Certamente você já ouviu aquela história de pensar com a “cabeça do dono” do negócio. Na maioria das empresas, essa expressão não passa de um clichê repetido exaustivamente na tentativa de engajar os profissionais. Não na Verte, uma empresa de São Paulo especializada em comunicação, eventos e viagens.
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Há pouco mais de um ano, a companhia aboliu os cargos de chefia e implantou um modelo de gestão compartilhada em que todos os cerca de 40 profissionais atuam como donos da empresa. Não há mais diretores, coordenadores e gerentes e os departamentos tradicionais – Marketing, TI, RH, Atendimento Corporativo – foram substituídos por três áreas de conhecimento em que os colaboradores se reúnem em pé de igualdade para entregar a melhor solução para o cliente: Design Thinking, Cultura da Disciplina e Geração de Negócios.
Com o modelo horizontal, os profissionais foram convidados a pensar, compartilhar conhecimento, tomar decisões e se responsabilizar por elas. Além disso, eles têm a oportunidade de vivenciar um projeto do início ao fim, explica Erica Isomura, consultora de Cultura e Gestão responsável pela cocriação do novo modelo de gestão da empresa.
E apesar de toda a autonomia dos colaboradores, não há bagunça. Um painel de gestão à vista de todos identifica os projetos em andamento e os profissionais envolvidos. Cada projeto tem um líder, mas Erica faz questão de ressaltar que se trata de um papel temporário, e não um cargo, ou seja, há um trânsito dos profissionais por diferentes áreas e funções, respeitando sempre as competências de cada um.
Não contratamos cargos na Verte, mas pessoas que vêm com o seu repertório de conhecimento. Nos preocupamos em conhecer bem as pessoas para poder usar bem o potencial de cada uma. Quem fica restrito a um cargo está preso numa caixinha. Por isso, incentivamos bastante as pessoas a circularem por diferentes áreas e não ficarem presas a um título. Os cargos existem apenas na carteira de trabalho, mas não dentro da empresa.
De dentro para fora
A gestão compartilhada foi o fio condutor de uma reformulação da empresa que começou quando a Verte ainda se chamava Traveland. “Todo o processo de reformulação foi encontrar um pouco da nossa essência. A gente não era mais só agência de viagens corporativas, mas as pessoas não entendiam o que a gente oferecia no nosso portfólio”, explica Sandra Rossi, fundadora da empresa que iniciou a mudança dentro da organização.
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A mudança de espaço físico, para um andar inteiro de um prédio na Vila Olímpia, foi crucial para que a gestão compartilhada engrenasse. Antes, a Verte ficava uma em casa no Brooklin e cada departamento ficava em um cômodo. O negócio ia bem, mas predominava a sensação de isolamento, conta Sandra.
A gente perdeu agilidade e as pessoas de departamentos diferentes pouco interagiam. Nós queríamos estar mais juntos e compartilhar as experiências de aprendizado
A empresa começou, então, a fazer um movimento para eliminar as estratificações, tanto físicas quanto culturais. Foi um processo grande de transformação que ainda está acontecendo, segundo Sandra. Hoje, o espaço é comum, os profissionais não têm mesa fixa, sentam-se onde querem, geralmente, próximos às pessoas com as quais estão trabalhando naquele momento.
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Ao eliminar as barreiras e trazer os profissionais para olhar e agir como donos, os ganhos foram visíveis, relata Sandra. “A consequência foi uma geração de senso de dono e pertencimento muito mais forte do que o modo tradicional”, diz. De um lado, mais transparência, engajamento, entrega e agilidade da equipe e, na outra ponta, o retorno positivo dos clientes.
Segundo ela, o convite para que os profissionais participem da decisão traz o ganho coletivo. Exemplo disso é que em concorrência de projetos que a Verte participou, acabou ganhando por ter uma equipe tão engajada e focada no negócio que conseguia entregar resultados muito bons em prazos bem menos.
Não é receita de bolo
A gestão compartilhada e horizontal deu muito certo para a Verte, mas Erica e Sandra alertam que o modelo não é uma receita de bolo que pode simplesmente ser replicada. Ou seja, não é para todas as empresas e tampouco para todos os profissionais. Mesmo as empresas que têm perfil para a gestão horizontal precisam fazer um exercício de autoconhecimento e desenvolver um modelo próprio.
É claro que não são todas as pessoas que se adaptam rapidamente ao modelo, tem que mudar a forma de pensar, assumir responsabilidades, tomar decisões. Tem pessoas que têm dificuldades e acabam saindo, diz Erica.