Sérgio acordou na hora de sempre, vestiu-se, tomou seu café com a esposa e partiu para pegar o ônibus em direção ao trabalho. Alegrou-se por ver que o veículo estava vazio, com lugar para sentar. Ele nem se lembrava da última vez que havia conseguido um assento no ônibus, pois estava sempre lotado.
Chegou à empresa a tempo e foi se trocar, colocar seu macacão e seus equipamentos de segurança. Foi cumprimentado entusiasticamente pela recepcionista, que nunca havia lhe dirigido um sorriso. Achou estranho, mas gostou muito das boas-vindas. Conversou brevemente com a equipe, que apresentava excelente humor naquela manhã. Riu muito de algumas das piadas contadas pelo colega mais sisudo e sentiu que aquele seria um ótimo dia.
Na linha de produção, percebeu que todos os equipamentos estavam em perfeito funcionamento - mesmo a bendita máquina de soldar, que sempre apresentava problemas. As ferramentas estavam organizadas, como se, pela primeira vez, o colega do turno anterior tivesse deixado tudo arrumado para ele. "Que estranho", pensou Sérgio, mas continuou seu trabalho com a calma usual. No meio da manhã, a visita do supervisor foi diferente das inspeções corriqueiras.
Sérgio foi chamado e parabenizado pelo desempenho exemplar. Em oito anos de empresa, ele nunca havia sido cumprimentado por seu trabalho, nem mesmo quando conseguiu evitar desperdícios ajustando de forma diferente uma das máquinas da produção. O elogio lhe deu força renovada, e ele continuou seu serviço com mais vigor pelo resto da manhã.
Durante o almoço, percebeu que o cardápio do refeitório estava diferente, mais saudável e saboroso. "Será que mudaram de fornecedor?", indagou aos colegas. Mas a pergunta se perdeu em meio à discussão acalorada sobre a recente prisão de políticos envolvidos com corrupção. "Quando isso aconteceu?", perguntou Sérgio aos outros. "Não vi nada disso nos noticiários ou nos jornais!" Notou que precisava se informar mais e ficou feliz por ver que a justiça, no Brasil, começava a ser valorizada.
De volta ao trabalho, produziu mais e melhor devido às boas notícias e ao clima alegre e positivo que se instalara naquele dia na empresa. Ao final do dia, o gerente do setor convocou uma breve assembléia e informou que, por conta do esforço apresentado durante todo o ano, a organização iria dividir os lucros com os colaboradores. "Puxa, como as coisas mudaram por aqui", comentou Sérgio, agora estupefato com tanto progresso.
Voltou para casa alegre, cheio de esperança, acreditando em um futuro melhor para ele e para a sua família, uma vez que estava sendo reconhecido por seu trabalho e dedicação. Foi recebido com um sorriso pela esposa, que o esperava com um jantar especial. "Mulher, isso deve ter custado uma fortuna!", exclamou, já aborrecido.
Ela, porém, lhe respondeu que os preços haviam baixado nos mercados, e, por isso, a compra tinha sido mais generosa. Nesse momento, seu filho mais velho entrou pela porta e anunciou que havia passado de ano sem recuperação, pois finalmente a professora de Matemática havia sido didática o suficiente para conseguir ensinar-lhe a matéria.
Sérgio, agora, percebia que algo não estava correto. Preços baixos, notas altas, divisão de lucros, punição para a corrupção. "Como isso era possível?", pensou. "Sérgio, Sérgio!", ouviu ao fundo. Abriu os olhos e avistou a mulher, que o sacudia como em todas as manhãs. "Você está atrasado para o trabalho. Vai perder o ônibus que sempre chega lotado!", completou. Sérgio levantou-se e enquanto se vestia pensou: "É... Só podia ser mesmo um sonho." ***
Em 2007 desejo que todos os profissionais sejam respeitados por seu trabalho e dedicação. Que sejam, também, reconhecidos e recompensados por seu esforço. Desejo, ainda, que o Brasil demonstre sinais de crescimento social e econômico, e que a classe política se conscientize e valorize a ética. Desejo que o sonho de Sérgio, o personagem do artigo, se torne realidade, e que a esperança possa se renovar no coração de cada brasileiro. Um feliz ano-novo para todos! *** SAIBA MAIS...Novidade para 2007 Nos últimos anos, a Capital Humano reservou, semanalmente, um espaço para que a iniciativa privada pudesse divulgar seus projetos de responsabilidade social. Mas em 2007, além de publicarmos, todos os domingos, ações sociais de empresas privadas, falaremos do trabalho de instituições do Terceiro Setor. A partir de agora, a primeira coluna de cada mês terá o espaço Saiba Mais dedicado a essas entidades, para que elas apresentem os projetos sociais que desenvolvem.
Bernt Entschev é presidente do Grupo De Bernt. Empresário com mais de 36 anos de experiência junto a empresas nacionais e internacionais. Fundador e presidente do grupo De Bernt, formado pelas empresas: De Bernt Entschev Human Capital, AIMS International Management Search e RH Center Gestão de Pessoas. Foi presidente da Manasa, empresa paranaense do segmento madeireiro de capital aberto, no período de 1991 a 1992, e executivo da Souza Cruz, no período de 1974 a 1986