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Selic

Redução do juro pode ficar abaixo de 0,50, dizem economistas

O setor produtivo e parte do mercado financeiro podem ter uma decepção nesta quarta-feira, se o Banco Central confirmar seu conservadorismo na hora de decidir sobre a taxa Selic. Para a maioria dos economistas, é bem provável que o Comitê de Política Monetária (Copom) aplique um novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, e não o 0,50 esperado por vários setores.

Na prática, pouco importará para o cidadão comum se a taxa Selic cair para 19,25% ou menos ao ano nesta quarta-feira. A diferença entre um corte de 0,25 ou 0,50 ponto percentual está na sinalização que o Banco Central dá ao mercado, que por sua vez faz projeções futuras de juros e inflação.

Dos cinco economistas ouvidos, quatro apostaram em um corte de 0,25 ponto e um apostou em 0,50 ponto percentual. Alguns admitem que chegaram a considerar um corte de 0,50 ponto este mês, mas não viram uma evolução do cenário que incentivasse o aumento no ritmo de flexibilização.

São basicamente duas as variáveis apontadas para justificar a aposta na decisão mais conservadora. Uma delas é o crescimento da produção industrial interna. A outra é o aumento da incerteza quanto ao cenário internacional, que vem gerando maior volatilidade por aqui.

A produção industrial brasileira surpreendeu o mercado em agosto, com um crescimento de 1,1%. Segundo Alex Agostini, economista-chefe da Global Invest, a alta foi muito forte e teve como destaque o crescimento do setor de bens de capital. Ele afirma que a renda do trabalhador também cresceu e o cenário interno se manteve positivo, levando até a um "upgrade" do conceito de risco do país.

- Para o Banco Central, é muito interessante combinar o crescimento da economia e o controle de preços. E como ele está sendo bem-sucedido nesse objetivo, não há motivo para alterar o ritmo de cortes nos juros - disse Agostini.

Quem também vê na atividade econômica um risco é o economista Luís Fernando Lopes, do Banco Pátria. Ele afirma que apesar dos juros brasileiros estarem em patamares elevados, os números fortes da indústria comprovam que não há risco de recessão. Com isso, o BC fica mais à vontade para continuar focado nas metas de inflação.

- Não há motivo para aumentar o ritmo de queda dos juros, uma vez que os núcleos da inflação mostram que a projeção para 2006 está acima da meta (4,5%). E tudo indica que a fase de deflação já está desaparecendo - afirmou Lopes, que também aposta em um corte conservador na taxa Selic, de 0,25 ponto percentual.

O cenário internacional tem gerado um grande sentimento de indefinição nos negócios no Brasil, o que vem gerando volatilidade nos últimos dias. Essa é uma das preocupações de Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management. A dúvida é quanto ao fluxo internacional para os mercados emergentes, a partir de um aumento de juros mais forte nos Estados Unidos.

- O cenário externo está escorregando e acho que o conservadorismo dá um custo-benefício maior para o Banco Central. Além disso, o juro no atual patamar não está exercendo forte pressão sobre a atividade, nem sobre o câmbio - disse ele.

Na opinião de Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, são quatro os fatores que indicam um corte de 0,25 ponto na taxa Selic. Ele cita a produção industrial em patamares elevados, a volatilidade externa, a aceleração da inflação nas últimas semanas e o próprio conservadorismo do Banco Central.

- O contraponto para esses fatores é que melhorou a expectativa de inflação para 2006. Creio que o BC poderia se mais flexível, mas temos de lembrar que ele costuma agir com conservadorismo - afirma.

Representando a parcela do mercado que aposta no corte de 0,50 ponto está Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. Ele ressalva que o crescimento da indústria revela um aumento nos investimentos. Com isso, a indústria estaria apontando para um crescimento equilibrado, sem o risco de comprometer o potencial de produção.

- Embora os números da produção industrial tenham vindo fortes, há uma desaceleração entre o segundo e o terceiro trimestre, o que mostra que não há riscos de desequilíbrio. Mantemos a aposta em 0,50 ponto de queda, porque consideramos que há condições no cenário para isso - afirma.

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