Mais tradicional forma de aplicação do brasileiro, a caderneta de poupança enfrenta um momento difícil, com captação em queda, rendimento equiparado à inflação e perda de terreno para investimentos mais rentáveis e com níveis de segurança semelhantes. O balanço parcial deste mês indica que, até o dia 27, os saques superaram os depósitos em R$ 8,4 bilhões é o resultado negativo mais intenso para esse período da série histórica do Banco Central, iniciada em 1991.
INFOGRÁFICO: Veja qual é a rentabilidade real da poupança
O balanço da caderneta em 2014, publicado no início do mês, já havia sinalizado o alerta: a captação líquida, embora positiva, caiu dois terços em relação ao ano anterior, somando R$ 24 bilhões e resultando no pior desempenho em três anos.
Uma das razões para o encolhimento é a perda de rentabilidade quando comparada à inflação. Em um período de dez anos, a remuneração da poupança, descontada a alta de preços no ano, caiu de 5,19% para 0,67%. Isso significa que um aporte de R$ 1.000, que chegou a render, em 2004, R$ 34,80 em um ano, já descontada a inflação, passou, no ano passado, a dar um provento líquido anual de R$ 6,70.
O período mais crítico foi 2013, quando a alta de preços superou o rendimento da caderneta em 0,10% ou seja: a receita obtida com os juros foi inferior ao aumento médio de preços no mesmo período.
O patamar elevado da taxa básica de juros (Selic), em 12,25% ao ano e com tendência de alta, também prejudica a caderneta, já que aumenta a rentabilidade e torna mais atraentes outros produtos de renda fixa. "A captação da caderneta anda inversamente proporcional à taxa de juros. A poupança só fica mais atrativa se a taxa cair", explica Sérgio Bessa, professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Concorrentes
Vivem processo inverso, atraindo cada vez mais poupadores e acumulando crescimento de captação, aplicações de perfil conservador que apresentam taxas de retorno superiores, geralmente vinculadas à inflação e à Selic. "Como ativo de investimento, a poupança é péssima. E o investidor está percebendo que há alternativas", diz Arnaldo Curvello, diretor de gestão de recursos da Ativa Investimentos.
Destacam-se o Tesouro Direto, títulos do governo cujas compras cresceram 35% no ano passado, somando R$ 4,9 bilhões; e as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA), que tiveram os estoques ampliados em 25% nos últimos cinco meses e já figuram entre os produtos mais buscados nas corretoras.
Entre os investidores que se afastam da poupança está o consultor de empresas Geraldo Alvarenga, que decidiu aplicar o dinheiro em títulos do Tesouro Direto, em busca de rendimentos maiores. Neste ano, ele tem como meta aplicar cerca de R$ 500 mensais na modalidade, com vistas a resgates de longo prazo. "Acho que, para pessoa física, não há nada melhor que o Tesouro", diz o consultor, que investe por intermédio de um banco e gere os recursos do próprio computador de casa.
Gastos de início de ano