A produção de petróleo no pré-sal avança mais rápido do que se esperava e vem batendo recordes. Em maio, ela superou pela primeira vez a marca de 1 milhão de barris em um único dia, algo que, até poucos anos atrás, a Petrobras não esperava conseguir antes de 2017. Mas, esse crescimento já não é suficiente para evitar a queda na produção total do país, afetada pelo declínio acelerado dos campos maduros nas áreas convencionais, do chamado pós-sal.
Segundo os dados mais recentes da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), nos quatro primeiros meses do ano a Petrobras e demais petroleiras produziram uma média de 845 mil barris de petróleo por dia no pré-sal, 25% mais que no mesmo período de 2015. Nos demais campos, no entanto, a extração de óleo caiu 16%, para 1,465 milhão de barris diários. Na soma de pré e pós-sal, a produção brasileira baixou 5% nessa comparação, para 2,31 milhões de barris.
A queda no pós-sal se deve a uma combinação de fatores, entre eles a decadência natural dos campos mais antigos, o longo período sem leilões de novos blocos e as dificuldades financeiras da Petrobras, que levaram a estatal a concentrar seus investimentos ao pré-sal, mais produtivo, deixando de lado o pós-sal.
O esgotamento de campos maduros pode ser desacelerado com a construção de novos poços produtores ou de poços injetores de água e gás, que permitem recuperar volumes de óleo que não jorrariam sozinhos. Mas isso depende de investimentos cujo retorno pode não ser tão atraente quanto o de campos do pré-sal, explica o economista Helder Queiroz, membro do Grupo de Economia da Energia da UFRJ e ex-diretor da ANP.
Segundo ele, o investimento nessas áreas também tinha um obstáculo contratual, removido há pouco tempo. A maioria dos campos antigos foi arrematada na chamada Rodada Zero, em 1998, e têm concessão até 2025. Com o prazo chegando ao fim, o investimento na revitalização de um campo poderia não compensar.
“Agora, se a concessionária apresentar um plano de desenvolvimento aceitável e justo do ponto de vista técnico e regulatório, a ANP pode renovar a concessão daquele campo”, diz Queiroz. Foi o que ocorreu, no mês passado, com os campos de Marlim e Voador, da Petrobras, cuja concessão foi estendida até 2052.
A queda da produção no pós-sal também é consequência do “congelamento” dos leilões de concessão. Entre 2008 e 2013 o governo federal, preocupado em criar um marco regulatório para o pré-sal, não realizou nenhuma licitação de novas áreas. Sem novos blocos para explorar, a Petrobras e outras petroleiras foram reduzindo pouco a pouco a busca por petróleo. “Isso criou uma lacuna. Entre o leilão e o início da produção de um campo se vão sete ou oito anos. Assim, campo licitado em 2008 poderia já estar produzindo”, diz o ex-diretor da ANP.