A campainha que marca o funcionamento do pregão viva-voz da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) vai tocar pela última vez nesta sexta-feira. Na prática, o tradicional empurra-empurra e a gritaria de operadores já não existem mais na Bovespa, devido ao crescimento das transações eletrônicas. O viva-voz chegou a abrigar mais de 1.500 operadores na década de 80, passando para cerca de 700 na década de 90. Hoje são apenas 40 profissionais.
A extinção dos negócios feitos por apregoamento (daí o nome pregão) de voz encerra a fase mais "artesanal" da bolsa. Nos momentos de crises ou de otimismo, as expressões "mercado nervoso" e "mercado eufórico" sempre foram ilustradas pelos rostos dos operadores do pregão viva-voz, cada um agarrado ao seu telefone sem fio.
Inaugurada em 1890, a Bovespa vem acompanhando as mudanças tecnológicas. Com a nova fase, o espaço de 1.000 metros quadrados onde os operadores se movimentavam terá outra destinação. O local passará por uma reforma que custará R$ 2,5 milhões e será reaberto em 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo.
Com o objetivo de aproximar a bolsa de valores do cidadão comum, a Bovespa vai utilizar o espaço do pregão para visitação pública. Os visitantes terão no local todas as informações sobre investimento em ações, através de meios modernos e interativos. O espaço será dividido em dez ambientes. Neles haverá mesa para simulação de negócios sala para projeção de filme em terceira dimensão, museu interativo e um café entre outras atrações.
A decisão de encerrar o viva-voz era mais que esperada, já que o pregão eletrônico vem avançando gradativamente. Atualmente, apenas 0,13% dos negócios realizados na bolsa são fechados no viva-voz. Esse volume será facilmente absorvido pelos meios eletrônicos, assim como os operadores, que foram treinados para operar por computadores.
- A migração entre estes dois sistemas seguiu uma tendência mundial de modernização de processos tecnológicos ocorridos ao longo da última década. O novo sistema garantiu mais agilidade, mas segurança e maior abrangência de negócios - afirmou a bolsa recentemente em nota.
Em 1990, o número médio de negócios no viva-voz da Bovespa respondia por 89%,91% do total, contra 10,09% do pregão eletrônico. Em 2005, são 0,13% de participação do viva-voz, contra 99,86% do eletrônico.
O operador Edson Leite, o "Melissa", de 46 anos, trabalhou no pregão viva-voz entre 1976 e 1988. Hoje opera de dentro da corretora Planner. Ele diz que tem saudade dos tempos do pregão viva-voz assim como uma pessoa que lembra do fusca que dirigia em tempos antigos.
- A gente sente diz que tem saudade do fusca, mas quer mesmo é andar de Ferrari - afirma.
Leite afirma que a tecnologia trouxe uma eficiência e rapidez incomparáveis aos negócios na Bovespa, principalmente no que diz respeito à comunicação online com mercados internacionais. Em mais de 11 anos no pregão, ele se lembra de momentos divertidos e de muito estresse.
- Foram anos marcados por fases bem diferentes, com planos econômicos, mudanças de moeda e também do perfil dos profissionais. Acho que a mudança é positiva para a bolsa - afirma.
Em frente à sede da Bovespa, no centro da cidade de São Paulo, continua a funcionar um agitado pregão viva-voz. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), cerca de 800 operadores trabalham a todo vapor e aumentam a cada ano o volume de negócios. No pregão viva-voz da BM&F já foram fechados este ano 498.150 contratos. Em 2004 foram 528.008. No ano 2000, o viva-voz da BM&F registrou 125.950 contratos.
Em décadas de negociação, os operadores do viva-voz desenvolveram gírias e jargões específicos para esse tipo de trabalho. A maioria das expressões tem como objetivo agilizar e facilitar a comunicação, além de evitar mal entendidos. Veja algumas dessas gírias e seus significados.
- Andar de lado: quando os ativos operam estáveis ou com oscilações pequenas.
- Bater: vender
- Chapa branca: intervenção do governo no mercado, geralmente através de uma instituição financeira.
- Day-trade: operação de compra e venda de um mesmo ativo em um único dia.
- Intra-day: operação de compra e venda de um mesmo ativo, de um dia para o outro.
- Derreter: forte queda de uma ação.
- Dormir posicionado (ou dormir comprado): quando o investidor mantém uma posição significativa de ações em um período em que a bolsa estará fechada, como um fim-de-semana.
- Duque: 200
- Quina: 500
- Galo: 50
- Espirrar: oscilação brusca.
- Estar zerado: abandonar uma posição em ações ou outro ativo.
- Financiar: quando é comprada uma ação no mercado à vista e vendida outra no mercado de opções.
- Micar: quando um ativo perde seu valor.
- Papel: ação
- Pagão: quando o investidor está disposto a pagar até determinado preço por um ativo.
- Pesado: mercado que está na iminência de uma realização de lucros.
- Quilo: milhão.
- Realizar lucro: vender ações para recolher os ganhos obtidos em um determinado período.
- Reversão: venda de uma ação no mercado à vista para a compra de um papel no mercado de opções.
- Stop-lost: preço limite de perda estabelecido pelo investidor, a partir do qual se costuma abandonar a posição.
- Tomar calor: quando não se concretiza a aposta que o investidor fez em uma determinada ação.
- Trader: profissional que opera no mercado financeiro.
- Vendido: investidor que vendeu ou está vendendo os ativos.
- Virar pó: termo usado no mercado de opções para quando o ativo perde todo o seu valor.
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