Depois de sete anos atuando como advogado, Geraldo Franco Gimenez percebeu que, mesmo satisfeito com o trabalho, queria algo diferente. Associado a um escritório especializado em direito empresarial e acostumado ao ritmo acelerado do mercado de operações de fusão de empresas, decidiu que gostaria de investir em uma nova área de formação para lidar com outros assuntos relacionados ao negócio do cliente.
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“No fundo, minha motivação para mudar de carreira se relaciona à curiosidade intelectual e a um desejo de ter um conjunto de problemas diferente para resolver, mais estratégico e diversificado”, afirma. Para isso, fez uma especialização em Administração e, em 2015, decolou: foi fazer MBA na Booth School of Business, da Universidade de Chicago. “Foi uma experiência bastante desafiadora, seja por eu ter uma formação em humanas e estar cursando uma escola com fortíssima tradição analítica, seja pelos desafios da mudança de carreira e cultura e por voltar a ser estudante em tempo integral”.
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Profissionais multitarefas são os mais procurados
Todo o investimento de tempo, dinheiro e dedicação foi recompensado não só com o título de mestre, mas também com uma nova oportunidade de fazer as malas. Desta vez, Geraldo vai para a Austrália como associado de uma empresa global de consultoria, onde irá assessorar clientes privados e públicos que buscam maior eficiência em estratégia e gestão empresarial. “Terei uma atuação mais generalista, em diversos setores”, explica.
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A psicóloga organizacional e do trabalho e membro do Conselho Regional de Psicologia do Paraná Carolina Walger defende que os profissionais mais procurados pelo mercado de trabalho hoje em dia são exatamente esses que podem contribuir em diferentes áreas . Uma formação essencialmente técnica é muito boa para a entrada no mercado, mas quem quer permanecer nele precisa ir além.
“O mercado quer um profissional multitarefas, com competências, não apenas habilidades técnicas. As empresas buscam alguém que pode enxergar o todo, o contexto, que podem mudar de cargo e executar outros ofícios”, diz. “Se eu construo uma carreira toda focada numa área, não desenvolvo meu olhar para o todo”.
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Expandir horizontes é necessário
Então todo mundo precisa ter um plano B para a carreira? “Nem todo mundo precisa, mas nos dias de hoje é recomendado que todos ao menos pensem sobre isso”, garante Carolina. Não é necessário ter todo um planejamento já formulado, entretanto, como é cada vez mais raro alguém passar a vida toda trabalhando na mesma empresa – devido tanto à maior “reciclagem” de profissionais quanto à necessidade pessoal de desafiar a si mesmo – é importante refletir sobre alternativas.
Trabalhando há um ano como engenheiro eletricista em uma empresa que projeta usinas termelétricas, Fernando Granato estava no começo de um caminho promissor dentro da sua área de formação. “Minha vida profissional na época era normal e eu tinha tudo para seguir uma carreira de forma mais tradicional, porém, algo me dizia que estava no lugar errado e que deveria tocar algumas ideias que estavam circulando na minha mente”, lembra.
Essas ideias nasceram depois dele atuar voluntariamente como professor de sustentabilidade e cultura na Rússia. “Trabalhando com educação complementar lá, percebi o tamanho da oportunidade que se tinha”.
De volta ao Brasil e ainda trabalhando com engenharia, conheceu alguém que também pensava em criar uma metodologia de educação alternativa — Daniel Dipp, que hoje é seu sócio e cofundador da Quíron Educação.
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Com sede em Curitiba, filiais em São Luís, no Maranhão, e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a empresa social oferta formações complementares para jovens e educadores, trabalhando na prática temas como criatividade, empreendedorismo, autoconhecimento e sustentabilidade. Mestrando em Psicologia e Economia Criativa, atualmente Granato trabalha exclusivamente com a Quíron.
Realização pessoal e profissional
O plano B também virou plano A para Soraia Nakano. Ao longo de 17 anos trabalhando em grandes companhias do mercado financeiro, ela viajou pelo mundo todo e foi parte da implementação de processos que hoje fazem parte do cotidiano brasileiro, como o internet banking, o vale-refeição em cartões com chip e a transformação do celular pessoal em um meio de pagamento para pessoas não bancarizadas. “Minha vida como executiva era cercada de desafios, reuniões, viagens, decisões e realizações”, declara.
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Inspirada pelo nascimento da filha, foi infectada pelo vírus do empreendedorismo. “Minha filha, Clarice, nasceu no final de 2012 e voltei ao trabalho após a licença-maternidade de seis meses. Levei dois anos para amadurecer a ideia de sair do mundo corporativo e empreender”. Nesse período, fez um curso de design de joias e teve a ideia de criar a Inffinità, loja virtual focada em “joias afetivas”. Começou produzindo pingentes com o carimbo da maternidade — a marca dos pezinhos do bebê feita logo depois do nascimento — e agora já tem produtos que acompanham todo o crescimento das crianças.
“O trabalho é puxado, são horas de atendimento, criação e a parte burocrática do dia-a-dia de uma empresa. Mas consigo flexibilizar meus horários e participar mais ativamente do cotidiano da minha filha”, conta, acrescentando que todas as experiências que teve serviram como um degrau para dar o próximo passo. “Sempre acreditei que não nascemos para ser uma coisa só”.
Autoconhecimento em primeiro lugar
Para encontrar esse caminho alternativo é necessário analisar suas habilidades e preferências, refletir sobre a sua carreira e seus objetivos. “Infelizmente, muitas pessoas que estão no mercado de trabalho não se permitem questionar sobre isso. As pessoas dizem, ‘Dê graças a Deus porque você tem um trabalho’. E muitas vezes alguém está infeliz, até doente por causa desse discurso”, adverte a psicóloga.
Por isso, ela julga que a busca do autoconhecimento é prioridade. “O indivíduo deve buscar informações para conhecer melhorar suas características. Às vezes ele está infeliz sem nem saber o motivo e geralmente isso está ligado a realizar uma atividade que não condiz muito com a sua personalidade ou estilo de vida”, explica. A saída pode ser pedir ajuda ou perguntar a opinião de colegas e gestores ou até mesmo buscar auxílio profissional para fazer o redirecionamento da carreira.
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A identificação dessas afinidades deve ser seguida da busca por cursos, do estudo do mercado de trabalho e de muito planejamento. “Formação é essencial na carreira, não dá para executar as coisas só com talento”, aconselha. A partir daí, já pode surgir um caminho alternativo, que pode ser um complemento na renda ou, como no caso de Geraldo, Fernando e Soraia, virar o novo foco do profissional.
E nunca é tarde demais. Inclusive no final da carreira, pensar em outra atividade é muito importante, por causa da aposentadoria. “Se a pessoa não se prepara para a aposentadoria, ela sai de uma situação em que estava trabalhando a vida toda e, no dia seguinte, está em casa. Isso pode trazer problemas no relacionamento familiar e levar a depressão”, avisa Carolina.
A fórmula é clara: manter as perspectivas em constante expansão e não esquecer de pensar sobre aquilo que lhe satisfaz, pessoal e profissionalmente.
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