Uma pesquisa realizada na Austrália mostrou que 60% dos jovens do país estão aprendendo profissões que poderão não existir daqui a 15 anos. O motivo: a reestruturação de antigas funções pelas novas tecnologias. O estudo da Foundation for Young Australians (FYA) é uma das muitas projeções recentes que visam compreender o impacto das transformações tecnológicas sobre o mercado de trabalho. A realidade australiana acompanha um fluxo de mudanças intensas nas organizações, que é global.
Um relatório internacional da consultoria Ernst & Young (EY) estima que um em cada três postos de trabalho sejam substituídos por tecnologia inteligente até 2025. A companhia também listou os cinco empregos que deverão sumir. Entre eles estão o de operador de telemarketing, agente de crédito e árbitro.
Olhar para o futuro com esses dados em mãos pode ser assustador. Mas o professor Mario Salerno, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que a mudança é inevitável e pode ser melhor compreendida quando se volta para o passado. Mário lembra o que aconteceu com os alfaiates durante o “boom” da indústria têxtil. Enquanto a maioria deles ficou sem trabalho, o número de vagas nas fábricas superou a oferta de postos de emprego. “É claro que o alfaiate não vira operário, mas estas modificações levam tempo e a sociedade também vai mudando”, diz.
A professora Nanci Stancki da Luz, coordenadora do programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), também toca neste ponto. Ela lembra que as transformações no mundo do trabalho vem acompanhadas de mudanças no perfil das pessoas. “Antigamente, havia o cargo de digitador, que fazia curso para aprender a digitar. Hoje, esta é uma competência básica de todo mundo que tem um computador em casa”, exemplifica.
Mas, ainda segundo Mário, embora esteja ocorrendo de forma gradual, a revolução tecnológica no mercado não deixará de impactar fortemente a população com agravantes como o desemprego. E, na visão do professor, uma economia bem estruturada é fundamental para amortecer os choques que virão.
Ele menciona como exemplo desse fenômeno a substituição de operadores bancários por caixas eletrônicos no fim dos anos 1990. Profissionais que acabaram desempregados naquele período não demoraram muito a serem absorvidos em outras funções, já que a economia brasileira vivia um bom momento e havia bastante oportunidades.
O professor de Administração da FEI Renato Ladeia acrescenta outro ponto determinante para o equilíbrio durante esse período de transição: a melhoria das condições da educação básica. Renato defende que, com boas escolas e foco na formação para a tecnologia, será possível encaminhar ao mercado profissionais preparados para a versatilidade que o mundo tem demandado.
A revolução que já começou
Quando se fala em projeções longas, os números são alarmantes. Mas, a curto prazo, ainda há muitos setores que preveem contratar profissionais mesmo em meio a várias promessas de redução de vagas. Um estudo do ManpowerGroup, consultoria especializada em gestão de pessoas, mostra que embora 90% dos empregadores esperem que a sua organização seja impactada pela digitização nos próximos dois anos, 19% deles planejam aumentar seu pessoal e 64% pretendem manter seus funcionários até 2020. As áreas que mais deverão recrutar são as de Recursos Humanos e TI.
Além disso, o relatório mostra que em torno de 65% das profissões que a geração Z terá ainda nem existem e o que se pode adiantar é que as competências mais buscadas no futuro estarão relacionadas à criatividade, à inteligência emocional e à flexibilidade cognitiva.
Segundo a Diretora de Recursos Humanos do ManpowerGroup, Márcia Almström, quem quer se preparar para não ficar para trás deve reforçar seu potencial nestes quesitos, fomentando mais atributos humanos do que competências meramente técnicas. A regra, de acordo com Márcia, é a mesma para qualquer área - do TI ao financeiro.
Efeitos da revolução tecnológica no trabalho ainda demoram no Brasil
E será que o Brasil já entrou completamente no ritmo que rege o mercado de trabalho em países como a Austrália? Especialistas acreditam que não ainda. Renato associa essa demora a dois aspectos principais: o baixo investimento em ciência e tecnologia e a mão de obra barata que faz com que as empresas deixem de substituí-la por aparatos tecnológicos.
Com relação ao primeiro ponto, o professor explica que, enquanto em países desenvolvidos o investimento em tecnologias é feito por grandes empresas, no Brasil, isso fica a cargo do Estado. E, em um período de crise econômica como o atual, esse tipo de suporte é extremamente reduzido.
“Há levantamentos que mostram, por exemplo, que o Brasil e toda a América do Sul e a África juntos contribuem com menos de 5% do desenvolvimento em pesquisa. De qualquer forma, já é possível ver muita coisa sendo feita aqui, sobretudo, na área agrícola, que é ainda o setor forte da nossa economia”, diz.
Veja quais trabalhos podem desaparecer em 2025 e quais estarão em alta, segundo a EY
- Operador de telemarketing
- Subscritor de seguros
- Reparador de relógios
- Digitador de dados
- Agente de crédito
- Árbitro
- Corretor de imóveis
- Trabalhadores rurais
- Caixa
- “Professional triber” (profissional freelancer especialista em unir pessoas em torno de um projeto comum)
- Professor freelancer
- Fazendeiros Urbanos
- Cuidadores
- Instaladores domésticos especialistas em tecnologia
- Designer de realidade virtual