As empresas investem dinheiro e tempo, criam práticas, melhoram o espaço físico e os canais de diálogo com os colaboradores e, quando finalmente são reconhecidas, como “melhor ambiente para trabalhar” descobrem que mais difícil do que chegar lá é manter-se neste seleto grupo. Quando se trata de satisfação e engajamento dos profissionais, não dá para bobear. Mas também é preciso cuidado para não “criar” colaboradores mimados demais.
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A Tecnospeed, de Maringá, sabe bem disso. Eleita a melhor empresa de pequeno porte para trabalhar no Paraná em 2016, a companhia do ramo de tecnologia de informação completou 11 anos em 2017 com o desafio de manter seus profissionais engajados — tarefa nada fácil, especialmente para uma equipe jovem cuja média de idade é de 25 anos.
Algo comum às melhores empresas para se trabalhar, a lista de benefícios da Tecnospeed vai muito além da média do mercado. Além dos básicos, a empresa tem horário flexível, home office, salário fixo mais remuneração variável atrelada a metas e uma festa a cada quadrimestre para celebrar os resultados. Recentemente, a empresa também reduziu a jornada de 44 para 40 horas semanais.
De mudança para uma nova sede de 1 mil metros quadrados (a atual tem 350 m²), mais moderna, com uma estrutura pensada para os colaboradores (sala de jogos, vestiários, cozinhas, ambiente integrado), a Tecnospeed chegou a uma encruzilhada comum também a outras empresas: o que oferecer para que os profissionais continuem motivados e felizes, mas não fiquem mal acostumados.
É um desafio e tanto, segundo afirma Lina Eiko Nakata, gerente de conteúdo do Great Place to Work (GPTW).
Quando a gente olha o histórico das empresas que estão no ranking das melhores ambientes para trabalhar desde 1997, vemos que não é fácil manter a posição. Essas empresas atingem notas acima de 90%, é quase uma unanimidade entre os funcionários. Fica difícil oferecer algo a mais
Os funcionários, por sua vez, tendem a ficar mais e mais exigentes, especialmente quando a economia vai bem e há muitas oportunidades no mercado, diz Lina, com base em um levantamento do GPTW. Não é o caso neste momento, mas o setor de TI, por exemplo, sentiu menos os efeitos ruins da crise.
Na Tecnospeed, essa exigência chegou aos mínimos detalhes como reclamar da marca da cerveja no happy hour ou, então, questionar por que a sede nova tem mesa de sinuca e não tem mesa pebolin? Nada grave, principalmente porque a empresa abriu espaço para que eles falassem.
Funcionários mimados? Relembre-os sobre a realidade do mercado
Esse comportamento pode até parecer estranho, mas é completamente normal, acredita Vanessa Viana, responsável pela gestão de pessoas da Tecnospeed.
As pessoas se acostumam com aquilo que é bom e os profissionais também acabam sim ficando mal acostumados com os benefícios, que deixam se de ser uma novidade. Com o tempo, eu esqueço que deixei de trabalhar dois dias no mês, 10% da minha carga de trabalho, mas ganho a mesma coisa. É natural querer sempre mais
Mas quando o nível de exigência dos profissionais começa a ir muito além do que a empresa pode ou está disposta a oferecer, é possível relembrá-los de que as melhores empresas para trabalhar não refletem a realidade predominante do mercado, afirma Lina, do GPTW.
“Nós temos muitos funcionários que começaram aqui no primeiro emprego, não têm referência e acham que o que oferecemos aqui dentro é a realidade do mercado. Neste caso, procuramos colocar essas pessoas em contato com profissionais mais experientes de outras áreas”, diz Erike Almeida, CEO da Tecnospeed.
A empresa também escolheu o caminho do diálogo franco com seus colaboradores. Eles têm total liberdade para questionar e sugerir dentro da Tecnospeed – e valorizam muito isso, segundo Vanessa. Diante dos questionamentos, a empresa abre espaço para a contribuição: “Você está recamando disso, então, o que podemos fazer para melhorar? O fornecedor não está bacana? Você tem alguém para sugerir? Qual é a sua ideia? Assim, o colaborador cria mais responsabilidade dentro do negócio”, diz ela.
Mas, afinal, o que os profissionais valorizam?
Uma pesquisa do GPTW apontou que os benefícios mais atraentes para os profissionais são horário flexível e home office (23%), bolsa de estudos (16%), sextas-feiras curtas (13%), academia, ioga e massagem (12%).
Segundo Lina, um ponto curioso das melhores empresas para trabalhar é que qualquer tipo de inconveniente em benefícios ou questões que eles valorizam contamina a percepção dos funcionários sobre toda a empresa. Isso impacta o clima organizacional e a nota da empresa no ranking do ano seguinte costuma cair.
Por isso é importante pensar e avaliar bem antes de oferecer um benefício ou implantar uma determinada prática, assim como no momento de retirar, especialmente se é algo que os profissionais valorizam muito. “Uma empresa precisou mudar da Avenida Paulista para outra região e a nota despencou”, exemplifica Lina.
Almeida acredita que mais importante que criar muitas práticas, é manter e melhorar aquelas que são realmente valorizadas, sempre uma pitadinha de inovação.
Na Tecnospeed, tentamos sempre desvincular um bom ambiente de trabalho das questões ligadas ao dinheiro, mostrando que não é algo caro que vai fazer a diferença no ambiente de trabalho e na qualidade de vida do profissional, mas sim o reconhecimento do seu trabalho e a sensação de que aqui nos importamos uns com os outros, dentro e fora da empresa