De férias na Espanha, a jornalista Andrea Greca Krueger foi mordida pelo bichinho da curiosidade quando descobriu uma pós-graduação focada em coolhunting e investigação qualitativa de tendências na Universidade Ramon Llull, em Barcelona. Foi amor à primeira vista. Desde então, não parou de investir em cursos para se tornar uma pesquisadora de tendências.
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Ela já tem dez anos de carreira, mas a profissão ainda é revestida por um nuvem de mistério e muita gente não entende muito bem quem são e o que fazem esses “caçadores”. “A pesquisa de tendências está dentro da pesquisa de mercado”, explica a empresária, que também atua como professora universitária. Ela conta que o trabalho não para e que sua agenda não é muito regrada. “O que eu tenho de rotina, religiosamente, é a pesquisa. A maior parte do tempo estou conectada, pesquisado, lendo, indo para a rua”.
O ritmo acelerado não é à toa. O profissional que se propõe a antecipar o que todo mundo vai querer precisa ter um olhar atento para perceber pequenas flutuações e movimentos sociais e refletir sobre como isso vai se transformar em um comportamento de consumo.
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Inovação que reflete no mercado
Expert em cores e diretora executiva da Pantone no Brasil, Blanca Lliahnne acredita que o profissional desenvolve esse olhar com a prática, mas deve ter, antes de mais nada, um espírito investigador . “Ele precisa analisar o presente com um olhar para o futuro”, diz. É especialmente neste aspecto quase profético que a Pantone se destaca, anunciando todos os anos qual será a Cor do Ano seguinte. A de 2017 é a greenery, um tom de verde mesclado com amarelo que, segundo a marca, remete a renovação e, como previsto, pode ser encontrado nos mais diferentes produtos, de roupas a eletrodomésticos.
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Ainda que áreas como design e publicidade sejam as mais facilmente associadas ao conceito de “caçar tendências”, Andrea garante que não são apenas esses setores que se beneficiam da metodologia. A pesquisadora já teve clientes na indústria alimentícia, da beleza, automobilística, da área financeira e outros.
Todo mundo precisa inovar e a pesquisa de tendências se aplica a todos que estão no varejo, que trabalham com bens de consumo. Todas as áreas precisam conhecer o público-alvo, para onde ele está indo e quais são os seus gostos”.
Pesquisadora de tendências e consultora de design estratégico, Paula Abbas acrescenta que o conceito de “coolhunting”, de estar atento às outras pessoas e gerações, pode ser usado em qualquer área de uma empresa. “Hoje eu entendo que coolhunting é um conhecimento que serve para viver no mundo atual. É uma habilidade que a gente tem que criar para viver nesse mundo de mudança”.
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Formação com olhar atento à sociedade
Para perceber essas sutilezas, porém, é necessário conhecer as camadas que compõem a sociedade, o que vem de uma formação multidisciplinar dentro das ciências humanas. O currículo de Paula, por exemplo, passa pelo direito empresarial, design de interiores, marketing, psicanálise, antropologia e história da arte. “Você precisa de uma formação para compreender quais são os padrões sociais e como as pessoas se comportam”. A partir daí, é possível notar as anomalias que podem virar inovação.
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Cursos como sociologia, comunicação, psicologia e antropologia são uma boa base para quem quer se tornar um pesquisador de tendências. Vale buscar, ainda, áreas que possibilitem entender as lógicas de mercado e consumo - e, obviamente, boas especializações voltadas especificamente para coolhunting e temas afins.
Mas não é só isso. “Tem uma metodologia, mas o principal é a curiosidade”, diz Andrea, que em sala de aula já encontrou desde engenheiros até farmacêuticos. “É muito mais um perfil pessoal do que um curso. A pessoa tem que ter uma inquietude e não se conformar em não entender o porquê das coisas”.
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Processo criativo e de planejamento
Antes mesmo de começar a procurar fontes de informação, os pesquisadores de tendências precisam praticar o que Paula chama de empatia, “limpando sua lentes”, ampliando sua visão e se livrando de preconceitos sobre o que pode encontrar em campo. “O pesquisador deve ser capaz de se abrir ao outro”, explica. Blanca concorda: “O coolhunter não tem gosto pessoal sobre aquilo que está pesquisando”.
A pesquisa, em si, envolve viagens, visitas a feiras, investigação histórica e documental, análise de fatores econômicos e sociais – ou seja, o contato com o maior número de informações possível, de muitos segmentos, para que seja possível encontrar conexões que até então passaram despercebidas. “Parece mentalmente exaustivo, mas quanto mais prática, mais intuitivo e automático fica”, assegura Paula.
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Do material coletado nasce o processo de ideação.
“Tudo isso é ferramenta para a inovação, especialmente a inovação disruptiva, que foca em encontrar novos nichos de mercado que ainda não foram explorados”.
O final da linha criativa é a prototipação, com a criação de produtos ou serviços que correspondam às tendências encontradas pelo pesquisador. “Temos observar problemas e enxergar soluções”, resume.
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