Era uma vez um gato-executivo, gato no sentido literal da palavra, é claro, não gato de gatuno e nem gato desses que as mulheres adoram, tipo um cara bonitão, ele era simplesmente um gato. O seu crachá ostentava o nome: Descartes, Departamento de Ratoeiras – funcionário da empresa Felix-Felix.

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Descartes, como todo gato que se preza, gostava de focinhar prá lá e prá cá. Sua curiosidade e vontade em resolver problemas era tamanha, que costumeiramente era chamado para ajudar nas dificuldades dos outros departamentos. Quando havia algum problema a ser resolvido, lá ia de bom grado o nosso Gato Descartes ajudar na solução. Assim, sua fama de solucionador de grandes problemas foi crescendo até chegar aos ouvidos do maioral, que quis conhecer de perto este seu funcionário tão brilhante.

Descartes foi chamado à sala principal e lá estava o velho-gato-chefão, ou GEO – Gato Executivo Onipresente, como gostava de ser chamado. Num canto da enorme sala, um enorme rolo de lã, todo embolado com fios de várias cores. Pelas paredes da sala do gatão-chefe, fotos de ratoeiras e suas presas oriundas de caçadas de todas as partes do país, algumas até do exterior. Dentro de um armário, os outros artigos que a Felix-Felix também fabricava. O chefão foi logo dizendo, sem perda de tempo, como é comum a todos os chefões:

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- Ouvi dizer que você, Descartes, tem solucionado todos os problemas que lhe são apresentados em nossa fábrica. Temos um grande problema na nossa frente. Recebemos hoje este grande novelo de lã e temos que reorganizá-lo em vários novelos menores. Nossos gatos-engenheiros já tentaram de tudo e, até agora, nada. Temos prazo para entregar esta encomenda e o tempo está passando. Já estamos perto do natal e os novelinhos serão presentes para os filhotes-gatinhos desta temporada brincarem. Como é que você pode nos ajudar a encontrar a solução deste embaralhado problema?

- Embaralhado mesmo, comentou Descartes, olhando para o novelão de lã no canto da sala. Mas vamos lá. Descartes encarava tudo e não descartava nada. Autoconfiança, determinação e coragem eram as suas atitudes mais costumeiras.

- Primeiro a gente tem que saber se este problema é mesmo um grande problema. Não vamos atacá-lo de frente, sem antes estudá-lo bem, sob todos os aspectos. A gente não deve aceitar nada como verdade, sem antes estudar profundamente o que nos é apresentado. Na frente de um problema, devemos evitar precipitação e qualquer tipo de prevenção.

- Bem, o problema está aí na sua frente, falou o gato-mor. Examine-o, à vontade.

Descarte, felinamente, deu voltas e voltas em redor do grande novelo, andou, cheirou-o demoradamente com os seus bigodes lustrosos, deu uns tapinhas de gato, empurrou, calculou o peso. Viu que era um grande novelo, enrolado com diversos tipos de fios e de várias cores. E ele era tão emaranhado que parecia impossível de ser reorganizado.

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- Descartes falou: - Bem, o problema já está analisado, agora vamos à segunda parte do meu método, que alguns amigos já estão chamando jocosamente de "método cartesiano para resolução de problemas". Mas eu não ligo, no futuro o meu método vai ser até bem conhecido

- A segunda parte é dividir o todo, em parcelas ou dificuldades, em quantas for necessário para permitir que eu passe a revolver não um único grande problema, mas vários pequenos problemas. Depois vamos examinar um por um os problemas apresentados.

- Terceiro, vou conduzir o meu pensamento por ordem, começando pelos problemas mais simples até chegar aos mais complexos. E irei resolvendo em uma determinada ordem. Vamos tirar deste novelão, fio por fio, cor por cor, uma de cada vez. Se as cores azuis são as mais fáceis de serem desembaralhadas, é com estas que eu vou começar.

- E assim fez Descartes, que foi segmentando o novelão em vários pequenos novelinhos, arrumando-os por tamanho e por coloração. Por último, conferiu um a um os seus procedimentos, vendo se todos estavam corretos e bem resolvidos. Em pouco tempo o gato-chefão tinha o seu grande problema solucionado e ficou entusiasmado com o método Descartes para resolução de problemas.

- Quando a gente tem um grande trabalho, ou problema pela frente, devemos estudá-lo a fundo para ver o seu tamanho real e o grau das suas dificuldades. Na maioria das vezes, veremos que ele não é tão difícil quanto parece. Depois devemos dividi-lo no maior número de pequenos problemas possíveis e ir resolvendo-os um a um, partindo do mais fácil para o mais difícil. Depois é só conferir para ver se o resultado está realmente certo. Fácil, não é? - disse Descartes ao seu chefe.

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- O gato chefão ficou tão satisfeito com o método de trabalhar de Descartes que pediu para ele publicar os seus ensinamentos num livrinho para ser distribuído a todos os seus funcionários e clientes. Descartes fez o trabalho de casa e chamou-o de "O Discurso da Razão e do Método" que mais tarde ganhou mercado e fez Descartes entrar para a história. E hoje quando alguém se refere a uma pessoa que pensa de forma lógica e metódica diz:

- Lá está um cartesiano. - Justa homenagem a um grande pensador.

Eloi Zanetti – assessor de marketing e comunicaçãoEloizanetti@terra.com.br