Não há como negar o avanço que o Brasil teve na macroeconomia: a inflação sob controle, recordes da balança comercial, equilíbrio fiscal e superávits nas contas públicas. O crescimento sustentado, no entanto, somente estará garantido com queda do juro, redução do endividamento público e distribuição de renda, que permitirá o ingresso e a manutenção no mercado de uma leva de consumidores hoje excluídos dele.
Além disso, é preciso uma agenda menos macro e mais microeconômica, que dê solução a problemas que atrapalham o dia-a-dia dos negócios, como os de infra-estrutura de transporte e a morosidade do Poder Judiciário. Esta é a agenda que economistas apontam como necessária para o crescimento sustentado do país, mas, admitem, não é tarefa que se possa resolver a curto prazo.
Sérgio Werlang, ex-diretor do Banco Central e atual diretor do Itaú, defende que a preocupação do governo não se volte apenas para a macroeconomia, como o controle da inflação, e inclua itens de microeconomia.
- Precisamos de uma melhor eficiência do modelo judiciário, das agências reguladoras, além de uma grande reforma trabalhista e sindical - diz Werlang, um dos palestrantes do 2º Congresso Internacional de Derivativos e Mercado Financeiro, promovido pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), de 24 a 27 de agosto, em Campos do Jordão (SP).
Segundo admitiu recentemente o próprio ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o Brasil ainda tem que resolver questões importantes no campo da defesa da concorrência, da abertura do mercado de seguros e da melhoria dos marcos regulatórios. O diretor do Itaú, no entanto, não acredita na possibilidade de questões importantes serem resolvidas no curto prazo.
Werlang comenta que boa parte da reforma prevista para o Poder Judiciário já está no Congresso, mas as propostas não serão votadas tão cedo. Ele explica que para cada processo judicial cabem sempre muitos recursos, o que torna as discussões judiciais infindáveis. Há casos contra o governo, lembrou, que levam mais de 10 anos para serem concluídos, causando prejuízos enormes para os dois lados.
- O processo passa por muitas instâncias. Os recursos postergam as soluções e se forma uma lista gigantesca, quase sem fim, de processos - disse.
Para Werlang, as agências reguladoras também são de extrema importância e precisam de independência do executivo. Somente assim, acrescenta, os investimentos de longo prazo poderão ser concluídos. Para ele, apenas o setor elétrico, com novos leilões, está no caminho certo, assim como o setor de telecomunicações, que está estruturado.
- Quem investe não quer ficar ao sabor das eleições presidenciais. O problema é mais crítico hoje nas agências que regulam o setor aéreo e os planos de saúde (seguro saúde). No curto prazo, esses problemas precisam ser acertados. O setor de saneamento também não está acertado. Há conflitos entre municípios e estado - afirmou.
Para Luiz Guilherme Piva, economista-chefe da Consultoria BDO Trevisan, no curto prazo, o Brasil ainda precisa enfrentar várias questões, como reduzir o juro, manter a inflação em patamar reduzido, ampliar as exportações e diminuir a dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).
- É impossível pensar em crescimento sustentado sem redução de juros. Os juros reais estão em patamar muito elevado e desestimulam os investimentos - afirmou Piva.
O economista da Trevisan disse que no médio e longo prazo o desafio é retomar os investimentos em infra-estrutura. Segundo ele, o país tem carência de portos e estradas. Nesse sentido, as parcerias públicas-privadas poderiam ajudar bastante, já que o volume de recursos do estado é pequeno.
Do médio para o longo prazo, na avaliação de Piva, o desafio é uma política agressiva de inclusão social e distribuição de renda. Além disso, é necessário investimento grande em sofisticação, ou seja, em ciência e tecnologia para fabricação de produtos de maior valor agregado. Para ele, "o atual governo tem que ter isso como prioridade".
- O governo tem apontado na direção correta. O problema é que o governo não consegue vencer na velocidade. Há muito tempos estamos esperando a criação de condições para a redução de juros, por exemplo - disse Piva.
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