Terra materna da nossa língua oficial, Portugal é a escolha mais óbvia quando falamos de brasileiros mudando-se para a Europa. A familiaridade com o idioma e o passado comum tornam menos brusco o choque cultural dos imigrantes e, segundo dados fornecidos à BBC Brasil pelo Ministério da Justiça luso, mais de 87 mil cidadanias portuguesas foram concedidas a brasileiros entre 2010 e 2016.
E esse número deve crescer ainda mais já que, em abril, o Conselho de Ministros de Portugal afrouxou a lei de imigração, que agora permite que netos de portugueses nascidos fora do país peçam a nacionalidade portuguesa independentemente da situação de seus pais.
Mas a dupla cidadania não é o único jeito de garantir o direito de morar em Portugal e, à medida que cada vez mais brasileiros saem definitivamente do país, muitos procuram uma alternativa para mudar de vida nos classificados lusitanos. Encontrar uma oportunidade de emprego e garantir uma vaga é a única forma para receber um visto de trabalho, afirma Vera Queiroz, especialista em vistos europeus da Globalvisa.
Prepare-se para entrar de cabeça na papelada
Como a Gazeta do Povo já mostrou, ter um emprego já engatilhado também é fundamental para conseguir vistos de trabalho para os Estados Unidos e Canadá.Portanto, quem quer atuar profissionalmente em Portugal deve ter paciência para lidar com a papelada. “O processo é rápido, porém burocrático”, explica Vera.
A empresa contratante deve fornecer ao novo funcionário o contrato de trabalho ou carta convite de trabalho e uma declaração do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP, órgão do governo de Portugal) provando que a empresa divulgou a vaga, antes de contratar um estrangeiro, no mercado local.
Esses dois documentos devem ser levados – junto de outros como passaporte, comprovante de pagamento da taxa e formulário de pedido de visto – a um consulado português no Brasil para que o processo de pedido de visto possa ser iniciado.
São duas opções principais de visto para empregados: o D1, para profissionais subordinados, e o D2, para profissionais liberais. O engenheiro de software Tiago César Oliveira foi construir um novo lar em Lisboa há pouco mais de um ano com o visto D2. Chegando lá, porém, teve que ir ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e entrar com o pedido de residência permanente para poder ficar em solo português por mais do que os quatro meses que o visto autoriza.
Ele foi contratado por uma consultoria de TI após a indicação de um amigo, também brasileiro. “A empresa teve boas experiências com brasileiros, então ele me indicou, eles me entrevistaram e gostaram do meu perfil. De lá pra cá isso se intensificou”, conta. Segundo ele, mais da metade dos funcionários da empresa são brasileiros.
Qualidade de vida, mas sem esbanjar
O mundo dos contos de fadas, naturalmente, não existe. Porém, é fácil esquecer disso em meio à empolgação de uma grande mudança de vida.
“É preciso desmistificar isso. A vida aqui é muito, muito boa. Em vários aspectos melhor que no Brasil, porque vemos que uma série de coisas que lutamos para ter [no Brasil], aqui são corriqueiras”, diz Tiago, referindo-se à qualidade da educação, saúde e segurança. “Mas a mudança não significa uma melhoria em 100% dos aspectos”, pondera.
Para ele, o preconceito com imigrantes – especialmente quando leva-se em consideração o estereótipo criado ao redor das mulheres brasileira – não pode ser ignorado. Além disso, conta que os salários não são tão altos. Outra expectativa frustrada foi em relação à vida profissional da esposa, que está tendo dificuldades com o mercado de trabalho e, por isso, considera a possibilidade de não ficar permanentemente no país.
“Fora da TI o mercado é bem menos favorável”, conta o engenheiro de software. “O mercado em Portugal busca mais por pessoas altamente qualificadas em informática, área de logística e profissionais na área da saúde - enfermeiros, médicos, dentistas”, enumera Vera Queiroz. De acordo com ela, também é grande a procura por trabalhadores domésticos, cozinheiros e motoristas.
Mais informações podem ser encontradas no site do consulado português.
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