adaptável a uma gestão horizontal são bem vistas não apenas por instituições arrojadas, de acordo com Allan. Para o professor, pessoas de perfil proativo e altruísta, com boa comunicabilidade, visão estratégica, dinamismo e flexibilidade são as mais buscadas pelas grandes companhias. “É importante trabalharmos estas potencialidades em nós o quanto antes. Porque o mercado não espera”, ressalta.

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O papel da empresa

Na Vagas.com, o foco no perfil de colaborador proativo já começa na seleção. Mário explica que a companhia sempre opta por gente interessada em viver uma experiência nova e, não raro, contrata candidatos que já atuaram em funções de liderança, mas buscam algo diferente. No intuito de manter o equilíbrio entre os muitos interlocutores e sustentar essa estrutura tão diversa, a empresa fomenta estratégias de feedback.

Para André Caldeira, CEO da Propósito, consultoria especializada em gestão de carreira e talentos sênior, investir em uma cultura de feedback é mesmo uma importante estratégia. O especialista reforça que os profissionais devem ser submetidos a avaliações frequentes de potencial e maturidade, para verificar aspectos como o grau de engajamento com os valores da empresa, por exemplo. “A pessoa deve comparar como ela se enxerga e como ela é percebida pela equipe em que se insere. Isso a fará alinhar melhor seus valores ao que se espera dela”, explica.