Depois de reclamar do rebaixamento da nota do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, o governo divulgou ontem um buraco nas contas do Tesouro Nacional em fevereiro. No mês passado, os gastos federais com pessoal, programas sociais, custeio administrativo e investimentos superaram em R$ 3,1 bilhões a arrecadação de impostos e outras receitas. Isso significa que, em vez de poupar para o abatimento de sua dívida, o Tesouro Nacional precisou tomar dinheiro emprestado para bancar suas despesas cotidianas e as obras públicas.
É o que se chama, em economês, de déficit primário. O resultado contrasta com a promessa, feita para convencer os investidores de que não haverá descontrole das contas neste ano eleitoral, de poupar fazer um superávit primário R$ 80,8 bilhões até dezembro.
No acumulado do primeiro bimestre, as contas do governo registram um superávit de R$ 9,9 bilhões, ou 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), bem abaixo dos R$ 19,7 bilhões do período correspondente de 2013 ano encerrado com o menor superávit desde 1998.
Os números apontam que o governo Dilma Rousseff mantém os gastos em alta e se apoia em previsões perigosamente otimistas para a arrecadação de impostos. Nos dois primeiros meses do ano, as despesas cresceram 15,5% e somaram R$ 158,5 bilhões, enquanto as receitas, de R$ 168,3 bilhões, subiram apenas 7,3%. De positivo, houve queda no déficit da Previdência Social, de R$ 9,6 bilhões para R$ 7,2 bilhões no período.
A arrecadação total do governo, porém, decepcionou. Os resultados só não foram piores porque o Tesouro extraiu R$ 2,9 bilhões dos lucros das estatais para engordar seu caixa. Manobras do gênero foram citadas pela agência de risco ao explicar a decisão de rebaixar a nota brasileira.
Sem os dividendos, o déficit de fevereiro teria ficado pouco abaixo dos R$ 6,6 bilhões de fevereiro de 2013, o maior, em valores nominais, desde o Plano Real.