Muitos conceitos de gestão podem ser aprendidos no ambiente familiar, por meio das relações de amizade e até mesmo com a natureza. Estamos cercados de bons exemplos que têm a possibilidade de ser aplicados (com alguma adaptação) para motivar equipes e auxiliar no planejamento ou na organização do trabalho. Na história de hoje, a natureza serviu de parâmetro para o personagem. Fernando é um profissional que trabalha duramente visando a melhorias para sua empresa. Mas como muitos outros gestores, queixava-se de seus subordinados, principalmente no tocante à baixa produtividade, aos maus hábitos e à resistência em relação a mudanças. Ele, que reclamava freqüentemente, já não sabia mais como resolver os pequenos problemas de relacionamento ou de competência surgidos entre sua equipe, quando certo dia ganhou de um amigo um livro sobre o cultivo de plantas.

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Inicialmente, Fernando estranhou o tema daquela obra, pelo qual jamais havia se interessado. Porém, a insistência do amigo fez com que o executivo deixasse de lado o preconceito e se entregasse à leitura. Ao finalizá-la, notou que poderia inserir em sua empresa os ensinamentos contidos no livro. Depois de experimentar sua teoria, surpreendeu-se com os ótimos resultados obtidos.

Fernando começou a pensar em seus empregados como se fossem sementes. Em primeiro lugar, lembrou que para conseguir bons frutos é necessário escolher adequadamente o lugar para plantá-las. O mesmo valia para os profissionais, que, para apresentar bons resultados, precisam estar em funções condizentes com o seu perfil. Atentou também para o fato de que, para garantir o desenvolvimento saudável da planta, é preciso vigiar a semente, regando-a de tempos em tempos. E percebeu que os funcionários, da mesma maneira, necessitam de acompanhamento e motivação para não "secar".

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Comparou ainda: para que uma muda não seja sufocada, o terreno deve ser mantido limpo, evitando, assim, o surgimento de ervas daninhas; com base nisso, o bom profissional não poderia ter seu espaço prejudicado por fofocas e intrigas. Por fim, memorizou: o tempo de crescimento e amadurecimento de cada planta deve ser respeitado. Se colhida antes do tempo, será miúda; se passar do ponto, será dura, de sabor acre ou podre. Em função disso, entendeu que as pessoas requerem um período para amadurecer na empresa ou em seu cargo para que possam adquirir confiança e experiência. Mas se esquecidas em postos que não oferecem estímulo ou desafios, podem se tornar amargas e insatisfeitas.

Entretanto, o que auxiliou Fernando a modificar, para sempre, as relações humanas em sua organização foi o conceito mais simples utilizado em uma horta. O gestor aprendeu que se plantasse alfaces jamais colheria morangos. Por isso, Fernando passou a selecionar melhor as pessoas que ocupariam cargos de confiança e de responsabilidade maior na firma. O administrador compreendeu que não basta acreditar na capacidade de um funcionário para realizar determinada função. É necessário identificar quem é, verdadeiramente, capaz de executá-la.

As limitações dos colaboradores devem ser levadas em conta pelo gestor, bem como as habilidades e competências. A sensibilidade para perceber o potencial de cada um ou para garantir um ambiente propício ao crescimento profissional é uma das principais características de um chefe de sucesso. Saber distinguir alfaces de morangos parece simples, ao passo que a comparação entre ambos soa enfadonha. Porém, muitos administradores ainda cometem equívocos tentando transformar a hortaliça em fruta. Isto é, sem oferecer treinamento apropriado ou condições técnicas para a execução de um serviço, algumas organizações exigem resultados absurdos. Ou solicitam aos profissionais resoluções para tarefas que estão acima de suas possibilidades de contribuição. Em contrapartida, essas mesmas empresas deixam de cobrar resultados de colaboradores com mais tempo de casa ou com maior carisma. E essa postura, pouco exigente, dificulta o desenvolvimento do potencial e dos talentos, negando à semente a oportunidade de prosperar.

Bernt Entschev é presidente do Grupo De Bernt. Empresário com mais de 36 anos de experiência junto a empresas nacionais e internacionais. Fundador e presidente do grupo De Bernt, formado pelas empresas: De Bernt Entschev Human Capital, AIMS International Management Search e RH Center Gestão de Pessoas. Foi presidente da Manasa, empresa paranaense do segmento madeireiro de capital aberto, no período de 1991 a 1992, e executivo da Souza Cruz, no período de 1974 a 1986.