São Paulo - A queda nos preços do boi gordo em 2009 é comparável à desvalorização registrada em 2005, quando focos de febre aftosa identificados no Paraná e no Mato Grosso do Sul afetaram significativamente o mercado de carne. De janeiro até agora, as cotações do boi gordo, medidas pelo indicador Esalq, recuaram 12,5%, enquanto no acumulado de 2005 a desvalorização registrada foi de 14,2%.
A diferença com 2005 é que os patamares de preços estão em níveis diferentes. Enquanto em 2005 a arroba chegou a ser negociada abaixo de R$ 50, hoje, os preços praticados estão pouco acima de R$ 75. "O mercado está encontrando seu equilíbrio após ter concluído um ciclo de forte valorização, ocorrido em 2008", afirma Élio Micheloni, analista da Arkhe Corretora. Em junho do ano passado, o indicador Esalq atingiu seu patamar mais elevado da série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), quando foi cotado a R$ 94,41 por arroba.
A expectativa do mercado para este ano era de que os preços continuassem a subir. Alguns consultores chegaram a arriscar que a cotação da arroba superaria os R$ 100 diante de uma redução do rebanho e constante evolução dos volumes exportados mensalmente. A crise financeira internacional e um conjunto de outros fatores interromperam a alta e os preços começaram a cair no mercado interno.
Apesar do recuo das cotações, o setor ainda estava otimista, considerando 2009 o ano da retomada dos investimentos na atividade. Reforma de pastagem, cercas, ampliação do número de confinamentos, investimentos em genética e nutrição eram esperados para este ano, já que desde a crise de 2005 a manutenção deixou de ser feita.
Entre 2006 e 2008, a valorização das cotações foi usada pelos pecuaristas para recompor os rebanhos, que foram, em parte, desfeitos por causa dos baixos preços que vinham sendo praticados no mercado naquela ocasião. Para Luciano Vacari, superintendente da Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat), os investimentos que estavam previstos para a pecuária do estado neste ano foram adiados. "Existia uma expectativa que este ano seria de recuperação, mas o pecuarista só investe quando sobra alguma coisa. No momento, ainda não estamos com prejuízo, mas também não está sobrando para investir", afirma Vacari.
Apesar de também não prever um cenário de descarte de matrizes nem de perdas elevadas para o pecuarista, o consultor José Vicente Ferraz considera que o setor passará por mudanças. Para ele, a concentração e o fortalecimento da indústria no Brasil farão com que apenas grandes produtores tenham uma relação mais próxima com os frigoríficos.