O Paraná hoje faz parte de um circuito restrito da indústria brasileira de beleza que antes envolvia principalmente São Paulo e Amazonas. O mercado de cosméticos que trazem a proposta de sustentabilidade e fórmulas mais naturebas tem encontrado no estado a cadeia produtiva necessária para o desenvolvimento de indústrias, fabriquetas e marcas. A mesma cadeia proporcionou que Curitiba se tornasse referência em produtos orgânicos no Brasil. Agora, despontam marcas que aproveitam a onda de brasilidade nos ingredientes e de fórmulas que evitam substâncias tóxicas.
O nicho é pouco estudado não há estatísticas oficiais, mas especialistas já são unânimes em incluir o Paraná entre os principais berços de marcas do Brasil. O país é o 3.º produtor mundial de cosméticos verdes, segundo a consultoria Euromonitor International. "No estado se somam recursos naturais e profissionais com conhecimento técnico. São fatores fundamentais para que o movimento se materialize", avalia Sonia Corazza, consultora com 30 anos de experiência na área cosmética.
Divulgação
O marketing do sustentável hoje mantém fábricas como a Feito Brasil, de Mandaguaçu, na região de Maringá, até empresas de produção mais restrita, em geral especializadas em fabricar para terceiros. É o caso da Natural DGaia, que desde novembro do ano passado lançou a marca própria Prymeva Care, com selo orgânico. Da fábrica no Boqueirão, em Curitiba, já saiu o primeiro lote de 250 unidades de cada um dos oito produtos. "Gostaríamos que, um dia, cada farmácia tivesse sua gôndola de cosméticos desse tipo, como ocorre hoje nos supermercados com os alimentos", conta A Co-criadora da marca, a farmacêutica Dasiele de Lima.
Potencial
A cosmetóloga Rose Ghachache diz que o mercado nacional ainda não viu um "boom" de cosméticos naturebas. "O brasileiro gosta de tecnologia. Ele acha que o produto verde é bom, mas não tão eficiente quanto o tecnológico", conta. Mas, diz Rose, esse mercado cresce em cidades cujos moradores têm ideais de sustentabilidade. ".
O fato de Curitiba ser notoriamente produtora de orgânicos impulsionou a Cativa, fundada nos anos 1990. A marca se expandiu abrindo franquias (são dez). "Ainda sentimos um pouco de dificuldade para difundir o conceito. Mas o retorno é confirmado com a eficácia dos produtos", conta a empresária Rose Bezcery.
Mas não só desinformação, mas preço alto e insegurança sanitária são fatores no caminho dos cosméticos verdes brasileiros. Hoje não há empecilho para que marcas usem as palavras orgânico, vegano e natural. A Lei Nacional de Orgânicos, de 2003, ainda não teve regulamentada a parte que trata de cosméticos. Como o debate não acompanha o mercado, marcas buscam aval de certificadoras privadas.
Com venda pela web, Feito Brasil cresce 87% em dois anos
Em nove anos, a Feito Brasil conseguiu dois feitos: cresceu o faturamento em 87% de 2011 a 2013, chegando aos R$ 3,7 milhões; e passou a ser distribuída pelo site brasileiro da rede Sephora. Em 2014, a novidade será a exportação para a Europa. A ideia é impressionar clientes estrangeiros com marketing da sustentabilidade, ingredientes típicos daqui cacau, carambola, coco, por exemplo e elementos pouco divulgados da cultura nacional.
O catálogo reúne produtos para cabelo, rosto e banho. A empresa evita nomenclaturas polêmicas, como "orgânico" e "natural". "Produtos de certas coleções poderiam ser considerados orgânicos, mas fugimos de rótulos", diz Lena Perón, diretora e cofundadora. A empresa se define vegana (não usa insumos de origem animal), artesanal e sustentável (emulsiona os produtos a frio, gastando menos energia). As formulações não trazem petroquímicos e parabenos, mas corantes e aromas artificiais não são totalmente dispensados. Os preços unitários variam de R$ 14 a R$ 42.
A fabriqueta sem máquinas, mas com divisão de trabalho semi-industrial, fica em Mandaguaçu, na região de Maringá. A família Perón optou pela cidade após tentar a empreitada em Balneário Camboriú (SC). No Paraná, conta a gaúcha Lena, a rede de fornecedores de matéria-prima se mostrou mais atuante. A marca emprega 25 pessoas e vende só pela internet. Todos os novos produtos saem de reuniões feitas no prédio cercado de árvores, diz Lena. "Fazemos o que está na contramão da concorrência, nem queremos saber dela", brinca.
Exsicata quer concorrer com Sisley e L´Occitane
A marca criada pela bióloga Adriane Semmer pode ainda ser desconhecida em Rio Negro, no Sul-Sudeste do Paraná, onde ela nasceu e fundou o escritório da Exsicata. Mas a empreitada chegou à Beyond Beauty, feira organizada em Paris pelo mercado mundial de beleza. No último dia 11, a linha hoje, com oito produtos levou o prêmio da feira na categoria de cuidados faciais. Chamou a atenção a proposta de investir em compostos de plantas brasileiras, dispensando corantes, petroquímicos e parabenos. As exceções são conservante e fragrância, ambos sintéticos.
Lançada em novembro, a Exsicata tem o plano ousado de ser uma alternativa entre marcas de ponta, como as francesas Sisley e LOccitane. Os produtos para rosto e corpo começaram a ser vendidos neste mês pela internet. O mais barato custa R$ 68,35 e o mais caro, R$ 436,80. "Nossa estratégia não é mercado de massa, mas de valor agregado", afirma. A fórmula sai de Rio Negro para ser produzida em Barueri (SP). As embalagens de vidro e alumínio são importadas. Para fazer crescer a Exsicata, Adriana usa galpão e escritório da fábrica de móveis de sua família.
A linha será expandida em 2014, quando a marca espera estar certificada para ser vendida como "natural". A bióloga diz não acreditar em cosméticos orgânicos. "Geram uma cadeia mais dispendiosa do que os benefícios que trazem. O impacto no meio ambiente é pequeno e o reflexo na pele é igual." A marca está registrando produtos para vendê-los no Chile e na Europa. Para isso, a produção de 30 mil unidades por lote deverá ser expandida.