Mesmo com os homens adotando o meio período, as feministas holandesas se preocupam com o dano permanente que isso teria sobre as mulheres. Três quartos das mulheres holandesas que trabalham são funcionárias em meio período, em comparação com 41% na União Europeia e 23% nos Estados Unidos, de acordo com Saskia Keuzenkamp, do Netherlands Institute for Social Research.
A taxa de emprego das mulheres holandesas é alta (70%), mas elas trabalham, em média, não mais que 24 horas por semana. O comportamento cobrou um preço duradouro sobre a independência financeira das mulheres. Mais da metade 57% é considerada financeiramente dependente, ganhando menos de 70% do salário mínimo bruto, ou US$ 1,3 mil por mês. Apenas quatro dos 20 membros do ministério holandês são do sexo feminino e 60% das empresas listadas na bolsa de valores Euronext Amsterdam não têm mulheres em suas diretorias.
De acordo com Ellen de Bruin, autora do livro Por que as holandesas não entram em depressão (em tradução livre), as holandesas parecem não se importar muito. Ela observa que 96% dos holandeses que trabalham em meio período afirmam em pesquisas que não querem trabalhar mais. A Holanda é o raro país onde mesmo levando o trabalho doméstico e o cuidado das crianças em conta as mulheres trabalham menos que os homens. Um estudo de 2006 mostrou que apenas 16% das holandesas das áreas urbanas pretendem chegar ao topo e apenas 10% sacrificariam o tempo com a família por uma carreira. "Nós sempre temos um baixo desempenho nos rankings de igualdade de gênero", afirma De Bruin, uma jornalista. "Mas estamos no topo no ranking de felicidade", acrescenta.
Concentração feminina
Por enquanto, o trabalho por meio período continua a ser mais arraigado em áreas onde as mulheres estão fortemente representadas. Dos 85 especialistas do Hospital Judeu Amstelland Ziekenhuis, ao sul de Amesterdã, 31 são do sexo feminino e dois terços trabalham em meio período. Até alguns cirurgiões trabalham assim, tornando uma luta diária o tratamento de pacientes por vários médicos. "Isso seria impensável há dez anos", diz Jacques Moors, presidente do hospital. "Se insistíssemos em ter cirurgiões em tempo integral, teríamos um problema com o pessoal: três em cada quatro dos nossos médicos júniores são do sexo feminino", explica.
Nos campos dominados pelos homens, o cenário é mais misturado. Após Martina Dopper, engenheira civil da empresa Ballast Nedam, adotar a semana de três dias em 2007, a companhia deixou subentendido a ela que o trabalho por tempo parcial significaria a ausência de promoção. Em dezembro, ela foi promovida. "Espero que isso signifique que mais de meus colegas do sexo masculino tenham a oportunidade de passar mais tempo com suas famílias", diz. Até agora, porém, o seu marido também engenheiro não se atreveu a seguir o mesmo caminho, por medo de comprometer sua carreira.