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Carreira

Trate bem o estagiário da sua empresa. Ele pode ser o próximo presidente

Quando o estagiário vira o presidente da empresa. Na foto, o presidente da Volvo Buses , Fabiano Todeschini, e o chefe de RH da mesma empresa, Ricardo Nanami. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Quando o estagiário vira o presidente da empresa. Na foto, o presidente da Volvo Buses , Fabiano Todeschini, e o chefe de RH da mesma empresa, Ricardo Nanami. (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Não importa o tamanho da empresa: um estagiário pode, sim, chegar a cargos executivos e ocupar, até mesmo, a cadeira de presidente de uma organização. Exemplos como o da multinacional sueca Volvo, localizada na Cidade Industrial de Curitiba, estão aí para provar que é possível construir uma carreira na mesma empresa, do estágio à presidência.

A diretoria de RH da corporação estima que aproximadamente metade dos seus executivos no Brasil começou a carreira na companhia. Muitos ainda estão na faixa dos 40 anos, como Fabiano Todeschini, presidente da Volvo Buses (divisão de ônibus), Gabriel Basalini, presidente da área de motores, e o CEO para a América Latina, Wilson Lirmann.

Para Fabiano, o comprometimento inicial pode ajudar na evolução de carreira. Após concluir curso técnico em Mecânica, fez graduação em Administração de Empresas e, no 2.º ano do curso, em 1996, conseguiu estágio na Volvo. “Fiquei um ano e meio [estagiando] até abrir uma vaga de comprador de logística”, recorda.

“Quando se é estagiário, precisa ter atitude de funcionário. Quando analista, atitude de coordenador. Sempre busque um nível acima de entrega”, diz Todeschini.

No processo seletivo, ele tinha o diferencial do idioma inglês e do conhecimento da organização. Foi escolhido e assumiu um compromisso: aprender espanhol às próprias custas para continuar crescendo profissionalmente. Para ele, a busca contínua pelo aprendizado foi essencial para novas promoções. “Eu me metia em tudo. Quando era analista de logística e meu chefe viajava, fazia coisas que não eram da minha função”, conta.

Tanto interesse fez com que três anos após estagiar, com apenas 26 anos, recebesse o convite para abrir uma operação da Volvo na Argentina. “Não pensei duas vezes”, diz. Ele conquistava, assim, seu primeiro cargo executivo. Desde então, o crescimento até a direção foi apenas uma consequência. Hoje, com 42 anos, ele dá a dica para quem quer seguir os mesmos passos que os seus:

“Quando se é estagiário, precisa ter atitude de funcionário. Quando analista, atitude de coordenador. Sempre busque um nível acima de entrega”, resume.

Da informática ao RH

Ricardo Nanami também começou jovem na Volvo, aos 16 anos, quando fazia curso técnico de processamento de dados. “Era um estágio obrigatório de 3 a 6 meses. Fiquei mais de um ano, sendo efetivado antes de entrar na faculdade”, afirma. Hoje, aos 39 anos, já é Diretor de RH. Para ele, o segredo é a vivência prática.

“Lembro que meu primeiro chefe perguntou por que eu questionava tudo. Eu queria entender o que a empresa precisava, mesmo que fosse apenas um estágio de simples nível técnico. Quando efetivado, passei por praticamente todas as áreas e atividades de RH. Aprendi no dia a dia”, destaca.

Para o executivo, “o conhecimento pode ser adquirido, as habilidades podem ser treinadas, mas as atitudes precisam ser demonstradas. Por isso, se o estagiário quer demonstrar algo, que seja a atitude”.

Patrícia Quaringhi, diretora de atração de talentos da Cetefe Recursos Humanos – responsável pela triagem de estagiários de empresas como O Boticário e J.Mallucelli – vai além e recomenda seguir algumas regras básicas. “Um alerta para a geração mais jovem é manter a postura e, logo no começo, entender a hierarquia da empresa. Parece algo batido, mas a apresentação pessoal conta muito, da vestimenta ao cabelo limpo”, explica.

Atualmente em cargo de direção da Cetefe, Patrícia conta também ter começado como estagiária na empresa há 16 anos. “Sempre respeitei prazos e clientes. Ainda no estágio, sugeri um novo modelo de projeto seletivo”, conta. A demonstração de interesse foi fundamental para ganhar a confiança do presidente da companhia, Rodrigo Moscalewski.

Empresa pode ser privada, pública ou de economia mista, estagiar faz a diferença

Vlademir Daleffe se aposentou em 2015 como presidente da Copel Distribuição. Ainda em 1984, era estagiário quando, um ano depois, abriu o primeiro concurso público da empresa. Ainda que não estivesse formado, estagiários poderiam concorrer ao cargo de engenheiro eletricista, contando que ao assumir o posto estivessem formados.

“Acabei passando e, como já havia feito estágio na área técnica, me ofereceram uma vaga de supervisor de equipes em Cascavel seis meses após começar o trabalho como concursado. Com apenas 23 anos, coordenava mais de 60 subordinados. Acho que não tinha alguém mais novo que eu”, conta.

Ao longo da carreira, Daleffe foi transferido, assumiu cargos como gerente regional, superintendente, diretor até chegar à presidência e optar pela aposentadoria aos 53 anos – mais de 30 deles dedicados à empresa, graças ao estágio.

“Estagiar despertou meu interesse em trabalhar na Copel. Quando comecei, não havia previsão de concurso e, mesmo assim, nunca faltei nem cheguei um dia atrasado ou levei material de estudos para o trabalho. Essa passagem seguramente acabou me ajudando: como tive uma educação e formação diferenciada, isso pesou para a minha primeira promoção”, finaliza.

Durante a carreira, a empresa ainda apostou no conhecimento do funcionário, que fez pós-graduações e cursos executivos no exterior, como Estados Unidos e Japão. Esse reconhecimento, segundo ele, foi consequência de uma motivação que começou ainda quando estagiário: buscar fazer o que gosta sem esperar algo em troca.

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