Após passar anos tentando progredir na carreira, o engenheiro automobilístico Kenichi Horie trocou o Japão por Taiwan| Foto: Chao-Yang Chan / The New York Times

Falta de ambição é problema

Muitos cientistas sociais afirmam que a economia em baixa ajudou a manter o sistema ultrapassado de empregos. Uma pesquisa on-line feita por estudantes da Universidade Meiji com jovens entre 18 e 22 anos constatou que dois terços deles acreditam que os jovens japoneses não assumem riscos ou enfrentam novos desafios; em vez disso, eles se tornaram uma geração de "introvertidos", satisfeitos ou resignados a viver uma vida sem ambição.

Leia a matéria completa

CARREGANDO :)

Tóquio - Kenichi Horie tinha uma carreira promissora como engenheiro automobilístico, o tipo de talento de que o Japão necessita para manter sua vantagem diante dos rivais coreanos e chineses. Aos trinta e poucos anos, Horie era funcionário de uma grande montadora de automóveis e havia sido muito elogiado por seu projeto de sistemas avançados de biocombustíveis. Entretanto, como muitos outros jovens japoneses, ele era um trabalhador irregular, contratado para um emprego temporário, com menos segurança e metade do salário dos funcionários "regulares", que já têm em média 50 anos.

Depois de mais de uma década tentando regularizar seu status, Horie finalmente pediu demissão – não apenas do emprego temporário, mas também do Japão. Ele resolveu se mudar para Taiwan há dois anos para estudar chinês. "As empresas japonesas estão desperdiçando as gerações mais jovens a fim de proteger os mais velhos. No Japão, as portas se fecharam para mim. Em Taiwan, dizem que meu currículo é perfeito", afirma Horie.

Publicidade

Declínio

O Japão é uma superpotência em declínio, que precisa desesperadamente aumentar a produtividade e aproveitar a energia empreendedora do número cada vez menor de jovens. No entanto, o país parece fazer exatamente o contrário, o que contribui para o baixo crescimento e para crescentes gastos com aposentadorias. "Há um sentimento entre os jovens de que não importa o quanto nos esforcemos, não conseguimos progredir", afirma Shigeyuki Jo, 36 anos, coautor do livro The Truth of Generational Inequalities ("A verdade sobre as desigualdades entre gerações"). "Parece que todos os caminhos estão bloqueados e estamos batendo nossas cabeças contra a parede", diz.

Os sociólogos advertem que a população mais velha está atravancando a economia do país por causa dos seus interesses, tornando ainda mais rígida e conservadora uma sociedade que historicamente preza a hierarquia. O resultado é que o Japão acaba marginalizando e impedindo o avanço da juventude em um momento no qual precisa deles para criar novos produtos e empresas, necessários ao crescimento econômico.

Os números do emprego mostram a situação desvantajosa dos jovens japoneses. As décadas de estagnação econômica resultaram no aumento dos empregos irregulares para todas as idades, mas os jovens foram os mais prejudicados. No ano passado, 45% dos profissionais com idades entre 15 e 24 anos estavam em empregos irregulares, duas vezes mais do que os empregados mais velhos. Em 1988, a taxa era de 17,2%.

Mercado engessado

Publicidade

A mídia japonesa está repleta de relatos sobre a segunda "era do gelo" do mercado, enfrentada pelos profissionais em início de carreira. Atualmente, apenas 56,7% dos universitários recebem ofertas de emprego antes de se formarem, o pior resultado já registrado. "O Japão apresenta a maior desigualdade entre gerações do mundo", diz Manabu Shimasawa, professor de sociologia da Universidade de Akita, que já escreveu vários artigos sobre o tema. "O país perdeu a vitalidade porque as gerações mais velhas não querem se retirar do mercado para permitir que os jovens tenham a oportunidade de enfrentar desafios e crescer", acrescenta ele.

Embora muitos países enfrentem o envelhecimento de seus habitantes, a crise no Japão é particularmente severa. A previsão é de que 40% da população do país terá mais de 65 anos em 2055. As disparidades se manifestam de várias maneiras. Kenichi Horie descobriu que algumas corporações admitem jovens recém-formados para cargos mal-remunerados e sem perspectivas de crescimento, obrigando-os a arcar com os custos de preservar os confortáveis cargos dos funcionários mais antigos. Outras apontam para um sistema de pensões subfinanciado a favor dos mais velhos, que muitos jovens profissionais simplesmente se recusam a pagar. A chamada "democracia de prata" gasta muito mais com os idosos do que em escolas e creches. Por fim, as políticas ultrapassadas de contratação criaram uma "geração perdida" privada de seus direitos.

Sociólogos afirmam que a necessidade de cortar o elevado déficit orçamentário significa que as gerações mais novas jamais receberão o nível de benefícios dos aposentados de hoje. Os cálculos mostram que uma criança nascida hoje deverá receber até US$ 1,2 milhão a menos de pensão, assistência médica e outros benefícios durante sua vida, do que um aposentado recebe atualmente. Somente no sistema de pensões, a diferença chega a centenas de milhares de dólares. O resultado é que os jovens japoneses estão deixando o país em massa: metade dos profissionais com menos de 35 anos está deixando de pagar a previdência, mesmo que isso signifique um futuro sem aposentadoria.