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Por que o ex-CEO de uma empresa de móveis em ruínas chegou ao topo da Ford

Jim Hackett (foto) assumiu a presidência da Ford  no último dia 22 de maio. Entenda como ele chegou ao topo da montadora. | /
Jim Hackett (foto) assumiu a presidência da Ford no último dia 22 de maio. Entenda como ele chegou ao topo da montadora. (Foto: /)

O novo CEO da Ford – um ex-executivo de móveis de escritório de 62 anos, agora encarregado de dar conta da mais antiga fabricante de automóveis do mundo e em meio a frustrações sobre o preço das ações e as crescentes ameaças de rivais do Vale do Silício – não é exatamente um nome da casa. Mas nos círculos de gestão e design, bem como no Vale do Silício, Jim Hackett tem sido uma espécie de estrela pela transformação que conduziu na Steelcase e sua capacidade de prever grandes mudanças na forma como as pessoas trabalham.

Desde que obteve o trabalho número um da Ford, ele tem sido descrito como “um especialista em guinadas”, graças ao seu histórico na Steelcase – que envolveu profundos cortes de postos de trabalho e uma reinvenção da empresa –, bem como seu recente mandato como diretor atlético na Universidade de Michigan, para onde levou o treinador da NFL Jim Harbaugh para reavivar as conquistas do programa de futebol da instituição.

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Mas os especialistas em gerenciamento e design dizem que a expressão não traduz a escolha inspirada que Hackett realmente é para o comando da Ford e que pode ser explicada por esse conjunto de atributos: experiência na condução de uma empresa familiar; a adoção precoce da agora popular abordagem de design thinking (ou de busca de soluções pelo design) no desenvolvimento de produtos; vontade de aprender com pessoas de fora de fora da companhia e ao mesmo tempo uma determinação de não interferir diretamente em decisões sobre investimentos; e foco constante no futuro do comportamento do consumidor. 

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“Ele está focado em tentar descobrir as necessidades não óbvias que as pessoas têm. O que faria a vida delas melhor? O que elas realmente valorizariam se você desse [soluções] a elas? “, diz David Kelley, um amigo de longa data de Hackett e fundador da IDEO, renomada empresa de design da qual a Steelcase já foi majoritária e agora possui apenas uma pequena parte.

Muitos especialistas em gestão veem paralelos entre o trabalho de Hackett em reinventar espaços onde as pessoas trabalham e a tarefa de repensar espaços onde elas dirigem e uma indústria que está passando por mudanças tão grandes. “De Uber a carros sem motorista, há uma transformação enorme acontecendo na indústria automotiva,” diz Noel Tichy, um professor de administração da Universidade de Michigan que trabalhou com Hackett no passado e já escreveu sobre ele em vários de seus livros. “Ele já fez isso [uma transformação] antes. Os conjuntos de habilidades fundamentais são os mesmos.”

Sobre a Steelcase e o passado

A Steelcase, uma empresa com US$ 3 bilhões em receita anual, pode parecer uma prova incomum para a a escolha de Hackett para a Ford, uma das empresas mais emblemáticas da América, com mais de US$ 141 bilhões em vendas. “O que pode ser menos sexy do que Grand Rapids e móveis de escritório?”, diz John Bacon, um autor de Ann Arbor, Michigan, que entrevistou Hackett e escreveu um livro sobre o renascimento do programa de futebol em Michigan sob a direção de Hackett.

Mas em muitos aspectos, dizem os especialistas em gestão, o caminho de Hackett até a Ford é apenas algo natural. Hackett foi o primeiro CEO não-familiar a comandar a Steelcase em 1994. Enquanto a Ford já teve várias lideranças vindas de fora, a família continua a ser uma presença dominante com quem os CEOs devem aprender a lidar, avalia Jeffrey Sonnenfeld, professor da Escola de Gestão de Yale.

Bill Ford Jr. é presidente executivo e enquanto a família possui menos de 2% do total de ações em circulação, também detém cerca de 40% do poder de voto graças à sua estrutura de ações de dupla classe. “Ele vai saber como fazer disso um ativo”, disse Sonnenfeld. Com seu histórico, Hackett, que é amigo pessoal de Ford, saberá “transformar esse tipo de estrutura organizacional e transformá-la em uma vantagem competitiva, onde eles estarão mais com você do que contra você”.

Na Steelcase, Hackett era conhecido por ser um dos mais dedicados seguidores dos princípios do design que o ajudaram a transformar a empresa, levando-a a passar de um local de trabalho cheio de cubículos para o ambiente mais “aberto” que muitas empresas usam agora. Percebendo que as pessoas trabalhariam de forma mais colaborativa e mais focadas na tecnologia móvel, ele insistir em mudanças como móveis de escritório organizados em roda, que poderiam ser reconfiguradas, e mesas que se integravam com laptops para exibir telas individuais de trabalhadores.

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“O que ele realmente faz bem, e que sempre será uma constante no trabalho e na liderança, é olhar para o futuro do comportamento das pessoas”, diz Kathryn Segovia, chefe de design de aprendizagem da escola de design de Stanford que trabalhou com Hackett na Steelcase em 2012.

Segovia, que estudou como os avatares interagem uns com os outros em ambientes on-line para seu PhD em Stanford, foi uma “mentora reversa” de Hackett, ou seja, alguém mais novo que o ajudou a orientar seu pensamento para os novos tempos, em vários verões. “Ele fica muito feliz e confortável em um ambiente estudantil”, disse ela.

Kelley da IDEO, que também é fundador da escola de design de Stanford, e que já manteve uma linha direta entre seu escritório e o de Hackett, diz que Hackett envia para ele links sobre novidades no campo do design sobre as quais nem mesmo ele ainda teve notícias.

À medida que o negócio de serviços móveis da Ford cresce, startups de tecnologia nas quais ele escolher investir também podem ter todo o processo influenciado por como Hackett gerenciou os investimentos na IDEO anos atrás. Em 1996, a Steelcase assumiu uma participação maioritária na empresa de design, permitindo que ela operasse de forma autônoma, mas usando essa relação para incutir a sensibilidade do design na forma de a empresa pensar. “Ele não sufocou [ninguém]”, diz Sonnenfeld. “Ele tem um histórico para provar que ele pode ser um ímã para atrair grandes talentos, seja através de investimentos ou recrutamento, e dar-lhes espaço para respirar”.

Ele também sabia que a hora de deixar essa função chegaria e que seria preciso revender a participação majoritária à IDEO, desde que ela estivesse apta a andar com as próprias pernas.De acordo com um consultor de estratégia que trabalhou com Hackett na Steelcase, “a maioria dos CEOs teria dito ‘boa sorte [com isso], nós temos vocês nas mãos.’ Mas não Jim. Ele percebeu deixar a IDEO livre e segurar apenas uma parte minoritária dela seria a coisa mais inteligente a fazer.”

Kelley concorda que isso, esse modus operandi, poderia ser atraente para aquelas startups que conseguem fisgar o interesse da Ford. “A parte principal dessa história e que é encorajadora para outras companhias é que, tipicamente, quando uma companhia grande compra uma companhia pequena, elas dizem que não irão mexer com elas”, explica. “Mas eu não acho que isso aconteça tão frequentemente. Neste caso, porém, aconteceu exatamente desta maneira. .. Ele [Hackett] realmente entende. Não é [uma questão de] benevolência. É apenas muito inteligente em entender como tirar o máximo da diversidade de pensamento de outras pessoas.”

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Essa parceria da IDEO também ajudou a aprofundar as conexões de Hackett no mundo da tecnologia – Kelley diz que ele conhece todos em Stanford e que “ele é alguém dentro, que não vai deixar passar nada do que está acontecendo no Vale do Silício”. 

Isso é algo que pesou na decisão da Ford segundo o próprio Bill Ford. Em uma visita à região no ano passado, Ford contou, durante uma coletiva de imprensa, ter visto executivos de tecnologia cumprimentar Hackett com abraços. “Alguns deles me disseram, meu Deus, ele é um dos verdadeiros pensadores originais que conhecemos e vocês são realmente sortudos por tê-lo”, disse Bill Ford aos repórteres. “Ver Jim não só aproveitando tudo isso tão bem, mas também sendo levada em alta consideração, me deu uma impressão e tanto sobre ele.”

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