Curso de nível médio deve ser encarado como primeiro passo
Ainda que exista um cenário positivo para quem leva conhecimentos do ensino técnico para o mercado, a atualização profissional continua sendo mais do que necessária. Por isso, quem quer se manter no mercado de trabalho deve saber que parar de estudar não é bom para ninguém. "Na verdade, a formação técnica não é conflituosa com o bacharelado. Elas se complementam na formação profissional", diz o reitor do IFPR, Alípio Leal.
Evolução da carreira veio com formação teórica e prática
A secretária executiva e professora Valéria Oliveira ingressou no ensino técnico em 2004 com uma estratégia bastante definida: cursou o segundo grau técnico em secretariado, pulou para o ensino profissionalizante de um ano e meio, e em seguida começou o bacharelado em secretariado executivo trilíngue, formação superior que dura três anos. Durante os estudos, conseguiu se manter no meio educacional com bolsas e estágios em instituições. Agora, poucos meses após a formatura, está dando os primeiros passos como professora.
O mercado de trabalho pode não estar vivendo seus melhores dias, mas há quem consiga uma boa colocação mesmo sem um curso superior. Prova disso é a demanda aquecida por profissionais com formação técnica ou que tenham passado por cursos profissionalizantes. Segundo fontes do setor, quem já cursou essa modalidade de ensino, mais voltada para a prática profissional, tem encontrado facilidade para conseguir uma vaga no mercado de trabalho.
No Paraná, embora tenham ocorrido milhares de demissões desde setembro do ano passado quando teve início a fase mais aguda da crise econômica internacional , apenas a Secretaria Municipal de Emprego de Curitiba estima que existam 11 mil vagas "crônicas", como são classificadas as posições difíceis de serem preenchidas. O motivo seria justamente a falta de uma qualificação técnica. A conta da prefeitura é baseada em informações de agências de emprego e de postos do Serviço Nacional de Emprego (Sine).
Para o reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR), Alípio Santos Leal, a educação profissionalizante, mesmo com a demanda do mercado, ainda caminha a passos lentos no país. "O Brasil negligenciou a formação técnica por motivos culturais, por algum resquício da aristocracia. Essa cultura vem da época em que o objetivo das famílias era mandar os filhos para a universidade, preferencialmente na Europa, para serem médicos ou advogados. Infelizmente não conseguimos evoluir muito dessa mentalidade, e o resultado é visível nas agências de trabalho", avalia.
Leal diz acreditar que o ensino técnico e profissionalizante é o caminho mais curto para o desenvolvimento social. "Investir em formação técnica é investir na sustentação do desenvolvimento econômico. Essas vagas técnicas que estão abertas muitas vezes empregam com salários melhores do que as de ensino superior. O setor de tecnologia, que está em constante movimento, é um exemplo claro disso", diz o reitor. Além da tecnologia da informação (TI), ele também ressalta a demanda por técnicos em enfermagem e higiene dental.
O presidente da seção paranaense da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro-PR), Mauro Sorgenfrei, afirma que as empresas garimpam profissionais no banco da escola. "As universidades moldam o profissional no sentido de 'pensar TI', mas isso não é necessário em todos os níveis da empresa. A demanda maior hoje é por programador, que não precisa ter uma visão tão ampla. Ele precisa dominar as suas ferramentas e produzir programação. Para essa formação básica, um curso técnico supre a necessidade e insere o jovem no mercado de trabalho", explica.
Sorgenfrei diz que jovens apenas com o ensino médio que se dedicam à tecnologia da informação conseguem entrar nas empresas como trainees, com remuneração entre R$ 600 e R$ 800. "É um valor compatível com estágios de ensino superior", destaca. Um profissional de nível júnior, recém-formado, tem salário médio de R$ 1,2 mil, e entre os plenos a remuneração vai de R$ 2 mil a R$ 4 mil. "Mas, como em toda área, um profissional diferenciado, que tenha conhecimento do mercado e da linguagem indiana, por exemplo, pode receber até R$ 9 mil."
Déficit futuro
O diretor de Recursos Humanos do HSBC GLT, Hélcio Tessaro, lembra que as pespectivas de crescimento do setor de TI no Brasil não diminuíram com a crise associações internacionais estimam a abertura de 100 mil vagas nos próximos 5 anos. Apenas em Curitiba, seriam 11 mil postos de trabalho. "Ou seja, se hoje nós já temos déficit de profissionais para as vagas disponíveis, imagine depois, com o mercado ainda mais dilatado", diz.
Dentro desse panorama, Tessaro avalia que a experiência com estudantes do ensino profissionalizante tem sido positiva. Ele conta que, recentemente, foram contratados seis trainees com essa formação. "Eles superaram nossas expectativas. A nossa avaliação é de que esse tipo de profissional está saindo bem das salas de aula, com boa formação. O problema é que ainda são raros, há uma quantidade pequena de cursos. As empresas estão indo buscar essas pessoas nas escolas para compensar a falta no mercado", completa Tessaro. O HSBC GLT reúne mais de 400 funcionários da área tecnológica em Curitiba.