Equipes autogerenciáveis na PepsiCo cuidam de tdoa a rotina de produção da fábrica| Foto: Guilherme Pupo

Maturidade

Modelo funciona com interferência mínima e sem supervisão direta

Na prática, as equipes trabalham de forma autônoma, sem a supervisão direta de um chefe. Cabe aos profissionais buscar soluções para os problemas do dia e, principalmente, tomar decisões sem o aval de um líder. A principal questão não é o conhecimento técnico para resolver problemas – competência que a maioria dos funcionários tem de sobra –, mas as habilidades de relacionamento que precisam ser desenvolvidas para que haja, de fato, autonomia para tomar decisões individuais e em conjunto, ressalta Arthur Luiz Withers, analista de Recursos Humanos da Volvo.

Para que o modelo funcione, contudo, a empresa precisa desenvolver um ambiente propício. Migrar do modelo tradicional de comando para o descentralizado não é algo que possa ser feito do dia para a noite. Além disso, nem todas as empresas estão preparadas para implantar um modelo de gestão de pessoas autônomo. "Quando você dá autonomia é preciso estar preparado para saber o que fazer com o resultado disso. Não há nada mais desmotivador do que não ter resposta para as demandas. É muito fácil fazer isso numa empresa que dá estabilidade e dá condições", destaca Withers. Outro ponto importante, segundo ele, é que não se trata de abolir a figura do chefe, mas de minimizar ao máximo o seu papel e a sua interferência.

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Status

O maior desafio não foi fazer com que as pessoas assimilassem e desenvolvessem o aprendizado técnico e relacional para trabalhar no novo modelo, sem chefia direta, mas convencer as os profissionais que ocupavam cargos de chefia a deixar a função. "Para algumas pessoas, não é fácil entregar o poder", afirma Agenor Junior, da PepsiCo.

Figura importante e controversa em qualquer ambiente de trabalho, o chefe vem perdendo espaço em algumas empresas com a adoção de um modelo diferente de gestão de pessoas: os times ou equipes autogerenciáveis. O modelo privilegia a autonomia dos profissionais e reduz ao máximo o papel do líder, mas também aumenta as responsabilidades.

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As empresas que implantaram a estrutura horizontal de gestão conseguiram reduzir os níveis hierárquicos, diminuindo gargalos de comunicação e aumentando a produtividade. Exemplos importantes vêm das linhas de produção de duas multinacionais que implantaram o conceito há mais de dez anos: a americana PepsiCo e a sueca Volvo.

Na Volvo, a atualização da planta para produzir um novo caminhão, em 1998, foi o pontapé para a implantação do modelo, conta Arthur Luiz Withers, analista de recursos humanos que acompanhou o processo desde o início. "A atualização da planta dependia de uma mudança na estrutura e no modelo de gestão de pessoas. Havia razões para mudar e a empresa estava disposta a fazê-lo. Tínhamos a necessidade enorme de melhorar o fluxo de informação entre os níveis, aumentar o comprometimento dos funcionários, incentivar a criatividade e aumentar a produtividade", explica.

Na PepsiCo, mais de 700 funcionários das fábricas de snacks, incluindo os 128 da planta de Curitiba, trabalham com o modelo de Times Autogerenciáveis (TAG), muito deles desde 2001. O time de operadores multifuncionais desenvolve, sem supervisão direta, a rotina de produção, decidindo sobre a programação da linha e avaliando os resultados do próprio grupo, aspecto que inclui a definição de aumentos salariais e promoções. Hoje, a empresa trabalha com apenas dois níveis hierárquicos na fábrica: gerentes e operadores multifuncionais.

"Dentro do ambiente convencional sempre tem um chefe que dá o direcionamento dos assuntos no chão da fábrica. Isso engessa a tomada de decisões. Nesse modelo, todo mundo é, em alguma medida, responsável por todo o processo. Recursos humanos, qualidade, controle de desperdício, tudo isso acontece dentro da fábrica", afirma Agenor Junior, gerente de manufatura da fábrica da PepsiCo em Curitiba.

Ganhos

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Em ambas as empresas, um dos aspectos mais positivos do novo modelo foi o aumento da velocidade de resposta para problemas e demandas na linha de produção. Todos são responsáveis pelo processo, inclusive pelas melhorias. "Cada funcionário tem a meta de dar 16 ideias de melhorias por ano. A prática foi um sucesso no Brasil, que tem o maior índice de melhorias do Grupo Volvo no mundo", afirma Withers. Na PepsiCo, as equipes autogerenciáveis resultaram em um aumento de 341% no número de promoções em relação o processo convencional. "A autonomia abre novos horizontes de crescimento para os profissionais. Para a empresa, a busca de soluções compartilhadas encurta o caminho para a resolução dos problemas", completa Junior.