Arriscar para ganhar é o conselho direto que o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, deu nesta terça-feira aos 149 países que integram o organismo para que superem as divergências que levaram à atual situação de bloqueio.
- Quem nada arrisca, nada ganha - disse Lamy às 149 delegações que assistem à conferência ministerial que a OMC realiza em Hong Kong até o dia 18.
Distantes, sobretudo por suas posições na agricultura e acesso aos mercados para produtos industriais, dois setores econômicos de maior importância, os países foram à reunião de Hong Kong com baixas expectativas sobre os objetivos que possam sair da reunião.
Fazendo as honras de anfitrião da reunião, Lamy recorreu a um provérbio chinês para animar os países a arriscarem e evoluam, inclusive nos assuntos que, como a agricultura, travam as negociações.
- Se não entras na jaula do tigre, como pode levar seu osso? Reiterar posições já bem conhecidas, utilizar a linguagem dos negociadores, nos negarmos a entender as razões dos demais e evitar qualquer risco não nos levará à parte alguma - afirmou.
Ele recomendou que não sigam por essa via porque colocarão em perigo "o valioso patrimônio" acumulado pelos negociadores anteriores de outras rodadas comerciais.
- Assumam um pequeno risco, calculado, que proporcionará uma oportunidade de estabelecer condições mais equilibradas de comércio livre e igual - reafirmou Lamy, que fez seu discurso de abertura em francês, inglês e espanhol.
Nessas três línguas oficiais da organização que dirige, pediu aos delegados compromissos para que as negociações que começaram há quatros anos em Doha concluam com êxito em 2006.
O diretor-geral da OMC, que tem um papel fundamentalmente mediador entre os países, ironizou com suas próprias palavras, pronunciadas ao término da fracassada reunião de Cancún, em 2003, quando era o comissário europeu de comércio e classificou as conferências ministeriais de "medievais".
- Não sei quem o fez, mas seguramente não havia visto Hong Kong e a organização dessa conferência - afirmou, ao agradecer as autoridades do território a organização do evento.
Ele ressaltou que, além da valentia e audácia, é necessário fazer "contribuições dos países que sejam proporcionais à situação".
Reconheceu, entretanto, que um processo negociador tão complexo não se resolve de uma vez e num mesmo momento, mas passo-a-passo".
Lamy recomendou aos países que centrem as atenções na agricultura e no acesso aos mercados para os produtos industriais, os dois assuntos mais espinhosos da negociação.