Solução para ganhar investidores
A inovação dos empresários que tocam o Compra3 se estende à captação de recursos. Para cooptar investidores e fazer com que a empresa andasse sem possíveis interferências administrativas, André Monteiro e Bruno Medeiros criaram duas empresas limitadas, simulando uma companhia de capital aberto. Uma delas é a Compra3, da qual são sócios os dois jovens e a empresa Investment3 esta, por sua vez, é a segunda empresa limitada, de que participam os investidores do negócio. A Investment3 tem 20% de participação na Compra3, porcentual repartido com todos os investidores do projeto. "Assim os investidores não se empoderam de voto e não interferem no negócio; apenas garantem o seu lucro que, afinal, é o seu único interesse", explica André.
O formato foi desenvolvido pelo escritório de advocacia Losso, Tomasetti & Leonardo, do qual faz parte um ex-professor dos empresários, o advogado Rodrigo Xavier Leonardo. "Uma inovação em mercado também exige uma estruturação jurídica que não repita as velhas fórmulas", comenta Leonardo. "Haveria pelo menos outras dez soluções diferentes para o caso deles, como a criação de uma S.A., mas esse é um modelo muito complexo, que não tem compatibilidade com o que eles queriam." (EHC)
Os empresários André Monteiro e Bruno Medeiros mantêm uma pasta em seu computador com 20 projetos, já formatados em um plano de negócios, prontos para serem colocados em prática isso fora as idéias que ainda nem chegaram às planilhas. Com 28 anos e hoje sócios de um site de compras, o Compra3, os dois já participaram de uma porção de empresas, e praticamente qualquer coisa, para eles, é motivo para um novo negócio seja uma viagem de intercâmbio, que rendeu a Bruno a publicação de um livro; ou uma nova lei de trânsito, que fez com que André se tornasse vendedor de kits médicos para automóveis aos 16 anos. Os dois são exemplos de empreendedores para quem a inovação é lei, mas avisam que a idéia não é nada sem esforço e paixão pelo que se faz.
A empresa que hoje tocam juntos, a Compra3, é exemplo de uma boa idéia que estaria fadada ao fracasso sem as reinvenções dos dois sócios. O site de compras pela internet reúne pessoas que compram ou estão interessadas em comprar um mesmo produto, para que o seu preço seja o menor possível quanto maior for o número de compradores. É o tipo de situação em que todo mundo sai ganhando: quem compra consegue um preço menor, e quem vende fecha um negócio mais graúdo. Parece simples e brilhante, mas todas as pesquisas que André e Bruno fizeram de experiências semelhantes no mundo mostravam que a idéia não havia dado certo. "Não dá para mudar o padrão de compra do consumidor, que é por impulso. Muito pouca gente está disposta a esperar um mês pela formação de um grupo para comprar uma televisão com desconto. Quem tem o dinheiro vai comprar na hora, independentemente se há desconto ou não", explica André.
Em dezembro de 2006, após alguns meses de pesquisas, os dois sócios lançaram o Compra3 com produtos de alto valor agregado, como eletrônicos e eletrodomésticos, esperando que os altos valores dos descontos compensassem o tempo de espera. Mesmo assim, a demanda ainda era pequena. O pouco dinheiro que entrava não era suficiente para manter o pequeno escritório dos dois jovens, que tiveram a luz, o telefone e até a internet cortada. "Por dois meses, nós tivemos de ir a cafés com internet livre para trabalhar", lembram.
A virada
As dificuldades foram o pontapé inicial para pensar em como reinventar o negócio. Ainda confiantes na idéia que tinham, André e Bruno foram atrás de investidores que estivessem dispostos a apostar no negócio. Diante da negativa de grandes empresas, os dois procuraram pequenos investidores que comprassem cotas de baixo valor. A primeira cota, de R$ 5 mil, foi vendida ainda em um daqueles cafés com internet em que os jovens trabalhavam nos tempos de dureza. Aos poucos, a empresa foi tomando corpo e grandes investidores passaram a apostar no Compra3.
Com o dinheiro no bolso, André e Bruno aumentaram a equipe, investiram em tecnologia, montaram uma campanha publicitária e, naturalmente, mudaram o modelo do site, que até então havia praticamente fracassado. O trunfo do Compra3 hoje é o Bônus3: o desconto antes prometido com a espera pela formação do grupo de compras agora é fornecido no final do mês, depois de contabilizadas as vendas de um determinado produto. "Isso permite que a gente mantenha o padrão de compra por impulso", explica André. O desconto aumenta de acordo com o número de produtos vendidos, e a diferença volta para o bolso do cliente ou revertida em crédito para novas compras.
O novo modelo fez sucesso. No ar desde dezembro do ano passado, o Compra3 já reúne 600 mil produtos de dez lojas diferentes e 10 mil usuários cadastrados em todo o país o objetivo é chegar aos 150 mil até dezembro. A grande escala permite que os descontos atinjam de 10% a 35%, mas André e Bruno pretendem chegar ao patamar de 50%. Hoje, os maiores descontos estão em livros e produtos de perfumaria, mas o carro-chefe do Compra3 são tevês e geladeiras.
Aprendizado
Para André, a principal lição da experiência é que empreender é um processo de aprendizado, que envolve reinvenção e paixão. Parece mais um bordão daqueles, mas não na boca dos jovens empresários. "O Compra3 tem princípios e valores muito alinhados com o que acreditamos", explica Bruno. "Um professor nosso da faculdade dizia que as formas que temos para melhorar a condição de vida das pessoas por meio da economia são elevar salários ou reduzir os preços. Escolhemos reduzir os preços." André complementa: "Com o Compra3, nós exploramos ao máximo o potencial da coletividade."
Com o dinheiro que conseguem com o Compra3, os dois jovens querem investir em outros tantos projetos que estão engavetados entre eles, um projeto de extensão em que estudantes de economia visitam escolas públicas para ensinar economia básica a adolescentes. "Se tem algo que me incomoda, eu vou procurar fazer algo diferente, e não ficar sentado, reclamando", diz Bruno. Uma postura que os empreendedores aplicam com rigor seja nas empresas que mantêm, seja nos projetos que um dia sonham em fazer.