Uma semana depois de surpreender o mercado com a promessa de que faria uma economia de R$ 44 bilhões dos gastos previstos no Orçamento, o governo informou ontem que o mês de janeiro terminou com um rombo de R$ 10,48 bilhões nas contas públicas, o maior déficit nominal desde janeiro de 2006. O saldo das contas do Tesouro Nacional a diferença entre as receitas e os gastos caiu pela metade, de R$ 26,3 bilhões em janeiro de 2013 para R$ 13 bilhões no mês retrasado. Considerados os resultados dos estados e municípios, a poupança do setor público caiu, na mesma base de comparação, de R$ 30,3 bilhões para R$ 19,9 bilhões.
Os dados desagradaram aos investidores e contribuíram para a queda da Bolsa de Valores e a alta do dólar. O mercado financeiro acompanha mais de perto o impacto dos gastos do governo na inflação e no crescimento da dívida pública.
Conforme as metas anunciadas na semana passada, o Tesouro Nacional deverá fazer uma poupança de R$ 80,8 bilhões até o final do ano, acima dos R$ 75,3 bilhões do ano passado só obtidos, aliás, com o adiamento de gastos de dezembro para janeiro.
O objetivo é manter o saldo das contas do governo que influencia a expansão da dívida pública e a inflação estável como proporção do Produto Interno Bruto, ou seja, proporcional às dimensões da economia nacional.
O resultado de janeiro mostra como será difícil atingir os resultados prometidos. Normalmente, trata-se do mês de maior superávit no ano, em razão do calendário da arrecadação de tributos. Em 2013, o saldo de janeiro representou um terço do total obtido no ano. Já o do mês retrasado equivale a um quinto da meta a ser cumprida até dezembro.
O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, minimizou a importância da piora dos números de janeiro, que atribuiu a fatores atípicos, sem caracterizar uma tendência. Segundo ele, o saldo de fevereiro será positivo, enquanto o do mesmo período de 2013 foi negativo.
Ceticismo
Mesmo com ressalvas semelhantes, analistas consideraram os resultados ruins e mostraram ceticismo quanto ao cumprimento da meta fiscal equivalente a 1,9% do PIB, mesmo percentual obtido no ano passado.
Para a consultoria Rosenberg Associados, a "esbórnia" nas contas públicas de 2013 ainda causa significativo impacto em 2014. A empresa manteve sua projeção de superávit em 1,5% do PIB. O Itaú Unibanco trabalha com uma projeção ainda mais modesta, de 1,3% do produto.
Já para Felipe Salto, da consultoria Tendências, toda a reação negativa ao resultado fiscal de janeiro está sendo exagerada, "assim como foi exagerada a reação positiva" ao anúncio oficial de controle de despesas.