É bom o mundo ir se acostumando: a China vai crescer menos de agora em diante. E não se trata de um fenômeno passageiro. O gigante asiático, que avançou a taxas de dois dígitos anuais na década passada e mais recentemente vinha num ritmo acima de 7% ao ano, entrou em uma fase de crescimento mais moderado que promete durar.
O dragão está aterrissando, e o governo chinês – interessado em conduzir a economia para um modelo mais voltado ao consumo doméstico que aos investimentos e exportações – busca fazer um pouso suave. Mas, como se viu na semana passada, o piloto não parece tão seguro de suas atitudes, e a descida está sujeita a solavancos e arremetidas, para desespero de quem voa de carona.
Confira gráfico que mostra a importância da China para a economia brasileira
“Dado o tamanho do dragão, é difícil fazer um pouso tranquilo. Para quem chegou a crescer 12%, 14%, crescer 7% [meta do governo para este ano] é uma desaceleração importante”, diz o economista Marcelo Curado, professor da Universidade Federal do Paraná.
A desaceleração não começou na semana passada, nem seus impactos. Mas eles vão ficando mais evidentes, e recaem principalmente sobre os exportadores de matérias-primas, que por anos abasteceram o gigantesco parque industrial chinês. Mesmo que a demanda não despenque, e ao que tudo indica ela está apenas mais contida, as cotações de commodities vêm tendo episódios de queda livre – na segunda-feira (24), bateram no menor nível desde 1999, pela medição do índice Bloomberg.
O Brasil, que se beneficiou como poucos do “superciclo das commodities”, desponta agora como um dos países mais afetados. Considerando a variedade e a dimensão dos problemas domésticos, não há como culpar a China pela recessão, mas sua freada aparece como um obstáculo a mais. “Os desafios atuais [do Brasil] tenderão a ser amplificados com o crescimento menor dos emergentes. Mesmo com a desvalorização do real, o mercado exportador sofrerá, tendo em vista a dependência do país asiático e das commodities”, apontou, em relatório, a economista Fabiana D’Atri, do Bradesco.
Nos últimos 15 anos, as exportações para a China – de produtos como minério de ferro, soja, petróleo, celulose, açúcar e outros – resultaram na entrada de pouco mais de US$ 280 bilhões na economia brasileira, sem contar o que foi embolsado com o aumento dos embarques para dezenas de mercados que avançaram no rastro chinês.
Esse dinheiro todo teve papel importante (para muitos economistas, decisivo) no crescimento econômico brasileiro. Mas também teve efeitos colaterais. O ingresso massivo de dólares sobrevalorizou o real, o que representou um golpe definitivo para a frágil competitividade dos produtos industrializados no exterior. A fatia dos manufaturados nas receitas de exportação do Brasil, que era de 59% em 2000, recuou até chegar a 36% em 2014. No mesmo intervalo, a participação dos produtos básicos saltou de 23% para 49%.
Os tempos de câmbio sobrevalorizado parecem ter ficado para trás. A expectativa de alta dos juros norte-americanos e, agora, o pânico provocado pelo esvaziamento da bolha de ações da China empurraram o dólar para perto de R$ 3,60. A subida anima os exportadores, mas a reconquista de contratos será tarefa difícil para a indústria. O setor até evita celebrar a alta da moeda, pois virou grande importador na época de dólar barato e agora assiste à disparada dos preços de insumos importados.
Pelo lado dos produtos básicos, nos quais o Brasil ganhou competitividade nos últimos anos, agora sobram incertezas. O dólar mais elevado já garante receitas polpudas na conversão para reais, apesar da queda dos preços internacionais das commodities. Por outro lado, o câmbio vai inflar os custos, em especial os da agricultura, que começa a preparar a próxima safra de verão.