O olhar para o outro - aquele que não sou eu - difere de pessoa para pessoa e isso faz muita diferença no relacionamento pessoal, profissional, na educação e na comunicação de forma geral.
Esse olhar pode ser atento e sensível de tal modo que perceba as sutilezas das mensagens que o outro envia. Porque ele sempre envia de modo inconsciente, consciente, verbal ou não e quando não é explícito exige maior cuidado. Mas a mensagem está ali, à nossa frente, e pode ser enviada pelo olhar, pelas mãos, pelo corpo, por um detalhe sutil na postura. Sabe-se que a postura ou linguagem corporal é o maior percentual de comunicação, no entanto, poucos profissionais ficam atentos ou respeitam essa forma indireta de comunicar. Ela pode ser vital na hora de uma conversa séria com uma chefia, na venda de um produto ou uma idéia, na explanação para poucos ou muitos. Estar desatento pode frustrar sem razão porque, repito, os sinais são sempre emitidos pelo outro. Integrei um grupo de trabalho semanal em que participavam pelo menos quatro pessoas. Três delas eram extremamente organizadas, uma delas o presidente da empresa e apenas uma era mais displicente em relação ao material de apoio, apesar de ser ótimo profissional. Nunca levava caneta, lápis ou pape,l o que incomodava a todos. A cada vez que precisava escrever algo, além de pedir papel o que obrigava alguém a levantar (e diga-se de passagem, lhe era dada apenas uma folha a cada vez) "roubava" a caneta de quem estava ao lado. Essa pequena bobagem é curiosa. Se observarmos a linguagem não explícita que rolava paralela aos temas relevantes em discussão poderia até ser engraçado.
Porém, aquele que ocasionava o jogo sutil da caneta e do papel, ele mesmo não tinha a menor idéia da "conversa" não explícita entre os outros participantes. Não caberia neste espaço a seqüência de todos os sinais emitidos, mas eles estavam lá, presentes e evidentes.
Olhar o outro - aquele que é diferente, distinto, diverso - significa estar disponível, sensível, atento. É preciso querer olhar de fato e isso exige respeito, paciência, cortesia, consideração, delicadeza e uma certa dose de generosidade. Quem sabe, amor. O olhar atento pouparia muitas negativas, rejeições, antipatias, afastamentos sutis. Nestes casos, a sensibilidade vai além da educação, ela se revela um modo de estar no mundo.
Maria Christina de Andrade Vieira, empresária e escritora, autora de Herança (Ed.Senac-SP), Cotidiano e Ética: crônicas da vida empresarial (ed. Senac-SP).chris@onda.com.brwww.andradevieira.com.br