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Depois de várias reduções consecutivas, novas baixas no preço da gasolina e demais combustíveis no Brasil vão depender da evolução de fatores externos e de um componente que é influenciado tanto pelo ambiente doméstico quanto pelos humores dos mercados internacionais.
Os fatores externos são a eventual assinatura do acordo nuclear entre os Estados Unidos e o Irã, que liberaria os estoques do nono maior produtor mundial de petróleo, e o ritmo da desaceleração da economia global. O outro componente é o dólar.
Na quinta-feira (18), em sua live semanal, o presidente Jair Bolsonaro disse esperar que o dólar caia abaixo de R$ 5 em breve, o que colaboraria para novas quedas de preço nas refinarias da Petrobras.
"Espero que continue caindo o preço da gasolina. Logicamente, isso tem a ver com o dólar, que tem caído, e também o preço do petróleo lá fora", disse Bolsonaro. "O dólar está relutando a baixar de R$ 5, acho que vai baixar brevemente, afinal de contas só tem notícias boas da economia do Brasil", completou.
Desde 19 de julho, a Petrobras anunciou cinco reduções no preço de derivados de petróleo nas refinarias: três para a gasolina e duas para o diesel. Essas quedas tiveram relação direta com o recuo das cotações do petróleo no mercado internacional e com um certo alívio na taxa de câmbio. Aliadas a impactos remanescentes da imposição de um teto para o ICMS dos combustíveis, elas podem levar à segunda deflação mensal consecutiva em agosto, algo que não se vê desde abril de 2020.
No mês passado, a gasolina ficou 15,48% mais barata na média nacional, segundo a medição do IPCA. Entre as capitais, a maior queda ocorreu em Goiânia (21,57%) e a menor, em São Luís (8,97%). O etanol ficou 11,38% mais barato na média nacional, com quedas variando de 2,44%, no Recife, a 15,74%, no Rio de Janeiro.
Mesmo após as seguidas quedas de preço nas refinarias da Petrobras, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) aponta que os preços da gasolina e do diesel ainda estão entre 8% e 9% mais elevados do que os internacionais. O que, em tese, significa que ainda há espaço para mais barateamento.
Mas, segundo Frederico Nobre, responsável pela área de equity research da corretora Warren, eventuais defasagens que existam sobre os preços dos combustíveis são pequenas. “É preciso esperar por um movimento mais acentuado para que haja novas reduções”, afirma.
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Como o acordo nuclear com o Irã pode influenciar o preço da gasolina
Uma proposta encampada pela União Europeia de restaurar o Plano de Ação Abrangente Conjunto Contínuo de 2015, para limitar as capacidades nucleares do Irã, pode suspender as sanções ao país e injetar mais de um milhão de barris de petróleo ao mercado internacional. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), o país responde por 4% da produção mundial.
O acordo depende da adesão dos Estados Unidos, que se retiraram em 2018, durante o governo de Donald Trump. De acordo a Bloomberg, na segunda-feira (15) o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amirabdollahian, disse que se “os EUA mostrarem uma abordagem realista e flexível, é possível chegar ao ponto de um acordo nos próximos dias”.
Segundo Josias de Matos, analista da Toro Investimentos, isso contribuiria para baixar o preço do petróleo no mercado internacional, podendo colaborar para novas quedas do preço dos combustíveis no Brasil.
Depois de chegar à marca de US$ 130, em meados de março, por causa da invasão russa à Ucrânia, o preço do barril perdeu força, principalmente no último mês, com o petróleo do tipo brent oscilando entre US$ 90 e US$ 100 – na quinta-feira, a cotação de fechamento foi de US$ 96,59.As negociações, entretanto, podem se mostrar mais demoradas. De acordo com o "Valor", um rascunho do acordo enviado ao governo iraniano por diplomatas europeus foi devolvido com uma série de anotações e observações, indicando que as conversas podem demorar mais do que o esperado. O Irã estaria buscando ampliar as concessões.
Preço da gasolina também depende do ritmo da economia mundial
O temor de um forte desaquecimento da economia global está pressionando para baixo os preços do petróleo e também pode mexer com o preço da gasolina no Brasil. As principais economias, à exceção da China, convivem com inflação elevada e estão subindo suas taxas de juro para tentar controlá-la.
No Reino Unido, a inflação em 12 meses atingiu 10,1% em julho, a maior em 40 anos, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês). E há temores que possa superar os 13% em outubro, quando estão previstos aumentos nas tarifas de energia, segundo o Banco da Inglaterra. A economia deverá perder ritmo a partir do final do ano, podendo se contrair até o fim de 2023.
Situação similar vive a Europa. O Itaú projeta que haverá recessão no próximo ano devido ao racionamento de energia. A projeção é de que o PIB encolha 0,5%. E, diante da inflação persistentemente elevada – que chegou a 8,9% nos 12 meses encerrados em julho, segundo o Eurostat (Gabinete de Estatísticas da União Europeia) –, o Banco Central Europeu (BCE) deverá promover novas altas nas taxas referenciais de juros.
Nos Estados Unidos, a inflação – de 8,5% entre agosto de 2021 e julho de 2022 – também está forçando o Fed (o BC americano) a subir os juros. Comida, com as maiores altas desde 1979, e energia estão entre os maiores vilões dos preços na maior economia global. Nesse cenário, o Itaú reviu para baixo a expansão do PIB norte-americano: de 2% para 1,6% em 2022, e de 1% para 0,8% em 2023.
As razões para o desaquecimento da economia chinesa, a segunda maior do mundo, são diferentes: a economia não está reagindo aos estímulos do governo depois da adoção de lockdowns para conter o avanço da Covid-19 e a previsão é de que cresça 3,2% neste ano. A estimativa anterior do Itaú era de 4,2%.
A fraca demanda global e o setor imobiliário fragilizado dificultam um crescimento com maior vigor. “Os dados mais recentes mostram que a China cresce abaixo das expectativas”, diz Nobre, da Warren.
Os economistas do Itaú apontam que, diante desse cenário, o petróleo dificilmente atingirá novas máximas. “Vemos espaço para riscos de queda dos preços, tendo em vista os primeiros sinais de desaceleração econômica e consequente impacto na demanda pela commodity”, destacam em relatório.
Ao mesmo tempo, essa demanda mais frágil dificulta um aumento na oferta da commodity por parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que responde por 35% da oferta mundial, segundo a BP, um grupo britânico do setor energético. “A entidade está relutante em promover altas na produção porque não há previsibilidade de uma forte demanda”, ressalta o analista da Warren.
As perspectivas mais fortes de desaceleração da economia mundial também estão forçando outro movimento, diz Heitor Paiva, analista de petróleo da hEDGEpoint Global Markets: “Traders estão procurando manter distância de ativos mais cíclicos, como é o caso das commodities, por meio do corte de posições”.
O efeito do dólar sobre o preço da gasolina
Outra variável que vai ditar o rumo do preço da gasolina é a cotação do dólar. O barril de petróleo é cotado na moeda norte-americana, que fechou a quinta-feira vendido a R$ 5,172. Segundo projeções coletadas pelo Banco Central no relatório Focus, o ponto médio das expectativas do mercado é de que a taxa de câmbio feche o ano em R$ 5,20.
Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo sinalizam que dois fatores podem influenciar nos rumos do dólar: a questão fiscal e o andamento da campanha eleitoral. “A primeira questão já causou muita turbulência, por causa das questões relacionadas ao teto de gastos”, lembra Nobre.
No entanto, ele destaca que é complicado delinear uma perspectiva para o câmbio. Economistas do Bradesco também reconhecem que a volatilidade das projeções está mais elevada do que a habitual e muito dependente do cenário externo e da política econômica ao longo do próximo ano.
Para a XP Investimentos, o futuro da política fiscal não deve ficar claro até, pelo menos, o fim das eleições presidenciais, em outubro. A corretora trabalha como o cenário de que os juros americanos não passarão de 4% e de que haverá alguma âncora fiscal no próximo mandato presidencial. “Neste cenário, a inflação recua ao longo de 2023, abrindo espaço para o BC cortar juros e o câmbio se estabiliza em torno dos patamares atuais”, afirma texto da XP.
O Itaú avalia que, apesar do movimento de valorização do real desde julho, quando o dólar saiu do patamar de R$ 5,50 para algo em torno de R$ 5,25, o grau de incerteza deve impedir trajetória de apreciação do real ao longo do segundo semestre. A incerteza é tanto externa, associada ao risco de uma desaceleração mais intensa, resultante das altas taxas de juros generalizadas pelo mundo; quanto doméstica, ligada a eventuais iniciativas de redução da arrecadação, sem medidas correspondentes de redução de despesas, apresentando risco para a sustentabilidade fiscal.