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Legislação

Projeto prevê cotas em empresas

O educador Adilto de Paulo acredita que preconceito dificulta entrada no mercado | Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
O educador Adilto de Paulo acredita que preconceito dificulta entrada no mercado (Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo)

Quando o educador Adilto José de Paulo lia um anúncio de emprego, não procurava primeiro saber qual era a função, salário ou carga horária. Seus olhos corriam diretamente para o pé do texto, à procura da ressalva que, sabia ele, praticamente o eliminava da disputa pela vaga: "É necessário boa aparência."

Negro, Adilto enumera com facilidade situações em que percebeu ser o tom da pele um diferencial – negativo – na hora da contratação. "Uma vez eu estava tentando conseguir um emprego de auxiliar administrativo. Na primeira entrevista, o avaliador disse que o meu perfil era o ideal para a função e pediu que eu aguardasse em casa. Tive de fazer mais duas entrevistas e, no fim do processo, me disseram que o problema era a ‘aparência’."

Hoje, aos 29 anos, ele trabalha como educador social e é líder do Grupo Cultural de Dança Afropop Ginga Total, onde é conhecido apenas pelo apelido de "Black" [negro]. "Meus alunos, em sua maioria negros também, relatam sentir dificuldades no mercado formal. Quando vão a uma entrevista, sentem que o olhar dos avaliadores é diferente."

Com o objetivo de corrigir esse tipo de distorção, o Estatuto da Igualdade Racial, projeto que tramita no Congresso, tem um capítulo dedicado ao mercado de trabalho. São nove artigos que tratam da inclusão de afrodescendentes nas empresas e de ações que garantam igualdade de oportunidades aos candidatos. O projeto prevê, por exemplo, a proibição da exigência de fotografia no currículo. Fala na implantação de cotas, e autoriza a concessão de incentivos tributários a empresas que tenham mais de 20% de afrodescendentes contratados.

Polêmica

O tema, no entanto, é controverso. Para Alex Gelinski, diretor de Recursos Humanos da Chess Human Resources, a reserva de mercado pode gerar distorções no ambiente profissional. "As cotas podem causar um problema de autoestima aos profissionais admitidos por esse sistema. Após um tempo, eles colocariam em xeque a sua real capacidade de estar ali. Começariam a se sentir incomodados com o privilégio" diz.

Em cinco anos intermediando contratações, Gelinski afirma nunca ter recebido solicitação para privilegiar alguma etnia específica. "Percebo que as únicas preocupações das empresas são o bom currículo do candidato e a adaptabilidade à função pretendida. Quando abre uma vaga, todos os profissionais são bem aceitos."

Fernanda Brunetto, gerente de recursos humanos corporativo da Allis S.A., vê a iniciativa como positiva, e necessária. "A gente enxerga, pelas pesquisas, que os afrodescendentes não têm posição de destaque, o índice de desemprego é maior, e infelizmente a gente vai ter que contar com uma legislação que vai nos obrigar a mudar essa situação", avalia.

O problema, diz ela, é a maneira como as companhias vão encarar o assunto. "Se a empresa já prioriza a contratação pela competência, independentemente de cor, raça ou sexo, ela vai facilmente cumprir a cota. Mas, se ela tem critérios de valorização que perpassam por raça, cor ou sexo, aí vai ter que colocar isso ‘goela abaixo’."

Apoio

Jaime Tadeu da Silva, líder da Associação Cultural de Negritude e Ação Popular, acredita que a palavra "preconceito" é suave demais para descrever a situação do negro no mercado de trabalho. "Estamos lidando com racismo puro e simples." Para ele, a sociedade só vai conseguir corrigir desequilíbrios ao adotar uma política afirmativa. "As cotas não são a melhor saída. Mas é o que temos no momento."

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Interatividade

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