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Balança comercial

Preço de commodities desafia política comercial brasileira

A queda nos preços das commodities pode obrigar o Brasil a rever sua estratégia para manter um superávit em sua balança comercial. Dados coletados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) sugerem que a queda nos preços dos bens agrícolas pode reduzir "de forma substancial" o superávit brasileiro. Para deixar a situação dos exportadores brasileiros ainda mais difícil, a Europa acaba de anunciar que terá uma safra que pode bater recordes em 2008, o que deve fazer com que os preços caiam ainda mais.

"O que estamos vivendo é uma correção nos preços das commodities, que estavam altos", explicou Michael Finger, chefe da divisão de estatísticas da OMC. "Com a alta de preços, muitos consumidores deixaram de comprar nos volumes que estavam acostumados, principalmente nos países ricos onde a desaceleração da economia é clara. O resultado é que o mercado se auto-regulou e os preços voltaram a cair", explicou Finger.

Segundo a análise da OMC, mais da metade da alta registrada nas exportações nacionais nos últimos meses ocorreu graças aos preços, e não ao volume exportado. O mesmo já havia ocorrido em 2007. No ano passado, o País registrou um crescimento das exportações de 17% em valor, com US$ 161 bilhões.

Em volume, porém, o Brasil teve uma alta de suas vendas de apenas 6,9% em 2007. Nos primeiros quatro meses do ano, a alta nos preços das commodities salvou as exportações brasileiras e permitiu que o País tenha uma taxa de crescimento em 2008 acima dos índices da China, pela primeira vez em décadas. Em janeiro, as exportações tiveram alta de 20,9%, contra 26,4% em fevereiro. Na China, a alta foi de 21% nos dois primeiros meses.

Mesmo com essa expansão, o superávit já vinha caindo diante do crescimento das importações, uma das maiores entre as principais economias do mundo nos últimos seis meses. Agora, sem o fator preço, o cenário promete ser bem diferente. "A expansão das exportações brasileiras pode não ocorrer nas mesmas taxas. O pico nos preços das commodities pode ter passado", afirmou Finger.

Safra

Outro fator que deve atrapalhar as exportações brasileiras deve ser a retomada da boa safra na Europa em 2008. "Os produtos, incentivados pelos preços, plantaram mais e as perspectivas de safra na Europa são muito boas neste ano", disse Finger.

Segundo dados da União Européia (UE), a safra de alimentos neste ano será 16% superior à de 2007. No ano passado, o clima pouco propício foi um dos motivos que levou à alta nos preços dos alimentos. Mas a previsão de 2008 está ainda bem acima da média de crescimento da safra nos últimos cinco anos. Em comparação à média da década, a alta é de 9%.

No setor de trigo, a safra deve ser 10,4% superior em 2008 em comparação com 2007. Em relação aos últimos cinco anos, a alta é de 6,1%. A produção de milho será 20,1% maior neste ano em comparação a 2007. O açúcar de beterraba deve sofrer um incremento de produção de 19% em relação aos últimos cinco anos, principalmente na Alemanha e França. "O resultado desse novo cenário pode ser uma queda substancial no superávit brasileiro", disse Finger.

Representando apenas 1,2% do comércio mundial, o Brasil precisaria se concentrar em garantir uma maior competitividade de seus setores produtivos para não depender os preços dos produtos de base. "A bonanza nos preços das commodities não duraria mesmo para sempre", disse Finger. O alerta se refere principalmente os impactos do real valorizado para as exportações dos produtos fora do setor agrícola. Para a OMC, o Brasil precisa tomar medidas para garantir maior competitividade, melhor infra-estrutura e produtividade para compensar o câmbio.

Ranking

O resultado, por enquanto, é que o País continua patinando no ranking dos maiores exportadores do mundo. Mesmo que tenha subido uma posição - ocupa hoje a de número 23 - e incrementado sua fatia no comércio internacional em 0,1% em um ano, a participação de 1,2% no mercado mundial é inferior às taxas apresentadas pelo País em décadas passadas. Países relativamente pequenos como Áustria, Suécia e Suíça continuam com maior participação no comércio mundial que a economia brasileira.

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