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Finanças

Rico paga para se divertir, renda do pobre só dá para comer

Os 6,9 milhões de brasileiros mais ricos gastam com jóias, bijuterias, sabonetes, brinquedos e jogos mais do que os 54 milhões de brasileiros mais pobres gastam com a compra de frango. Este conjunto de produtos adquiridos pela classe A1, o topo da pirâmide social, com renda mensal acima de 30 salários mínimos (R$ 9 mil) soma por mês um gasto de R$ 91,6 milhões. Enquanto isso, a classe E, cuja renda alcança no máximo dois salários mínimos mensais (R$ 600), consome por mês R$ 65,5 milhões em frango. Com arroz, o gasto é de R$ 98 milhões. Os dados fazem parte do ProConsumo, uma base de dados desenvolvida pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) em parceria com a consultoria Tendências.

- A má distribuição de renda e a falta de políticas públicas de inclusão dessas pessoas deixam fora do mercado consumidor uma população superior a de muitos países. Nada menos do que 30% dos brasileiros estão alijadas da atividade econômica - afirma Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomercio.

Enquanto os 6,9 milhões mais ricos consomem R$ 58,3 milhões em carne bovina de primeira, os 54 milhões mais pobres gastam menos da metade, R$ 26,8 milhões. Na mesa da classe E entra a carne de boi de segunda, com volume de vendas de R$ 50,4 milhões. O gasto com brinquedos e jogos, que na classe A1 chega a R$ 37,8 milhões, na E não passa de R$ 7,1 milhões.

Segundo a Fecomercio, apenas a despesa das famílias paulistanas da classe A1 soma R$ 3,5 bilhões e supera o gasto total de toda a região Norte do país, acrescido o estado de Alagoas. As despesas com festas e cerimônias dos ricos da capital paulista é maior do que o consumo de arroz, feijão e cereais de 12 estados do país.

- O maior absurdo é que o imposto direto é o 16º item da lista de gastos dos mais pobres. Dos mais ricos, é o segundo. O problema é que o imposto sequer deveria aparecer na lista de pessoas que só consomem para sobreviver - diz Carvalho.

Para o economista, a melhoria de renda e a inclusão da classe E no mercado de consumo passam por uma política de crescimento do país e o primeiro passo é conhecer a realidade com dados. Ele critica, por exemplo, o fato de o governo suspender pesquisa de contagem populacional e senso agropecuário por falta de recursos, quando 1% do juro básico, a taxa Selic, consome 10 vezes o valor que custaria as duas pesquisas.

- Causa desalento a falta de política social. Não existem planos de médio ou longo prazo para inserção - afirma.

Carvalho afirma que a exclusão da classe E do mercado consumidor gera prejuízos para o país, pois atrairia investimentos e desenvolvimento se fosse revertida. Ele lembra, por exemplo, o boom de consumo de produtos como frango e iogurte (só para citar dois exemplos) em 1994, quando a inflação foi controlada e os mais pobres deixaram de perder com a escalada de preços.

- Ao contrário do que se previa, não houve tensão inflacionária. O aumento do salário mínimo, se bem planejado, não geraria inflação.

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