Colheita de soja na Bahia: o Brasil e seus vizinhos são tidos como importantes no desafio de elevar produção, mas gargalos de infraestrutura são entraves| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Agricultura

Região é fundamental para elevar produção de alimentos

Os países da América Latina, dentre eles o Brasil, com seus recursos naturais e abundância de sol, terão um papel fundamental no desafio de aumentar a produção mundial de alimentos, de acordo com avaliação de participantes do Fórum Econômico Mundial. O Banco Mundial acredita que será preciso elevar em 80% a atual produção mundial de alimentos para abastecer a população mundial em 2050. Representantes de entidades e empresas ligadas à agricultura discutiram, em um dos painéis do Fórum, como atender à demanda e transformar a produção de alimentos num motor para o crescimento, com participação do setor privado.

Segundo a vice-presidente de América Latina e Caribe do Banco Mundial, Pamela Cox, moderadora do painel, os desafios estão em conseguir ajustar oferta e demanda de alimentos de forma ambientalmente sustentável. Mas, para isso, segundo ela, será necessário resolver questões como barreiras ao comércio mundial e gargalos de infraestrutura. "A América Latina pode ser parte desta solução [para a escassez de alimentos]", afirmou Cox.

Para Pedro Parente, presidente da Bunge Brasil, não é possível resolver o problema sem enfrentar os gargalos de infraestrutura. Ele lembra que os custos da Bunge com logística para transporte de soja no Brasil (US$ 84 por tonelada) são quatro vezes superiores aos dos Estados Unidos (US$ 21 por tonelada). "Poderíamos, por exemplo, aumentar em 50% a produção no Mato Grosso sem cortar uma árvore sequer se tivéssemos uma infraestrutura melhor", acrescenta.

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O crescimento impulsionado pela exportação de produtos básicos, as deficiências na infraestrutura, a baixa qualidade da educação e o reduzido investimento em inovação são os principais riscos e limitadores do crescimento econômico da América Latina, que está diante de grandes oportunidades de avanços socioeconômicos. Essa foi a conclusão dos participantes de um painel que discutiu ontem riscos que podem afetar a América Latina, durante o Fórum Econômico Mundial.O ex-ministro colombiano do Desenvolvimento Maurício Cárdenas, diretor do Brookings Institute para a América Latina, disse não ter dúvidas de que essa é a década do subcontinente, com destaque para o Brasil, mas ressaltou que há riscos enormes. O primeiro é o crescimento impulsionado pela venda de commodities, cuja demanda pode ser reduzida no futuro próximo caso se confirmem os sinais de recessão mundial e de excesso de investimento na China, que tem capacidade ociosa alta.

O colombiano apontou a infraestrutura frágil dos países latino-americanos como um dos principais gargalos para o crescimento e brincou com a plateia, ao chegar atrasado. "Estava experimentando a infraestrutura", disse, relatando que ficara uma hora num engarrafamento no Rio.

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Baixo investimento

Além de um fator de risco para a expansão de projetos e investimentos, Rebeca Grynspan, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, apontou o baixo investimento em educação e em inovação como outro limitador do potencial econômico da América Latina, inclusive na maior economia da região, o Brasil. "Os países conseguiram levar a educação a todos, mas as desigualdades terão de ser enfrentadas com o aumento da qualidade do ensino terciário e com mais investimento em pesquisa e desenvolvimento."

O economista brasileiro Roberto Teixeira da Costa, do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal), apontou a descentralização da gestão da educação como um entrave para a melhoria da qualidade do ensino no Brasil. "O problema é que a educação no Brasil é responsabilidade dos Estados, não é afetada [imediatamente] por mudanças do governo [federal]. O ministro da Educação deveria ser o mais importante do governo, mas não é."