"Precisamos de soldador com experiência ou curso na área." O anúncio poderia estar publicado em qualquer seção de classificados, mas é divulgado nas ruas de Sarandi, na região metropolitana de Maringá (Noroeste do estado), em um carro de som, ao melhor estilo "carro da pamonha" e "carro do sonho".
Esse tipo de divulgação alternativa foi adotado por algumas empresas da cidade, que vêm enfrentando dificuldades para encontrar mão de obra qualificada. Desde que passou a anunciar vagas de emprego, o carro de Francisco de Oliveira Miguel "Tito" um Fiat 147, ano 1985, de cor bege e com adesivos de tigre vem chamando mais atenção do que muito carro novo na cidade.
"Basta passar na rua para o pessoal ficar atento", afirma Tito. Um dos que pararam para ver e ouvir o carro foi o comerciante José da Silva, que ficou "faceiro" com a nova forma de divulgação: "Só não trabalha quem não quer. Hoje o emprego vem na porta. Tá vendo que beleza?"
Uma das empresas que adotou esse método para encontrar trabalhadores foi a fábrica de carretas Noma do Brasil. De acordo com a coordenadora de Recursos Humanos da Noma, Sandra Bassani Teixeira, as medidas tradicionais de recrutamento não estavam suprindo a necessidade da empresa, que está em processo de ampliação do quadro de funcionários. "Nós estávamos informando as vagas na Agência do Trabalhador, mas o retorno não foi tão positivo. Então, além de anunciarmos nos meios de comunicação, também decidimos apostar em formas diferentes, como o carro de som, panfletos e cartazes", explicou.
A medida teve retorno e a empresa conseguiu preencher mais de cem vagas. Um dos selecionados foi o auxiliar-geral Pedro Thiago da Silva, de 20 anos, que antes de ser contratado chegou a procurar emprego com colegas e na Agência do Trabalhador. No entanto, a oportunidade somente "bateu à porta" quando o "possante" do seu Tito passou fazendo barulho: "O carro de som anunciou em frente ao serviço da minha mãe, que me avisou da vaga. Se não fosse assim, possivelmente não ia ficar sabendo".
Criatividade
Sem mão de obra disponível, a área de confecções também reforçou a busca por funcionários. A fábrica de lingerie Recco, de Maringá, partiu para métodos pouco convencionais de atrair a atenção de possíveis colaboradores.
Uma das alternativas foi a criação de um ponto de cadastramento no terminal de ônibus da cidade. Para a costureira desempregada Dolores Borges, foi como uma chance que caiu do céu. Quando passava pelo local, aproveitou para incluir o seu nome e o da filha na lista de candidatas. "Ninguém oferece emprego no meio da rua assim não", disse surpresa.
A Recco também aproveitou para colocar uma faixa no portão da empresa, anunciando vagas de costureira. "Se somente abrirmos a vaga e ficarmos esperando, a demora é muito grande. Quando se trata de produção, precisamos ter agilidade no fechamento da vaga", explicou Caroline Albino, encarregada da área de Recursos Humanos da Recco, em entrevista para a RPC TV.
A empresa também aposta nos próprios funcionários para conseguir contratar mais gente. Quem indica um futuro colega ganha prêmio em dinheiro. Desde o início do ano, mais de 30 pessoas foram admitidas por esse sistema. Três delas passaram pela sugestão da costureira Fernanda da Silva, que conseguiu um ganho extra: "Paguei o aluguel, guardei um pouco no banco e ainda comprei roupa pra mim."
Outra empresa que adotou métodos alternativos para divulgação de vagas foi a Bainha com Arame. Com unidades em Maringá e Sarandi, a fábrica de roupas colou cartazes em locais de grande circulação. "Não é todo mundo que costuma acompanhar anúncios nos jornais ou na internet", explicou a gerente de RH Romilda Lopes. Segundo ela, todas as vagas para a unidade de Sarandi foram preenchidas. "Faz três meses que colocamos anúncios e até hoje as pessoas nos procuram."
Reedição
Para o consultor de comunicação em RH Marçal Siqueira, esses métodos não são exatamente "novidades", mas uma reedição de técnicas antigas de recrutamento, o que ele vê como algo positivo. "Toda estratégia é valida. Se uma empresa volta ao passado para recuperar boas idéias, não vejo problema algum. É uma maneira de se reinventar".
A consultora Sirmey Amaral faz uma ressalva. Para ela, a forma de divulgação utilizada depende do perfil desejado para o funcionário. "A empresa tem de ir aonde o público-alvo vai estar. Tendo planejamento, não importa a estratégia utilizada. Se o estabelecimento procura um perfil mais operacional, por exemplo, é preciso anunciar as vagas em meios que vão ser acessados por este tipo de trabalhador", explica Sirmey, que presta serviços para o Sebrae.
Mercado aquecido
Em Maringá, o crescimento na oferta de empregos e no número de pessoas contratadas ficou evidenciado na Agência do Trabalhador da cidade. Em outubro, o local ofertava 1.282 vagas, 1.108 a mais do que no mesmo período do ano passado. Segundo o chefe da agência, Maurílio Mangolin, a situação econômica está muito mais favorável. "Em 2009 ainda tivemos a influência da crise financeira mundial, quando vários empresários ficaram com um pé atrás na hora de contratar. Hoje estamos com dificuldade para atender à demanda das empresas", afirmou Mangolin.