O salário médio dos profissionais com mestrado e doutorado no Brasil está 107% acima do recebido por quem terminou apenas o curso de graduação. No caso dos doutores, o ganho é 152% superior. No dos mestres, 89%. Os dados obtidos com base no Censo 2010 do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no fim de abril mostram que é grande a discrepância salarial entre graduados e pós-graduados.
A maior distância está entre dirigentes de serviços de educação (remuneração 130% acima da média para mestrado e doutorado), seguido por tradutores, intérpretes e linguistas (114%), analistas financeiros (107%) e dirigentes de recursos humanos (106%). O abismo é menor entre os gerentes de hotéis (3%), engenheiros eletricistas (4%), geólogos e geofísicos (10%), agentes de seguros (10%) e dirigentes de pesquisa e desenvolvimento (13%). "Não é uma surpresa. Afinal, quem chega até o doutorado realiza mais quatro ou seis anos de estudo, e tem, de fato, habilitações superiores e capacidade de atuar em um campo mais abrangente, com mais responsabilidade e visão estratégica", ressalta Marcelo Paixão, professor do Instituto de Economia da UFRJ.
O que chama a atenção, porém, na opinião do professor, é o tamanho da disparidade."O ideal seria garantir remuneração adequada para todos. Claro que respeitando a hierarquia para quem tem mestrado ou doutorado, mas com leques salariais menos abertos".
Entre os profissionais de educação, o abismo na remuneração de quem tem diploma de mestrado ou doutorado e só de graduação atinge um dos níveis mais altos: 93% no caso dos professores de universidades e do ensino superior, 104% para os professores do ensino fundamental e 72% para professores do ensino médio. Sendo que a proporção de mestres e doutores dentro de cada categoria varia de forma significativa: 54%, 2% e 7%, respectivamente.
Para Ana Heloisa Lemos, coordenadora do MBA em Gestão e Recursos Humanos da PUC-Rio, não é difícil entender o porquê de haver tão poucos professores dos níveis de ensino fundamental e médio com títulos de pós-graduação. "Isso está associado à péssima remuneração para quem leciona no ensino de base. Quando um profissional conquista uma qualificação de mestre ou doutor, é natural que ele migre para o ensino superior, onde vai encontrar melhores condições de trabalho."
Henrique Heidtmann Neto, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV (Ebape), destaca que a competitividade no cenário corporativo atual leva as organizações, sejam públicas, privadas ou do terceiro setor, a melhorar seus sistemas organizacionais para se adaptar ao modelo de economia que exige um profissional que saiba pensar sistemas complexos. "Com isso, as instituições vêm procurando profissionais com habilidades técnicas e a competência de pensar, não apenas de fazer", afirma Heidtmann.
Os dados também chamam a atenção para a pequena população no Brasil que tem um diploma de pós-graduação no currículo 784.746 contra 12.679.009 com nível superior concluído. "Em um país com 200 milhões de habitantes, ter apenas 16% de população universitária é pouco. Países como Coreia, China e Índia têm programas muito mais agressivos para colocar as pessoas na pós-graduação", diz Paixão.