Mais um importante integrante da linha de frente do governo federal ataca o Banco Central. Depois da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff; do vice-presidente José Alencar; e do presidente do BNDES, Guido Mantega, foi a vez de o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, atacar a política de juros. As críticas também estão aumentando no setor privado. Marcio Cypriano, presidente do Bradesco - líder do setor que teoricamente mais se beneficia do juro elevado - elogiou a condução da política econômica mas afirmou que o Banco Central tem sido "cauteloso em excesso" na administração da taxa de juros.
Gabrielli - que dirige a maior empresa brasileira - afirmou que é preciso considerar aspectos como crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) e geração de emprego e renda na definição da taxa básica de juros da economia.
- A meta de inflação não é a única variável relevante. Os bancos centrais no mundo trabalham com diversas variáveis relevantes para as suas decisões. O Brasil, atualmente, está focado só na meta de inflação - disse o presidente da estatal, durante a entrega do troféu "O Equilibrista do Ano", dado ao presidente da Unipar, Roberto Garcia, pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF).
Já Cypriano - que comanda o maior banco privado do país - afirmou que os juros altos estão inibindo os investimentos.
- Se o Banco Central errou ou não na dose dos juros, eu não sei. Mas acho que ele está sendo cauteloso, provavelmente cauteloso em excesso. Precisamos de mais investimentos e a taxa de juros realmente é alta. É inibidora dos negócios e dos investimentos - afirmou Cypriano ao comentar a queda do PIB no terceiro trimestre deste ano.
O Bradesco, segundo ele, aposta na recuperação da economia neste último trimestre do ano, que deverá fechar com alta de 3,2% a 3,3% no PIB em relação a 2004. Para 2006, a estimativa do banco é de uma variação entre 3,5% e 3,7% - um pouco menor do que a da média do mercado.
- Depois que saíram os números do terceiro trimestre, nós revisamos para baixo nossas projeções do PIB deste ano, que era de 4% - afirmou.
Gabrielli, da Petrobras, disse que o crescimento do PIB é um aspecto relevante para os resultados da estatal, uma vez que a geração de renda e emprego tem forte impacto sobre a demanda por combustíveis. Mas não quis fazer ponderações sobre qual teria sido o lucro da estatal caso o PIB não tivesse recuado 1,2% no terceiro trimestre do ano. Os ganhos da empresa no período somaram R$ 5,6 bilhões, valor abaixo do previsto por analistas.
A previsão do crescimento da demanda por combustíveis da Petrobras é de 2,6% ao ano até 2010. Mas, apesar das críticas ao Banco Central, Gabrielli admite que o indicador deverá superar a estimativa este ano.
Durante seu discurso, feito para cerca de 600 executivos, Gabrielli chegou a afirmar que "o mundo vai além das metas inflacionárias".
Questionado mais tarde por jornalistas sobre que tipo de metas o Banco Central deveria adotar, Gabrielli respondeu:
- Isso é o Banco Central que define. Nós temos um acordo. Não falamos de política monetária e eles não falam de preços do petróleo.
Esta, no entanto, não foi a primeira vez que o "acordo" foi rompido. No ano passado, a direção da Petrobras divulgou uma nota em resposta a uma ata do Banco Central, que questionou indiretamente a política de reajuste de preços da empresa.
Segundo o presidente da Petrobras, um bom exemplo de gestão de BC é o do Federal Reserve (Fed), o banco central americano. No entanto, Gabrielli não fez menção ao debate sobre política monetária que está acontecendo nos EUA. O novo presidente do Fed, Ben Bernanke, que assumirá o lugar de Alan Greenspan a partir de fevereiro, já se disse favorável à adoção do sistema de metas de inflação como pilar da ação do BC americano).
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