Concursos públicos são sempre grandes apostas para quem quer iniciar uma carreira ou até mesmo dar uma virada na que já tem. Mas, com a crise mais uma vez ditando o ritmo da economia e uma política de corte de gastos por parte dos governos, eles devem ficar mais escassos em 2017. No âmbito federal, por exemplo, há a decisão do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, de manter suspensos concursos para esse ano, postura que também havia sido tomada em 2016 pelo governo Dilma.
A suspensão, porém, não significa que não haverá concursos durante o ano, afinal, o Ministério do Planejamento só autoriza concursos de órgãos e entidades do Executivo da União. O próprio anexo V da Lei Orçamentária de 2017, que mostra a expectativa de criação e ocupação de cargos públicos, sinaliza que 13.385 vagas estão previstas para contratações no Executivo. No anexo, outras 2.089 vagas ainda estão previstas para o Judiciário, Legislativo, Ministério Público, Conselho Nacional do Ministério Público e Defensoria Pública.
Essas vagas, porém, são apenas uma estimativa de limite de cargos que poderão ser criados e aprovados e de vagas já existentes e que precisam ser ocupadas. Ou seja, essas 13 mil vagas poderão ser aproveitadas para concursos já autorizados que estão com nomeações pendentes, demandas judiciais, substituição de terceirizados, entre outras demandas.
Outro fator negativo é a situação de alguns estados brasileiros, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que se encontram “falidos”, ou seja, dificilmente muitos concursos serão abertos nestas regiões. De acordo com Wolmar Brasil, coordenador pedagógico do Curso Cenpre, nestes casos o que deve ocorrer é uma reposição. “A máquina administrativa não pode parar, mesmo com a crise devem ocorrer seleções, no mínimo para substituir quem se aposentou”, explica.
O cenário que se espera para 2017, portanto, é de menos vagas e, consequentemente, de maior concorrência. “Isso ocorre porque os candidatos sabem que terão poucas oportunidades, a tendência é que eles se agarrem nas que abrirem”, destaca Brasil. João Viana, diretor do Curso Solução, segue na mesma linha, para ele, o cenário não é novidade: “em 2016 tivemos uma seca, apesar disso saíram bons concursos. Acredito que esse ano será da mesma forma.”
Brasil também explica que, mesmo com a seca, não deve acontecer de uma área ser “privilegiada” nas seleções desse ano. “Os concursos vão ser abrangentes, mas, com os poucos recursos, serão vagas que realmente necessitam de profissionais”.
Com a oferta menor e a concorrência maior, a palavra de ordem entre os “concurseiros” é aprofundamento. “Eu vejo isso também como uma boa oportunidade, já que o tempo que tenho para os estudos também vai ser maior. A ideia é antever e se preparar para eles antes mesmo de abrir o edital”, destaca Mariana Souza, formada em Direito e “concurseira” desde 2012.
Ainda que o panorama provavelmente seja complicado para quem mira em uma carreira pública, muitas pessoas devem insistir em se dedicar em tempo quase integral aos estudos e preparação. Entre os motivos para isso estão sempre os melhores salários e a estabilidade do setor público, mas Mariana lembra que não é só isso — ou pelo menos não deveria ser.
“Quero ser servidora pública, pois foi para isso que escolhi a minha profissão. Então, eu insisto em concursos por saber que ele vai me trazer uma maior satisfação pessoal. Diferente de muitos, penso na atuação”, finaliza.