O preço do salmão no Brasil já é afetado por um “surto” de algas marinhas no Chile, que, influenciado pelo fenômeno climático El Niño, matou 25 milhões de peixes (o equivalente a 40 mil toneladas) entre fevereiro e março, segundo o Sernapesca (Serviço Nacional de Pesca e Aquicultura chileno).
Em março, um quilo de salmão na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) era vendido, em média, por R$ 28, um aumento de 32,6% em relação ao mesmo período de 2015, quando valia R$ 21,63. Na comparação com fevereiro, quando o pescado era vendido a R$ 26,12 o quilo, a alta foi de 7,2%.
Segundo o economista Flavio Goda, chefe da seção de economia e desenvolvimento da Ceagesp, não há perspectiva de redução de preços no curto prazo. O Chile é o segundo maior produtor mundial do peixe, atrás apenas da Noruega, e tem no Brasil o seu terceiro maior mercado.
Ivan Lasaro, presidente da Andip (Associação Nacional dos Distribuidores e Importadores de Pescados), que esteve no Chile para conversar com autoridades e produtores, classificou a situação como “dramática” e disse que o impacto nos preços deve ser ainda maior nas primeiras semanas de abril. Ele prevê uma alta de até 40%, seguindo o aumento visto no mercado norte-americano nas duas últimas semanas.
“Os Estados Unidos, maior comprador de salmão do Chile, manda nos preços. Os mercados são vasos comunicantes, os preços tendem a se equivaler, e, para as negociações de abril entre Brasil e Chile, fala-se em um reajuste igual. E esse é aumento muito forte para nós absorvermos”, diz.
A oferta também é afetada. Segundo Lasaro, o Brasil importa, em média, 1.600 toneladas por semana de salmão fresco do Chile. “Prevemos que esse volume caia até 30%”, afirma.
Distribuidores não acreditam em desabastecimento, mas temem que os preços fiquem impraticáveis. “A nossa estimativa é que em 30 dias o salmão fresco inteiro chegue a R$ 40, e o filé, a R$ 50. Estou há mais de 25 anos no mercado de peixe e nunca vi uma situação tão grave”, conta Hélio Siniscalchi Júnior, da Orca Pescados.
Os donos de restaurantes também estão preocupados, diz Percival Maricato, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) em São Paulo. “Essa situação pode se refletir no cardápio, com a troca do salmão por outro peixe, para os estabelecimentos que têm essa possibilidade. Quem não pode fazer isso, vai ter que subir os preços.”
Em comunicado, o Intesal (Instituto Tecnológico do Salmão), ligado à SalmonChile (Associação da Indústria de Salmão do Chile), afirma que o caso não se trata do fenômeno conhecido como “maré vermelha” -proliferação de algas que produzem e liberam substâncias tóxicas. Logo, não tem efeito prejudicial à saúde.