Bruno Medeiros e André Monteiro, criadores do Compra3: negócio precisou de reinvenção para dar certo.| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Solução para ganhar investidores

A inovação dos empresários que tocam o Compra3 se estende à captação de recursos. Para cooptar investidores e fazer com que a empresa andasse sem possíveis interferências administrativas, André Monteiro e Bruno Medeiros criaram duas empresas limitadas, simulando uma companhia de capital aberto. Uma delas é a Compra3, da qual são sócios os dois jovens e a empresa Investment3 – esta, por sua vez, é a segunda empresa limitada, de que participam os investidores do negócio. A Investment3 tem 20% de participação na Compra3, porcentual repartido com todos os investidores do projeto. "Assim os investidores não se empoderam de voto e não interferem no negócio; apenas garantem o seu lucro – que, afinal, é o seu único interesse", explica André.

O formato foi desenvolvido pelo escritório de advocacia Losso, Tomasetti & Leonardo, do qual faz parte um ex-professor dos empresários, o advogado Rodrigo Xavier Leonardo. "Uma inovação em mercado também exige uma estruturação jurídica que não repita as velhas fórmulas", comenta Leonardo. "Haveria pelo menos outras dez soluções diferentes para o caso deles, como a criação de uma S.A., mas esse é um modelo muito complexo, que não tem compatibilidade com o que eles queriam." (EHC)

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Os empresários André Monteiro e Bruno Medeiros mantêm uma pasta em seu computador com 20 projetos, já formatados em um plano de negócios, prontos para serem colocados em prática – isso fora as idéias que ainda nem chegaram às planilhas. Com 28 anos e hoje sócios de um site de compras, o Compra3, os dois já participaram de uma porção de empresas, e praticamente qualquer coisa, para eles, é motivo para um novo negócio – seja uma viagem de intercâmbio, que rendeu a Bruno a publicação de um livro; ou uma nova lei de trânsito, que fez com que André se tornasse vendedor de kits médicos para automóveis aos 16 anos. Os dois são exemplos de empreendedores para quem a inovação é lei, mas avisam que a idéia não é nada sem esforço e paixão pelo que se faz.

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A empresa que hoje tocam juntos, a Compra3, é exemplo de uma boa idéia que estaria fadada ao fracasso sem as reinvenções dos dois sócios. O site de compras pela internet reúne pessoas que compram ou estão interessadas em comprar um mesmo produto, para que o seu preço seja o menor possível quanto maior for o número de compradores. É o tipo de situação em que todo mundo sai ganhando: quem compra consegue um preço menor, e quem vende fecha um negócio mais graúdo. Parece simples e brilhante, mas todas as pesquisas que André e Bruno fizeram de experiências semelhantes no mundo mostravam que a idéia não havia dado certo. "Não dá para mudar o padrão de compra do consumidor, que é por impulso. Muito pouca gente está disposta a esperar um mês pela formação de um grupo para comprar uma televisão com desconto. Quem tem o dinheiro vai comprar na hora, independentemente se há desconto ou não", explica André.

Em dezembro de 2006, após alguns meses de pesquisas, os dois sócios lançaram o Compra3 com produtos de alto valor agregado, como eletrônicos e eletrodomésticos, esperando que os altos valores dos descontos compensassem o tempo de espera. Mesmo assim, a demanda ainda era pequena. O pouco dinheiro que entrava não era suficiente para manter o pequeno escritório dos dois jovens, que tiveram a luz, o telefone e até a internet cortada. "Por dois meses, nós tivemos de ir a cafés com internet livre para trabalhar", lembram.

A virada

As dificuldades foram o pontapé inicial para pensar em como reinventar o negócio. Ainda confiantes na idéia que tinham, André e Bruno foram atrás de investidores que estivessem dispostos a apostar no negócio. Diante da negativa de grandes empresas, os dois procuraram pequenos investidores que comprassem cotas de baixo valor. A primeira cota, de R$ 5 mil, foi vendida ainda em um daqueles cafés com internet em que os jovens trabalhavam nos tempos de dureza. Aos poucos, a empresa foi tomando corpo e grandes investidores passaram a apostar no Compra3.

Com o dinheiro no bolso, André e Bruno aumentaram a equipe, investiram em tecnologia, montaram uma campanha publicitária e, naturalmente, mudaram o modelo do site, que até então havia praticamente fracassado. O trunfo do Compra3 hoje é o Bônus3: o desconto antes prometido com a espera pela formação do grupo de compras agora é fornecido no final do mês, depois de contabilizadas as vendas de um determinado produto. "Isso permite que a gente mantenha o padrão de compra por impulso", explica André. O desconto aumenta de acordo com o número de produtos vendidos, e a diferença volta para o bolso do cliente ou revertida em crédito para novas compras.

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O novo modelo fez sucesso. No ar desde dezembro do ano passado, o Compra3 já reúne 600 mil produtos de dez lojas diferentes e 10 mil usuários cadastrados em todo o país – o objetivo é chegar aos 150 mil até dezembro. A grande escala permite que os descontos atinjam de 10% a 35%, mas André e Bruno pretendem chegar ao patamar de 50%. Hoje, os maiores descontos estão em livros e produtos de perfumaria, mas o carro-chefe do Compra3 são tevês e geladeiras.

Aprendizado

Para André, a principal lição da experiência é que empreender é um processo de aprendizado, que envolve reinvenção e paixão. Parece mais um bordão daqueles, mas não na boca dos jovens empresários. "O Compra3 tem princípios e valores muito alinhados com o que acreditamos", explica Bruno. "Um professor nosso da faculdade dizia que as formas que temos para melhorar a condição de vida das pessoas por meio da economia são elevar salários ou reduzir os preços. Escolhemos reduzir os preços." André complementa: "Com o Compra3, nós exploramos ao máximo o potencial da coletividade."

Com o dinheiro que conseguem com o Compra3, os dois jovens querem investir em outros tantos projetos que estão engavetados – entre eles, um projeto de extensão em que estudantes de economia visitam escolas públicas para ensinar economia básica a adolescentes. "Se tem algo que me incomoda, eu vou procurar fazer algo diferente, e não ficar sentado, reclamando", diz Bruno. Uma postura que os empreendedores aplicam com rigor – seja nas empresas que mantêm, seja nos projetos que um dia sonham em fazer.