São Paulo Nos últimos dias, a paranaense Positivo Informática conseguiu dois feitos inéditos para os padrões do mercado local de computadores, tradicionalmente associado a empresas aventureiras. Primeiro, a empresa entrou para o índice IBX-100, das 100 ações mais negociadas da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), oito meses depois de ter aberto o capital, um sinal forte de confiança dos investidores. Agora, a fábrica criada em Curitiba por um grupo de seis professores de cursinho universitário ultrapassou a barreira de 1 milhão de computadores vendidos nos 12 meses terminados em agosto. Com esse porte, a empresa atinge a 15.ª posição do ranking mundial do mercado, dominado por multinacionais.
No Brasil, a Positivo lidera com folga a venda de máquinas há quase três anos. De acordo com o último relatório divulgado pela consultoria IDC, a empresa tem 17,7% das vendas totais de PCs no país. O segundo colocado tem menos da metade desse valor. No mercado oficial, que exclui as máquinas sem marca (conhecido como mercado cinza), ela vende três de cada 10 computadores.
A Positivo é um fenômeno típico dos mercados emergentes. Como ela, outros fabricantes locais disputam os consumidores ombro a ombro com gigantes como HP, Acer e Dell. Na Índia, a liderança é da americana Dell, mas o segundo lugar pertence à HCL, empresa responsável por criar o primeiro microcomputador daquele país.
Na Rússia, a distância entre a Acer, de Taiwan, e uma companhia regional chamada Formoza era mínima até o ano passado. Ambas tinham cerca de 7% de participação. Além dela, existem outras empresas de origem russa entre as cinco maiores do ramo.
A China tem a situação que mais se aproxima do Brasil: tem uma empresa local liderança disparada do mercado de computadores. De cada 100 máquinas vendidas na China, o mercado que mais cresce no mundo, 35 saíram da fábrica da chinesa Lenovo no segundo trimestre do ano, segundo dados mais recentes da IDC.
Guardadas as devidas proporções, a Positivo é uma espécie de Lenovo brasileira. "Quando a Positivo alcançou 10%, há um ano, já foi um marco histórico para o Brasil", diz Reinaldo Sarkis, consultor da IDC. "A empresa não cresceu porque inventou a roda. Ela estava no lugar certo na hora certa."
A Positivo Informática nasceu para fazer computadores e softwares para escolas. Por muitos anos, ganhou dinheiro vendendo para o governo. Em 2004, veio a virada: foi para o varejo com PCs baratos e bateu a gigante Dell. No ano passado, faturou R$ 1,1 bilhão, mais que o dobro da receita do negócio de origem do grupo (escolas e faculdade).
A Positivo estreou no varejo justamente quando alguns grandes fornecedores entraram em crise financeira o caso mais conhecido é o da Metron. "O varejo estava totalmente desabastecido. A gente percebeu a oportunidade e começou a se preparar. Para ganhar a confiança dos lojistas, primeiro consertamos todos os computadores devolvidos pelos clientes que estavam nos estoques", lembra o presidente da Positivo Informática, Hélio Rotenberg. "Depois disso, começamos a vender. Em 2005, fomos beneficiados pela redução dos impostos e pelo aumento da fiscalização do contrabando, que diminuiu a força do mercado cinza." No final de 2004, o computador mais barato custava R$ 1.999. Hoje é possível comprar uma máquina por R$ 899.
O ambiente de negócios não poderia ter sido mais propício. Todos os fabricantes se beneficiaram da explosão de consumo de computadores a previsão é que o mercado de PCs cresça 23% e rompa a barreira das 10 milhões de unidades vendidas em 2007. "A Positivo estava pronta para atender à demanda com produtos de custo baixo para as classes C e D, que estão alavancando o consumo no país", diz o presidente da Lenovo no Brasil, Flávio Haddad.