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Trabalhar 4 dias na semana ou fazer hora extra em casa: qual o futuro do trabalho?

Nova tecnologias estão no centro das mudanças nas relações de trabalho.  | /    Foto: Pexels
Nova tecnologias estão no centro das mudanças nas relações de trabalho.  (Foto: /    Foto: Pexels)

No último dia 21 de junho, o fundador da gigante chinesa Alibaba, Jack Ma, virou notícia ao declarar, durante a conferência Gateway ‘17 da empresa, que, nos próximos 30 anos, as pessoas vão trabalhar “apenas 4 horas por dia, talvez 4 por semana”. Apesar de ter ganhado as manchetes, o pensamento por trás da afirmação não tem nada de novo. 

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Em 1930, em seu artigo “Possibilidades econômicas para os nossos netos”, o economista John Maynard Keynes previu que a jornada de trabalho seria drasticamente reduzida, talvez para 15 h semanais, porque as pessoas escolheriam ter mais tempo de lazer, ao invés de passar mais tempo produzindo. 

Segundo o artigo, em cem anos os padrões de vida em “países progressistas” seriam entre quatro e oito vezes mais altos do que aqueles vividos pelo teórico. 

O texto, publicado em meio à crise de 1929, apostava que aquele seria “apenas um período temporário de ajuste” e acertou na mosca. É de se esperar, ainda, que, até 2030, os padrões de vida realmente estejam oito vezes melhores nos “países progressistas”. 

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Porém, segundo o editor de economia do jornal britânico The Guardian, Larry Elliot, Keynes também estava “espetacularmente errado” em acreditar que essa melhora se refletiria uma jornada de trabalho menor. 

“Os trabalhadores no ocidente são obrigados a trabalhar mais e mais para enfrentar o desafio competitivo brutal do oriente. Se Keynes tivesse razão sobre uma vida de lazer, mais de nós estariam trabalhando quatro dias por semana. Como está, a tendência é na direção oposta”, escreveu Elliot em uma coluna publicada em 2008

Segundo uma pesquisa realizada no Reino Unido oito anos depois pela empresa Relate, esse movimento se consolidou: 33% dos trabalhadores dizem que seus chefes acham que o trabalho deve vir antes da vida familiar e 33% também dizem que seu empregador acredita que o funcionário ideal tem que estar disponível 24 horas por dia. 

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Mudanças tecnológicas e demográficas puxam transformações

Em maior ou menor grau, as relações de trabalho mudam à medida que o mundo muda. O economista e reitor da Universidade Positivo, José Pio Martins, enxerga no horizonte o final de uma trajetória que vem acontecendo há décadas: com a automação no campo tomando proporções cada vez maiores, o emprego na agricultura vai acabando. 

“Em dez anos, os Estados Unidos, o maior exportador de grãos do mundo, terá apenas 1% da população na agricultura. No Brasil, hoje temos 12,5% de pessoas vivendo na zona rural. Em uma década, teremos só 5%”, analisa. 

O especialista aposta que esse processo de “robotização” também vai atingir a indústria, o que fará com que uma porcentagem altíssima da população precise atuar no setor de serviços – tanto pessoais, como medicina e beleza, quanto não pessoais, como telefonia. 

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“À medida que a agricultura e a indústria vão por esse caminho, o setor de serviços tende a se expandir. Nenhum robô vai substituir um psicólogo ou um cirurgião cardíaco. E se a economia vai se expandir em áreas como comunicação, educação, turismo, as pessoas que trabalharão em serviços pessoais precisarão ter uma jornada suficiente para ter renda [nesse mercado competitivo]”. 

Uma pesquisa realizada pela consultoria PwC em 2014 mostrou quais as tendências que devem transformar a forma como as pessoas trabalham nos próximos 5 a 10 anos. A maioria das apostas está em avanços tecnológicos, escassez de recursos e mudanças climáticas, alterações no poder econômico global e mudanças demográficas. O levantamento, que contou com 10 mil participantes na China, Alemanha, Índia, Reino Unido e EUA, faz parte do relatório “O futuro do trabalho: uma jornada a 2022” (em tradução literal). 

Partindo dos resultados estatísticos, o relatório imaginou três cenários para modelos de negócios e organizações: um em que grandes corporações dominam, um em que companhias se dividem em redes colaborativas de organizações menores e um terceiro em que a responsabilidade social domina a agenda das empresas. 

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“O fio condutor de todos eles é a transformação digital: o trabalho do futuro sofre um impacto forte da revolução digital e como consequência o conteúdo desse trabalho se torna cada vez mais intelectual”, explica João Lins, sócio da PwC Brasil e líder em People&Change.

Vantagens e desvantagens das novas tecnologias

Outro levantamento da PwC, do qual participaram gestores de recursos humanos de 113 grandes empresas brasileiras em 2015, apontou para vantagens do uso de novas tecnologias nas relações de trabalho, como promover mais autonomia e criatividade para executar tarefas. Porém, outros aspectos, como a dificuldade de separar vida pessoal e profissional e delimitar a quantidade de horas trabalhadas também entram na conta. 

“No Brasil e no geral, as empresas estão encontrando mais componentes positivos associados a essa transformação do que negativos, mas é inegável que tem esses dois tipos de impacto. É o desafio do século 21: como equilibrar essas duas coisas”, afirma Lins. 

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“O mundo da tecnologia, no fundo, nos obrigou a trabalhar mais”, acrescenta Martins. Ele conta que, antes do celular e da facilidade do acesso à internet, o trabalho não ocupava tanto espaço em casa. “Parece que eu estou em casa descansando, mas, na verdade, estou trabalhando”.

O sócio da PwC diz acreditar, porém, que existe uma tendência a diminuir a jornada de trabalho sem perder rendimento. “É inegável que a revolução tecnológica está trazendo grande produtividade, possibilitando que se faça muito mais dentro da jornada que temos hoje”, diz. “É muito difícil generalizar porque é muito diferente de segmento para segmento. Há uma tendência para trabalhar menos horas, mas não aposto em mudanças radicais”.

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