Desde abril deste ano, 30 servidores públicos da Secretaria da Fazenda de São Paulo podem escolher dois dias da semana — exceto as segundas e sextas — para trabalhar em casa. Parte de um projeto-piloto que vai até setembro, a iniciativa parece uma novidade no serviço público brasileiro, mas não é.
Embora pouca gente saiba, muitos órgãos públicos já adotam o home office em determinadas atividades há alguns anos. Além do Tribunal de Contas da União (TCU), que foi pioneiro na adoção do trabalho remoto, outros órgãos, especialmente do Judiciário, têm servidores trabalhando em casa. É o caso do Tribunal Superior do Trabalho (TST) , Tribunal de Justiça São Paulo (TJSP), Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJPE), além do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Superior Tribunal Federal (STF).
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Metas maiores para quem trabalha em casa. Faz sentido?
Seja em caráter experimental ou não, a verdade é que o trabalho remoto — uma realidade bastante conhecida das grandes empresas — está avançando também no setor público — e tende a crescer ainda mais.
No fim de junho, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin sancionou uma lei que permite que servidores públicos do estado trabalhem de casa. A iniciativa de São Paulo pode inspirar outros estados a ir pelo mês mesmo caminho.
Sobretudo, se o projeto de lei 2723/15 aprovado no ano passado pela Câmara virar lei. De autoria do deputado federal Daniel Vilela (PMDB-GO), ele autoriza os servidores públicos da administração direta dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, autarquias e fundações federais a trabalharem em casa, desde que os resultados do trabalho possam ser efetivamente mensurados.
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Hora de voltar ao escritório
Curiosamente, o avanço do home office no serviço público brasileiro ocorre justamente no momento em que a IBM (pioneira na implantação deste modelo de trabalho no mundo), mandou seus profissionais de Marketing, Design, Segurança e TI que atuavam remotos em todo os EUA voltarem novamente para os escritórios— em 2007, último dado divulgado, a empresa chegou a ter 40% da sua força de trabalho operando em home office.
O fim do home office na IBM não significa, contudo, que o trabalho remoto não funciona ou não tenha funcionado na empresa — a própria IBM divulgou pesquisas próprias que confirmavam os benefícios do modelo para a companhia —, mas reforça uma questão crucial sobre o home office, seja no setor privado ou no público: não funciona para todas as empresas e profissionais, assim como em todas as atividades e em todos os momentos, argumenta André Brik, especialista em home office do Instituto Trabalho Portátil. E é preciso saber avaliar isso.
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No caso da IBM, o fim do trabalho remoto tem a ver com o atual momento da empresa, de transição, dificuldades e desafios. “Aconteceu a mesma coisa com o Yahoo em 2013. Quando a Marissa Mayer assumiu, ela trouxe os funcionários de volta para o escritório”, diz Brik.
O importante é saber avaliar quando o home office pode ser uma boa opção e quando é a hora de voltar ao escritório. Para Mário Procopiuck, professor do programa de pós-graduação em Gestão Urbana da PUCPR e pesquisador da áreas de gestão pública, há momentos em que a manutenção e o crescimento do capital intelectual de uma empresa exigem que os profissionais estejam juntos no mesmo espaço.
“Quando você isola as pessoas, você reduz de forma significativa o compartilhamento de conhecimento. A IBM hoje precisa de inovação, que só vai acontecer em um ambiente rico em troca de informações e conhecimento”.
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No serviço público, transparência é fundamental
Embora não veja diferença entre o home office no setor público e privado, Procopiuck acredita que o avanço do trabalho remoto no serviço público tende a sofrer mais resistência da sociedade pela sua própria natureza e, justamente por isso, precisa ser pautado pela absoluta transparência. “O órgão público que adotar o home office precisa estar preparado para prestar satisfações à sociedade”, diz ele.
Mas não é só isso. Tão importante quanto à transparência é a quantificação desse trabalho. Assim como nas empresas, as repartições públicas também tem que ter critérios e métricas para acompanhar o desempenho dos servidores que trabalham em casa.
“Fomos visitar TCU-SP, TJ-SP e uma multinacional japonesa. Analisamos os três casos para tirar algumas conclusões e buscar um modelo, sobretudo com relação às formas de controle do trabalho remoto. Temos metas mensais, mas o acompanhamento é feito semanalmente”, explica Luiz Cláudio Carvalho, coordenador da Administração Tributária da Secretaria da Fazenda de São Paulo.
Metas maiores para quem trabalha em casa. Faz sentido?
Os servidores do governo paulista, por exemplo, precisam apresentar nos dois dias em que trabalham em casa um ganho de produtividade 15% superior ao que teriam na repartição. Essa, aliás, é uma exigência de todos os demais outros órgãos que têm projetos experimentais e ou fixos de home office. Na maioria dos casos o porcentual é de 15%, mas pode chegar a 30%, como é o caso dos servidores do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJ-PE) que trabalham em home office integral.
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Mas a questão é polêmica. Procopiuck, por exemplo, não concorda com metas maiores para quem trabalha em casa. Para ele, se o órgão decidiu pelo home office, é injusto cobrar mais produtividade de quem trabalha em casa, isso é penalizar o servidor público para dar uma “resposta” à sociedade.
“A questão cultural é uma barreira, mas sociedade tem que ver o servidor como alguém que resolve um problema. Onde ele resolve esse problema não é tão relevante assim”, diz Procopiuck.
Brick tem a mesma opinião: “No público ou no privado, o importante é que a pessoa entregue com qualidade e no prazo”.