A lista dos livros de ficção mais vendidos no país atualmente mostra bem o quanto a violência é um tema vendável. Dos cinco primeiros colocados, três são de Dan Brown aquele do Código da Vinci, em que uma série de assassinatos é explicada por uma trama histórica e religiosa. Assassinatos também estão no centro de Anjos e Demônios e Fortaleza Digital, seus outros dois livros da lista. O quinto lugar é de Jô Soares. Chama-se Assassinatos na Academia Brasileira de Letras. Sem homicídios mesmo, só Memórias de Minhas Putas Tristes, de Gabriel García Marquez. A programação de cinema também está cheia de filmes violentos. Atualmente, por exemplo, estão nos shoppings atrações como Quatro Irmãos, trama violentíssima que aborda a vingança de um assassinato.
Tanto em um caso quanto outro, quem estuda o assunto garante que a violência ficcional é uma decorrência da violência que vivemos no dia-a-dia. Curioso, se pensarmos que o lugar comum é dizer o contrário: que a violência no cotidiano cresce conforme as pessoas são alimentadas pela ficção.
Nas telas, para o professor Hugo Mengarelli, que leciona cinema e teatro na UFPR, há dois tipos de representação de violência. Uma é a da exploração comercial de um tema bem aceito principalmente pelos jovens. "Nesse caso entram coisas como Desejo de Matar, com Charles Bronson, ou os filmes de atores do gênero Chuck Norris", opina. Há também os filmes que fazem a denúncia da violência, como a série O Poderoso Chefão, ou que pelo menos fazem do assunto algo estranho, a fim de forçar o espectador a pensar sobre o assunto, como é o caso de Pulp Fiction Tempo de Violência, de Quentin Tarantino. "Mas isso tudo só está aí porque a sociedade é muito violenta e porque a palavra perdeu sua força. Escrevi isso em uma peça de teatro: quando as palavras ficam sem bala, só restam as balas das armas", fala ele.
"A violência, bem como sua representação na cultura letrada, não constituem uma novidade por aqui", afirma Benito Rodriguez, professor de Literatura Brasileira da UFPR. Segundo ele, desde os tempos da colônia, o Brasil foi marcado pela violência. E a arte retratou isso. "O dado novo nesse quadro parece-me ser a presença bem mais notável de representações da violência formuladas a partir do discurso de atores sociais que, até há pouco, não participavam da cultura letrada". Ou seja, as classes menos endinheiradas passaram a retratar o próprio ambiente de violência em que vivem, como no caso do rap ou até de livros como Cidade de Deus, representado também no cinema.