Quem o viu jogar, jamais esquece. Tocava a bola com maestria, estudando o campo por inteiro e o andamento do jogo em todos os momentos. Observava com extrema acuidade a colocação de cada companheiro e adversário. Parecia que jogava flutuando alguns metros do chão.

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Prestava atenção às jogadas, jamais perdia a bola de vista e, graças a essa capacidade de perceber a partida na sua totalidade, sabia quando se deslocar e direcionar os companheiros para que se movessem para os lugares certos nos momentos mais táticos. Adivinhava as jogadas segundos antes dos outros. Deliberava rápido apresentando sempre as soluções mais inusitadas e inteligentes. Seus passes longos e precisos, realizados de uma hora para outra, surpreendiam adversários e torcidas mudando o destino da partida a favor do seu time. Desempenhava o papel de estrategista e realizava como ninguém as funções da agregação e da motivação da equipe.

Estamos falando do Gerson da Copa de 70, é claro. Quantos gols ele proporcionou aos seus companheiros que, atentos às suas movimentações, sabiam se dispor para receber a bola no lugar e no momento certo. Um passe de Gerson era quase um gol feito. Pelé, Rivelino, Tostão, Clodoaldo, Jairzinho e Carlos Alberto que o digam.Nossas empresas precisam mais do que nunca de "Gersons", de profissionais estrategistas que enxerguem de maneira simples e ampla os negócios em que estão envolvidos.

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Ter visão de jogo no universo empresarial é estar atento às circunstâncias, saber o que está acontecendo naquele instante no círculo a sua volta. É olhar além da neblina, prevendo os caminhos e os movimentos do mercado, antecipando suas ações e, principalmente, as da concorrência. Adivinhar o gosto do público e suas futuras exigências para intuir a próxima virada e instruir os fazeres do agora e do amanhã. Ser paciente, saber orientar os companheiros quando necessário e ter o desprendimento de repartir os méritos com eles, não se importando que outros façam gols, contanto que sejam somados para o seu time. Enfim, esta é a função dos estrategistas; na maior parte das vezes trabalho de presidentes, diretores de planejamento, marketing e vendas. É a eles e às suas equipes que cabe a maior responsabilidade da visão e da condução do jogo. Só elabora boas estratégias quem sabe pensar e enxergar o jogo e o campeonato como um todo.

Aliás, a palavra estratégia vem do grego e significa "aquele que conduz exércitos". É por isso que se diz que quem ganha as batalhas são os generais e não os soldados e, quem ganha o jogo são os técnicos e não os jogadores. Mas, se no correr da jornada, os responsáveis pelas decisões dos negócios não souberem como dizer ao pessoal que "toca a bola", quais os caminhos que a empresa pretende trilhar, nem compartilhar com eles as informações necessárias, haverá desmotivação. Pois, os funcionários não conhecendo os rumos da empresa, sem comprometimento, não vestirão a camisa.

Na maior parte das vezes, um bom empenho de comunicação interna resolve esta angústia. Mas lembre-se, nem tudo pode ser dito aos funcionários, porque as estratégias guardam segredos de negócios. No entanto, uma coisa é certa, quanto mais o pessoal souber os rumos da empresa, melhor. A informação do saber os caminhos da empresa não deve ser privilégio de diretoria, os que estão jogando também querem conhecer este rumo, até para resolver se ficam ou não no jogo, isto é, na empresa.

E para os que ainda não fazem parte do grupo que trabalha na visão empresarial, nada os impede do esforço de enxergar o jogo na sua totalidade. Como profissional quanto mais você se interessar pelos produtos que vende e pelo universo empresarial em que está inserido, melhor será para a sua carreira.

E, voltando ao esporte das chuteiras, o mestre Nelson Rodrigues dizia: "Em futebol, o pior cego é aquele que só vê a bola". Por isso, procure conhecer bem o trabalho que realiza e as suas implicações diretas e indiretas. Não importa seu nível hierárquico na empresa ou se você é um profissional liberal. Conhecer profundamente o seu campo de caça é dever de todo bom caçador. Por isso, se você trabalha com pão faça por conhecer a fundo os assuntos deste setor; farinhas, enzimas, fornos, panificadores e alimentação. Quanto mais longe você enxergar, mais precisos serão seus passes e mais gols para a sua equipe. Melhor para você e para o seu desempenho profissional.

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Eloi Zanetti – co-autor do livro "Administração, Futebol & Cia - Metáforas do futebol no dia-a-dia das empresas". Eloizanetti@terra.com.br