Curitiba Desde que anunciou que já estava desenvolvendo seu próximo videogame, a Nintendo, uma das mais tradicionais empresas do ramo, vem prometendo uma revolução na forma de jogar. A primeira prova de como a empresa vê o futuro dos jogos eletrônicos veio à tona na última Tokyo Game Show, a maior feira da indústria. Trata-se do controle do Revolution, que só chegará ao mercado no fim de 2006.
Enquanto a Sony, com Playstation 3, e a Microsoft, com o Xbox 360, se engalfinhavam com os aspectos técnicos de seus consoles, gastando milhões de dólares para demonstrar superioridade de hardware, a Nintendo nada contra a corrente e, mais uma vez, tentará uma tática que já se tornou recorrente em sua história: inovar.
E o seu novo controle, apresentado na semana passada, é um belo exemplo de como a empresa criadora dos irmãos Mario enxerga o mercado de entretenimento eletrônico. Com visual inspirado nos iPods da Apple, o joystick da próxima geração vem causando muita comoção entre os mais aficcionados. Simplesmente porque o novo conceito é completamente diferente dos controles feitos nos últimos 20 anos.
Aparentemente o joystick do Revolution lembra um controle remoto de televisão. Porém, com design super arrojado e limpo. Fisicamente, ele possuiu um direcional digital, um botão no estilo gatilho na parte de trás, mais alguns poucos botões e nenhum fio. Mas é no conceito que se esconde a revolução propagada. Por incrível que pareça, o estranhamento estético é menor que o causado na forma de jogar. A empresa quer transformar o controle numa espécie de mouse 3D.
Para Renato Noviello, jogador fanático pela Nintendo e que mantém o site The Nes Archive (www.nes.com.br), a jogabilidade proposta pela empresa japonesa é algo diferente de tudo o que já se viu. "O produto vai trazer para a realidade mais ou menos aquele conceito de jogos virtuais, só visto antes em filmes ou desenhos animados. Jogar agora vai cansar também fisicamente" analisa.
De acordo com as primeiras informações e imagens, o controle capta os movimentos da mão do jogador e os transforma em comandos. Desta forma, se um jogo de luta o personagem usar uma espada, a forma de jogar seria como se estivéssemos com a arma na mão. Se o jogo for de aeronave terá que segurar o controle como um aviãozinho de papel.
A Nintendo também pensou nas capacidades de expansão de seu produto. Os mais diferentes itens poderão ser conectados ao controle. Como um direcional analógico ou cartões de expansão.
Apesar de toda a atenção estar em cima do enigmático controle, a empresa também liberou mais detalhes de seu próximo console. A divulgação de que o Revolution será retro-compatível com quase todos os consoles já fabricados pela Nintendo causou comoção nos seguidores da marca. NES, Super NES e Nintendo 64 são as primeiras plataformas anunciadas que serão compatíveis com o novo produto.
Nintendismo
A Nintendo, assim como a Apple, é o tipo de empresa que consegue criar fãs ao invés de simples consumidores. Existe toda uma cultura criada em torno de Mario, Zelda e Metroid, alguns dos jogos com maiores sucessos da empresa.
Noviello é o tipo de pessoa que pode ser chamada de "nintendista", um torcedor e apaixonado pela empresa. Participa de fóruns pela internet, acompanha todas as novidades e compra compulsivamente todos os produtos ligados a marca. O NES, o primeiro console comercial da empresa, é a sua maior paixão. Este também foi o seu primeiro contato com o mundo dos jogos. "Eu tinha apenas 3 anos quando meu pai trouxe o console dos EUA" relembra.
"A Nintendo esteve mais intensamente presente na minha vida. Mas não me envolvi somente com ela. Já tive muitos consoles da Sega, por exemplo. Porém, foi a Nintendo que mais me surpreendia e criava aquela tentação sobre seus jogos."
Outro fã ardoroso e "nintendista" roxo é o também estudante Fabio Ribeiro Hakoyama, de 20 anos. Ele teve seu primeiro contato com a produtora japonesa há 14 anos, também com um NES.
Um sentimento comum nos dois "nintendistas" é o reconhecimento que a Nintendo sempre pensa mais no usuário final do que no mercado. Apesar de cair no ranking dos mais vendidos na última década, a empresa, que já chegou a ter mais de 90% do mercado mundial de videogames, continua desenvolvendo títulos cada vez mais voltados a diversão lúdica de seus usuários. Para Noviello, "a criatividade, a busca pelo novo e aquela pitada de nostalgia e tradicionalismo" são as principais características que o motivaram a ser um seguidor fervoroso dos jogos da empresa.
Em meio a tanta inovação e criatividade, a Nintendo também já colecionou produtos que foram verdadeiros fracassos. Exemplo disso foi o "Virtual Boy", um "portátil" que levava a realidade virtual aos seus usuários. O aparelho, que não teve nenhum apoio das produtoras, saiu do mercado logo após o seu lançamento. A bazuca "Super Scope", item disputado por colecionadores, era um dos acessórios mais desejados em sua época. Porém a falta de bons jogos, o preço e principalmente a ergonomia fizeram com que o produto entrasse para a lista das falecidas boas idéias da empresa.